|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Nem Lula no "topo" ajuda PT no Sudeste
Partido corre risco de não eleger governador em nenhum dos 3 Estados mais importantes da região, onde está a maior fatia do eleitorado
PSB se converte na quarta
força nos Estados, depois de
PSDB, PMDB e PT; DEM, em
declínio, não tem nomes de
peso para ressurgir em 2010
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem a popularidade
mais alta entre todos os ocupantes do Palácio do Planalto
pós-ditadura militar (1964-1985). Mas o seu partido, o PT,
continua a patinar em grandes
centros quando se trata de disputar governos estaduais.
Nos três mais importantes
Estados da região Sudeste, que
concentram a maioria do eleitorado, de novo os petistas correm o risco de não eleger nenhum governador em 2010.
Nunca um petista governou
São Paulo ou Minas Gerais. No
Rio de Janeiro, só houve uma
fugaz experiência com Benedita da Silva, que era vice-governadora e assumiu a cadeira de
titular por nove meses, a partir
de abril de 2002, porque Anthony Garotinho renunciou para concorrer a presidente.
Em 2010, o PT dá a largada
no processo eleitoral sem nenhum candidato considerado
competitivo em São Paulo. "Já
sabemos que ali não ganhamos.
Teremos de 30% a 35%", tem
dito, de maneira resignada, o líder do PT na Câmara, o paulista
Cândido Vaccarezza.
No Rio, a direção nacional do
partido se esforçou nas últimas
semanas para eliminar as chances do único quadro partidário
interessado na disputa, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg
Farias. Na eleição do diretório
fluminense, venceu a corrente
contra a candidatura própria. O
partido caminha para apoiar a
tentativa de reeleição do governador Sérgio Cabral (PMDB).
Em Minas Gerais, o PT tem
dois postulantes conhecidos ao
Palácio da Liberdade: o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome) e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel.
Mas uma parcela da cúpula
petista prefere ficar fora da disputa. Acha melhor apoiar o pré-candidato do PMDB, o ministro Hélio Costa (Comunicações), pois assim haveria um
palanque mineiro mais sólido
para Dilma Rousseff, que concorrerá a presidente pelo PT.
Há uma opção preferencial
no PT pelo projeto nacional, de
manter a legenda no comando
do Palácio do Planalto. Várias
concessões deverão ser feitas
em nome desse projeto, comandado por Lula.
Terceira força
Com essa participação anêmica em eleições estaduais, o
PT deve se manter em terceiro
lugar quando se considera o
número de eleitores governados localmente, atrás de PSDB
e PMDB, nessa ordem. A posição foi conquistada em 2006,
quando a sigla foi vitoriosa em
cinco Estados: Acre, Bahia, Pará, Piauí e Sergipe.
Desses, só a Bahia tem relevância de primeira grandeza,
pois abriga 9,3 milhões de eleitores (7% do total do país). Essa
massa de eleitores supera o total somado (8,6 milhões) de todos os outros quatro Estados
governados por petistas.
A maior conquista do PT em
2006 foi imposta sobre um adversário marginal hoje no jogo
nacional, o DEM (antigo PFL).
O partido, sob o comando de
Antonio Carlos Magalhães,
morto em 2007, governava a
Bahia desde 1990 até ser desalojado por Jaques Wagner.
No momento, o DEM não
tem nenhum governo estadual.
Havia vencido no minúsculo
Distrito Federal (1,8 milhão de
eleitores e só 1,3% do total do
país). Mas o governador de Brasília, José Roberto Arruda, acabou sendo carbonizado por um
esquema de mensalão descoberto em novembro. Pressionado, saiu da legenda.
Não há neste final de 2009
pesquisas eleitorais recentes
para todos as unidades da federação. A Folha considerou o
que há disponível e compilou
os dados nesta página -sempre indicando o instituto responsável pelo levantamento, a
data da coleta das informações
e as margens de erro. Quando
se levam em conta esses cenários, nota-se que o DEM tem
como maior perspectiva a eleição da senadora Rosalba Ciarlini para o governo do Rio Grande do Norte -só 2,2 milhões de
eleitores (1,7% do país).
O DEM também tem esperança na Bahia, Mato Grosso,
Santa Catarina, Sergipe e Tocantins. Mas ninguém na sigla
imagina ser possível voltar aos
tempos áureos de 1998, quando
ainda se chamava PFL e conseguiu eleger seis governadores
para comandar 19% dos eleitores brasileiros -Amazonas,
Bahia, Maranhão, Paraná, Rondônia e Tocantins.
Com a desidratação do DEM,
oposição no Brasil em disputas
estaduais agora se resume, em
grande parte, ao PSDB. O partido continua sólido no Sudeste,
sobretudo por causa da hegemonia obtida em São Paulo
desde 1994, com a vitória de
Mário Covas (1930-2001).
