São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Alegria, alegria

Para a Globo, o Fórum Social se confunde com Woodstock. Num dos relatos da abertura, ontem:
- Muitos jovens de todos os cantos do mundo... Eles chegaram e querem alegria, irmandade, solidariedade. A moda no Fórum Social é carregar a casa nas costas, em mochilas. Para os estrangeiros, tudo é novidade. Colares de sementes brasileiras e anéis de coco são perfeitos para compor o visual. Na hora da refeição, a cozinha é comunitária e a comida vegetariana é a cara dessa tribo.
E por aí foi. Do Jornal Nacional, sobre "a caminhada de 200 mil, pela paz":
- Diversidade traduzida em cores e sons.
 
Em contraste, nos sites alternativos, só política.
O Carta Maior já entrevistou do sociólogo alemão Robert Kurz ao ex-secretário paulistano Marcio Pochman, sem falar das reportagens dos fóruns preparatórios, sem parada desde a semana passada.
O Centro de Mídia Independente ou Indymedia está mais lento em cobertura, mas seu blog paralelo acompanha em detalhe -e com uma abundância de fotos de celular- as várias seitas que se digladiam em Porto Alegre.
 
Nos blogs, propriamente, os primeiros registros trazem as críticas esperadas. No Intermezzo, por exemplo:
- No início do século 21, com centenas de milhões de pessoas conectadas, [não é possível] realizar um fórum mundial em formato pré-digital.
Era um ataque ao site do próprio fórum, "exemplar em credenciamento e hospedagem", mas que em "conteúdo não tem praticamente nenhuma dimensão digital".


Na Globo, cenas dos "jovens de todos os cantos", no "mix de culturas do território livre do Fórum Social"


Páginas e mais páginas

Os jornais franceses, como esperado, publicaram três, quatro reportagens cada um, sobre Porto Alegre. O "Le Monde" deu até artigo de Lula, "traduzido do inglês". O "Libération" fez editorial.
Mas a coisa toda não se restringiu à França.
Mais do que em fóruns sociais passados, o deste ano ocupou páginas do "New York Times", que adiantou seu texto anteontem no site, ao "La Vanguardia", de Barcelona -sem contar as publicações de países emergentes e outros.
Em muitas das reportagens, o destaque foi que Lula é mais bem-vindo em Davos, para o Fórum Econômico, do que em Porto Alegre.
 
Na televisão globalizada, em contraposição, pouco tempo para Porto Alegre e toda a atenção para Davos.
Os canais de notícia CNN, BBC e Fox News entraram ao vivo com o pronunciamento do primeiro-ministro britânico Tony Blair, que defendeu a reaproximação dos EUA com o restante do mundo.
Sobre pobreza, pouca coisa. O presidente francês, Jacques Chirac, cancelou a viagem à Suíça e fez sua mensagem por videoconferência.

Antes no JN
Definitivamente, a "discrição" ficou para trás na diplomacia brasileira. Primeira manchete do JN, ontem:
- Os pedidos para a libertação do brasileiro seqüestrado recebem reforço. Desta vez, o craque Ronaldo.
Primeiro ele pediu "piedade" na Globo, só depois na Al Jazira, aos interessados.

Lá atrás
O mexicano "La Crónica de Hoy" destacou quase sozinho, ontem, o levantamento da consultoria Miftosky sobre os chefes de governo com maior aprovação, no mundo.
Na América Latina, Lula, que liderava a relação no ano anterior, caiu para o novo lugar. Na frente está o presidente do Panamá. O argentino Néstor Kirchner é o terceiro.

O foco
E vem aí, daqui a menos de um mês, mais um encontro mundial -com Lula lá.
"A presença de Brasil, África do Sul, Índia" e outros países em desenvolvimento na reunião do G7, o grupo dos países mais industrializados, indica que "o desenvolvimento e não a política monetária será o foco das discussões", avaliava a agência Dow Jones, ontem.

Donna
No "Miami Herald", também ontem, a ex-embaixadora dos EUA Donna Hrinak avaliava que o convite do G7 "é reconhecimento concreto do papel de liderança a que o Brasil aspira legitimamente".
"Por tempo demais, os protagonistas do mundo descuidaram do Brasil como ator global", completou Hrinak.


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