São Paulo, sábado, 26 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DF emprega mais comissionados sem concurso que União

Mesmo com um quinto dos funcionários, governo Arruda tem 12% mais não concursados que administração federal

Grande número de cargos para livre nomeação explica manifestações de apoio ao governador, investigado no caso do mensalão do DEM


FERNANDA ODILLA
LARISSA GUIMARÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo de José Roberto Arruda (sem partido) tem mais funcionários sem concurso ocupando cargos de confiança que a União. Levantamento da Folha mostra que o governo do Distrito Federal tem 8.660 comissionados, e a União, 5.560.
Mesmo tendo cerca de um quinto dos funcionários na ativa do que tem o governo federal (184 mil contra 913 mil), o governo do DF tem 12% a mais de pessoas que não fizeram concurso e ocupam cargos de chefia, assessoramento e direção.
Esse exército é um dos trunfos de Arruda para se manter no poder, já que 63 dos 84 órgãos do DF contrariam a lei ao entregar a trabalhadores sem concurso mais da metade dos cargos comissionados.
A bancada do PT na Câmara Legislativa pediu investigação à Procuradoria-Geral da República sobre o uso de funcionários comissionados em manifestações pró-Arruda na cidade. "Arruda transformou o governo do DF num grande comitê eleitoral", afirma o deputado distrital Paulo Tadeu (PT).
Na maioria das administrações regionais (espécies de subprefeituras no DF), até funções como recepcionista e arquivista entram na folha de pagamento com cargo de chefia, diretoria e assessoramento.
Todas as 25 administrações têm mais de 90% dos cargos de confiança nas mãos de funcionários sem vínculo empregatício, de acordo com levantamento junto ao "Diário Oficial" do DF de setembro deste ano.
A legislação prevê que pelo menos 50% do total de cargos comissionados precisa ser ocupado por servidores concursados. Hoje o DF tem 16.555 ocupantes de cargos de confiança -52% nas mãos de comissionados- e a União tem 19.330.
A análise do quadro de pessoal de cada órgão também indica que a maioria (75%) não segue a lei. "A proporção de 50% deveria ser respeitada em órgão por órgão porque cada um tem vida e estrutura própria", afirma o promotor Ivaldo Lemos, autor de oito ações contra o cabide de empregos.
O governo Arruda justifica que considera o número global, e não por unidade. Informa ainda que o balanço é publicado trimestralmente e que ajustes estão sendo feitos.
Além das administrações, 12 secretarias também registram maior número de funcionários sem vínculos com cargos de confiança. A pasta que mais emprega sem concurso é a de Trabalho. O secretário de Trabalho, Rodrigo Delmasso, argumenta que o órgão foi recriado em 2008 e, por ser novo, teve de recorrer a não concursados.
Segundo ele, já está em andamento um concurso para a contratação de 350 servidores.

Indicação
Os cargos de confiança costumam ser preenchidos por indicação política e, para manter o emprego, os ocupantes dessas funções têm se manifestado publicamente em defesa do governador Arruda. O funcionário do governo Valter Soares Leite, por exemplo, é chefe de gabinete em uma das administrações regionais e defensor ferrenho de Arruda.
Segundo ele, a indicação para o cargo partiu do próprio governador. "Faço campanha para ele há 12 anos", afirma.
Leite diz acreditar que Arruda é vítima de perseguição política e que, assim como outros funcionários em cargo de confiança, espera que o governador "saia desse momento delicado". "Aqui na administração temos muito comissionados, mas todos são qualificados para o trabalho", justifica.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Nem Lula no "topo" ajuda PT no Sudeste
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.