De lá para cá, só tucanos
sempre estiveram à frente dos
29,5 milhões de eleitores paulistas (22,4% do país).
Segundo o Datafolha, Geraldo Alckmin, pré-candidato do
PSDB ao Palácio dos Bandeirantes, pontua de 50% a 54% e,
se a eleição fosse hoje, venceria
no primeiro turno.
Em Minas Gerais, o tucano
Aécio Neves está em campanha
aberta para fazer de seu vice,
Antonio Anastasia -um técnico nunca testado nas urnas-, o
sucessor no Palácio da Liberdade. Na última pesquisa Datafolha, apesar de não ser um político conhecido, Anastasia já
pontua acima dos 10% em todos os cenários.
De 1994 até hoje, o PSDB foi
em todas as eleições o líder em
número de eleitores governados nos Estados, pois sempre
foi vitorioso nos maiores colégios. Em 1994, ano de lançamento do Plano Real (que iniciou a estabilização da economia), os tucanos foram bem sucedidos no chamado "triângulo
das Bermudas" da política brasileira, composto por São Paulo, Rio e Minas Gerais -55 milhões de eleitores, o equivalente 42% do total do país.
Naquele ano, Fernando Henrique Cardoso também foi eleito presidente da República. No
plano estadual, além dos três
do Estados do Sudeste, o PSDB
conquistou Ceará, Pará e Sergipe -foi o suficiente para somar
66,7 milhões de eleitores
(50,6% do país). Como em 1998
os tucanos perderam Minas
Gerais e Rio de Janeiro, nunca
mais uma sigla conseguiu tamanha supremacia eleitoral
quando se consideram, juntos,
a Presidência e os principais
governos estaduais.
Em 2010, o PSDB deve entrar com candidatos competitivos em oito Estados, mas sofre
desde já um grande revés no
Rio Grande do Sul. A governadora gaúcha, a tucana Yeda
Crusius, enfrentou uma bateria
de acusações e uma ameaça de
impeachment. Ficou no cargo,
mas sua popularidade se liquefez: tem apenas 5% das intenções de voto, segundo o Datafolha, e é a governadora que tem
pior avaliação no ranking estadual do instituto, em 10º lugar.
Antes, os tucanos também já
tinham perdido a Paraíba. O
Estado era governado por Cássio Cunha Lima, que vencera o
pleito em 2006. Acusado de
utilizar programas sociais para
a distribuição irregular de dinheiro, via cheques, ele foi cassado pela Justiça Eleitoral no
início deste ano. A cadeira foi
para José Maranhão (PMDB).
Os coadjuvantes
Enquanto PT e PSDB disputam a Presidência da República, dois partidos -PMDB e
PSB- ficam de coadjuvantes
do processo nacional, mas vão
consolidando a força estadual.
Hoje, o PMDB tem nove Estados cujo eleitorado somado é
de 36,9 milhões (28% do país).
No plano federativo, portanto,
tem mais peso que o PT.
O PSB só tem três governadores (Ceará, Pernambuco e
Rio Grande do Norte), mas é a
quarta maior sigla do país
quando se trata de eleitores governados: 14 milhões (10,6%).
Em Pernambuco, o atual governador, Eduardo Campos, lidera todas os cenários pesquisados pelo Datafolha e tem
chances de vitória no primeiro
turno. "O PSB também fará
uma bancada perto de 50 deputados na Câmara em 2010", diz
Campos, que também é o presidente nacional do PSB.
No PMDB, os levantamentos
eleitorais disponíveis mostram
que o partido pode até ampliar
o número de governos relevantes. Tem, por exemplo, candidatos competitivos em Minas
Gerais e no Rio Grande do Sul,
hoje sob domínio tucano.
Uma possível perda para o
PMDB deve ser o Paraná. O
atual governador, Roberto Requião, quer lançar como sucessor o seu vice, o também peemedebista Orlando Pessuti
-mas ele não passa de 5% na
pesquisa Datafolha.
Em todos os cenários atuais,
ainda muito preliminares, já é
possível enxergar pelo menos
um fato que diferencia 2010 de
2006 em termos de disputas estaduais. No ano que vem, o presidente Lula e sua candidata ao
Planalto, Dilma Rousseff, entrarão em campanha com mais
da metade dos governadores
atuais como aliados do governo
federal. Há quatro anos, a situação era inversa, com a maioria
dos governadores trabalhando
contra a reeleição de Lula.
Texto Anterior: DF emprega mais comissionados sem concurso que União Próximo Texto: Em ano de crise, 40% desaprovam Congresso Índice
|