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FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL
Ministro e outros líderes latino-americanos dizem que região cresce pouco, demora a produzir resultados e perde espaço para asiáticos
Brasil está perdendo o momento, diz Furlan
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
O ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior) admitiu ontem publicamente que o Brasil
"está perdendo momento" na cena internacional, na comparação
com as duas grandes estrelas globais da atualidade, a Índia e a China.
"China e Índia não são mais
avançadas, mas a velocidade delas
é maior que a nossa", afirmou
Furlan, ao final de um almoço sob
o tema "Brasil e México - locomotivas gêmeas para o crescimento".
O ministro incluiu o México ao lado do Brasil como país que perde
espaço global.
Furlan ainda tentou listar as
vantagens comparativas dos dois
países latino-americanos sobre os
dois gigantes asiáticos. Citou a
"cultura" e disse: "Não precisamos ajustá-la aos padrões europeus e norte-americanos".
Citou a estabilidade política,
acoplada ao fato de que México e
Brasil adotaram "o caminho duro
da democracia", sem mencionar
diretamente o fato de que a China
é um regime autoritário ou de que
a Índia se proclama a maior democracia do mundo.
Lembrou também que Brasil e
México vivem em paz com os vizinhos, alusão velada ao conflito Índia/Paquistão.
Mencionou também a liberdade
de imprensa, como se ela não
existisse igualmente na Índia.
Por fim, citou a auto-suficiência
em energia e a abundância de
água no Brasil, recurso que se torna mais e mais valioso.
Mas não teve outro remédio se
não admitir que "crescimento é a
palavra-chave" e, nesse campo,
"eles se comportam melhor".
Passou, então, a listar os problemas que vê no Brasil e no Chile ou
mesmo no conjunto da América
Latina:
1 - Carência de infra-estrutura.
Furlan acha que a do Brasil "ainda
é melhor, mas eles estão se movendo mais rápido".
2 - Educação, "talvez o fator
mais importante". É alusão ao fato de que todos os especialistas,
internacionais ou indianos, dizem que o fator-chave para a ascensão da Índia é a educação de
sua gente.
3 - Brasil e México não estão
"atraindo suficiente investimento
internacional".
Mas Furlan acha que, do ponto
de vista da cultura político-empresarial, a grande diferença entre
Brasil/México e Índia/China é "o
compromisso de produzir resultados ["deliver", em inglês]".
Contou, a propósito, um encontro com o presidente mexicano,
Vicente Fox, então recém-eleito
(ano 2000). Fox lhe disse que faria
uma reforma tributária. Furlan
perguntou quando a reforma estaria em vigor. Resposta: "em
abril".
Já como ministro, no ano passado, Furlan cruzou de novo com
Fox e cobrou a reforma tributária
prometida para abril de 2000. Fox
respondeu: "Eu disse abril, mas
não disse o ano".
É essa a falta de compromisso
com os resultados concretos (o
"deliver") que o ministro enxerga
nos latino-americanos, brasileiros incluídos.
José Carlos Grubisich, executivo-chefe da petroquímica brasileira Brasken, preferiu apontar
outro ângulo para a pouca atenção que se dá ao Brasil, ao México
e à América Latina: "falta ambição".
Citou, então, o fato de que os juros estão caindo (no Brasil), "mas
não muito", assim como os investimentos estão sendo feitos, "mas
não muito".
Choradeira
O almoço em que Furlan apareceu sem estar originalmente na
agenda acabou se transformando
numa grande mesas de lamentações sobre o desaparecimento da
América Latina da agenda de Davos.
José Grubisich, da Brasken, disparou: "Ninguém [em Davos] fala
de Brasil, ninguém fala de México".
O ex-presidente mexicano Ernesto Zedillo ainda tentou fazer o
jogo do contente, ao lembrar,
com razão, que a América Latina
em anos anteriores fora o centro
das atenções "pelas razões erradas" (ou seja, pelas sucessivas crises políticas, econômicas, sociais
ou financeiras que o subcontinente viveu).
Mas teve que reconhecer que a
presente estabilidade "não é suficiente". "Crescimento é a questão
central", afirmou.
Enrique García, presidente da
CAF (Corporação Andina de Fomento), foi pelo mesmo caminho,
ao dizer que o crescimento de 3%
ou 4% dos países da região é comparativamente ruim, ante os números portentosos de China e Índia (no mínimo o dobro).
Lembrou ainda que tanto Brasil
quanto México caíram no mais
recente ranking de competitividade elaborado sob encomenda do
Fórum Econômico Mundial.
José Miguel Insulza, que foi ministro do governo Ricardo Lagos
no Chile e hoje é secretário-geral
da OEA (Organização de Estados
Americanos), fechou a lista de lamentos:
"Tenho a sensação de que eles
[Índia e China] têm o sentido exato de para onde estão indo, ao
passo que nós não sabemos. Sonhamos muito, falamos muito,
mas não fazemos" (o mesmo "deliver" de que se queixara Furlan).
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