São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2004

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NO GABINETE

José Alencar é acusado de tentar burlar concurso público no Rio

Procuradoria vai apurar se vice quis favorecer médico

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério Público Federal vai investigar a eventual responsabilidade do gabinete da Vice-Presidência da República na tentativa de favorecer a contratação de um médico residente burlando classificação em concurso público.
Segundo reportagem exibida anteontem pelo programa "Fantástico", da Rede Globo, um ofício encaminhado pela Vice-Presidência ao Into (Instituto de Traumato-Ortopedia), no Rio de Janeiro, pede "especial atenção" para um médico residente em concurso aberto pelo órgão para vagas de médicos residentes.
O procedimento administrativo foi instaurado ontem e tem a assinatura de seis procuradores que atuam em Brasília. Os primeiros ofícios requisitando informações serão despachados hoje, com prazo de dez dias úteis para a apresentação das respostas.
"A reportagem [do Fantástico] sugere uma tentativa de favorecimento. Precisamos investigar para saber, à luz da Constituição e da Lei de Improbidade Administrativa, o que aconteceu e quem são os responsáveis", afirmou o procurador Eduardo Pelella, um dos que assina o procedimento.
Os pedidos de informação serão encaminhados à direção do Fantástico, ao chefe-de-gabinete do vice-presidente José Alencar, Adriano Silva, e também ao próprio vice. O ofício destinado a Alencar será intermediado pela Procuradoria Geral da República, pois os procuradores de primeira instância não têm atribuição para requisitar informações diretamente ao vice-presidente.
Conforme a reportagem, o advogado aposentado Geraldo Pereira do Valle enviou, em outubro de 2003, uma carta para o advogado Ronaldo Dornellas de Assis Ribeiro, cunhado de Alencar e ex-funcionário da Vice-Presidência. Valle pede ajuda para que o neto, André do Vale Teves, consiga a vaga de residente no Into, ligado ao Ministério da Saúde.
O concurso teve 117 inscritos para seis vagas. O neto do aposentado ficou na 70ª colocação e não ingressou nos quadros do Into.
Em novembro, no ofício 1.895, em papel timbrado da Vice-Presidência da República, o chefe-de-gabinete de Alencar solicita "a gentileza de examinar com especial interesse o pleito em anexo", referência à carta do aposentado pedindo o benefício para o neto.
O diretor do Into, Sérgio Luís Côrtes, disse ontem que é comum receber pedidos de políticos. "Por dia, recebemos de 10 a 15 pedidos de atendimento. Criei uma resposta padrão, informando que não há possibilidade de privilegiar alguém. Esse pedido, no entanto, foi sui generis", afirmou.
Ele não acredita que o vice-presidente conhecia o teor do pedido. "O ofício veio assinado apenas pelo chefe-de-gabinete", afirmou.

Transplante
O MPF estuda a possibilidade de abrir uma investigação sobre uma suposta tentativa de Alencar de interceder em favor de uma paciente candidata a transplante de medula óssea, revelada pelo médico Daniel Tabak, que fez a denúncia ao pedir demissão do cargo de diretor do Cemo (Centro de Transplante de Medula Óssea) do Instituto Nacional do Câncer.


Colaborou a Sucursal do Rio

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