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ENTREVISTA/YEDA CRUSIUS
Para sanar déficit, governadora tucana quer deixar funcionários sem aumento por três anos e também cortar benefícios fiscais
"Ajuste será feito com aumento zero de salário"
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DERROTADA
na intenção
de aumentar
alíquotas do
principal imposto do Estado e com um déficit de
R$ 1,3 bilhão nas contas
públicas, a governadora
do Rio Grande do Sul Yeda Crusius (PSDB) diz
que não tem alternativa
senão congelar os salários dos servidores por
três anos, reduzir investimentos e cortar -por decreto- benefícios fiscais
das indústrias gaúchas.
"O Tesouro do Estado só vai
poder cobrir telhado de escola e
consertar canos. O Estado ficou
mais pobre", disse Yeda. Apesar de não ter garantido o pagamento do 13º salário dos servidores, ela calcula que vai equilibrar as contas do Estado até o
fim do mandato.
Aposta ousada para quem foi
questionada por amigos se o
governo havia terminado após
a Assembléia Legislativa rejeitar por 34 votos a zero a proposta do governo de aumentar
o ICMS, no último dia 14.
Em entrevista à Folha, Yeda
admite que pensava em aumento de imposto já na campanha eleitoral.
FOLHA - A visita a Brasília aliviou a
crise financeira do Estado?
YEDA CRUSIUS - O saldo foi insuficiente. Tenho um déficit de
R$ 1,2 bilhão, incluindo o pagamento do 13º salário, que pretendo pagar com um empréstimo do Banrisul. Os R$ 200 milhões com que o governo federal acenou são novidade. Também foi reiterado o compromisso de aval a um empréstimo
do Banco Mundial para reestruturar a dívida do Estado.
Mas vamos batalhar pelo ressarcimento dos investimentos
feitos nas estradas. Chegamos
ao fim do ano no sufoco.
FOLHA - O ritmo da negociação
com o governo federal pode levá-la
a trabalhar contra a aprovação da
CPMF no Congresso?
YEDA - Uma coisa não tem a ver
com a outra. Quero que a aprovação da CPMF resulte em benefício para o RS. O mais grave
foi a contaminação política pelo debate do terceiro mandato.
FOLHA - Não basta Lula dizer que
não quer um terceiro mandato?
YEDA - A discussão partiu de
um deputado do PT. É o PT que
tem de dizer com provas que
não quer e retirar o projeto.
FOLHA - A sra. acaba de sofrer uma
derrota na Assembléia Legislativa. O
Estado ficou ingovernável após o veto ao aumento do ICMS?
YEDA - Não, estamos fazendo
as mudanças estruturais. A parte do governo na venda de
ações sem direito a voto do Banrisul -R$ 1,3 bilhão-, eu coloquei como fundo de reserva
para pagar os aposentados. Os
aposentados consomem 52%
da folha. Só no ano que vem,
vou pagar a eles R$ 160 milhões
tirados desse fundo. Outra mudança estrutural, além do corte
de gastos, diz respeito ao pagamento da dívida. Comprometemos 18% da receita líquida nisso. Vamos ser o primeiro Estado a reestruturar a dívida.
Eu vou zerar o déficit, só que
vai ser em três. O investimento
do governo é quase zero: R$ 11
milhões. Feliz do [José] Serra
que tem R$ 11 bilhões.
FOLHA - O Orçamento de 2008 tem
R$ 30 milhões para investimentos?
YEDA - A proposta era de R$
230 milhões. Com o que eu iria
buscar, dava investimento de
R$ 900 milhões. Agora o Tesouro só vai poder cobrir telhado de escola e consertar cano e
coisas assim. Sinto muito, mas
o Estado ficou mais pobre.
FOLHA - Foi um mau passo?
YEDA - Não. Enviamos as propostas à Assembléia logo depois do Orçamento, que previa
déficit de R$ 1,3 bilhão. Por 40
dias, discutimos com a sociedade um conjunto de cinco projetos de lei. Os mais importantes,
que foram rejeitados, pretendiam controlar despesas.
FOLHA - Foi uma resposta à quebra
de uma promessa de campanha?
YEDA - Não vou escrever num
plano de governo que vou aumentar imposto. O resto ninguém lê. E repito o que disse na
campanha: a crise não se cura
por aumento de imposto, mas
por um amplo leque de medidas. Se foi entendido que eu havia prometido que não ia aumentar imposto, faço mea-culpa, não me expressei direito.
FOLHA - A senhora vai mexer nos
incentivos fiscais?
YEDA - É uma pauta, embora
minha margem seja pequena.
Há um decreto que restitui
ICMS quando a prestação de
contas da empresa é por crédito
presumido. Eu, por decreto,
vou ter de cortar. Sinto muito,
mas líderes empresariais que
foram discutir na Assembléia
cometeram suicídio. Eu avisei:
vou ter de tirar de algum lugar.
FOLHA - O Estado teve risco de ir à
bancarrota?
YEDA - Esteve perto. Mas o Supremo me deu ganho de causa
quando os servidores quiseram
seqüestrar os recursos para a
folha. Teria bancarrota pois,
sem a redução do déficit, não
estaria pagando salários, e isso
pára o Estado. Vou ter de fazer
as pessoas pagarem com um
pouco mais de dor. O ajuste será feito com corte no crédito
presumido, baixo investimento
e aumento zero para o funcionalismo por três anos.
FOLHA - Como a senhora pretende
resolver a crise política?
YEDA - Reconstruindo a base.
Vou ter de recomeçar do zero.
Quem é contra o projeto de governo entrega os cargos.
FOLHA - Mas não houve votos a favor da proposta do governo.
YEDA - Quando veio os 34 votos a zero contra a proposta, recebi telefonemas achando que
havia terminado o governo. São
55 votos, eu tenho a maioria.
No dia da votação, a base aliada
deveria sair de plenário para
ganharmos uma semana para a
discussão, mas 38 deram quórum. O zero expressa o lado fiel
da base. Quem foi contra? Deputados do PTB, PMDB, PT,
PPS e do PSDB. Não vou mais
discutir com partidos. Vou negociar com os deputados.
FOLHA - E a sucessão de 2010?
YEDA - Ah, não estou nem pensando nisso. Eu preciso fazer
reforma, o que vier depois...
FOLHA - Na sucessão nacional,
apoiará José Serra ou Aécio Neves?
YEDA - A unidade do partido. E
vai haver uma disputa interna
permanente, o que é saudável.
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