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Déficit da Previdência não preocupa, diz Lula
Presidente atribui problema à opção "social" da Constituição de 88, que estendeu benefícios a segmentos desassistidos pelo Estado
A respeito da taxa de juros, petista diz que ela não cairá "num passe de mágica" e que é preciso antes conquistar a confiança do mercado
DOS ENVIADOS A DAVOS
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou ontem no
Fórum Econômico Mundial
em Davos, na Suíça, que não
tem preocupação com o déficit
do sistema previdenciário brasileiro.
Já sobre a taxa de juros, ao
ser provocado por um empresário mexicano após sua apresentação, o presidente disse
que ela não cairá num "passe de
mágica" e que é preciso "criar
sustentabilidade, confiança política e do mercado para que se
possa, de forma dinâmica, reduzir a taxa de juros".
Segundo Lula, o rombo da
Previdência -que em 2006 somou R$ 42 bilhões- é fruto de
uma escolha do país que optou
por fazer uma política social
com a Constituição de 1988 e
incluiu como beneficiários da
Previdência milhares de agricultores, idosos e portadores de
deficiência que não contribuíam para o sistema.
"Isso é política social para
ajudar as pessoas mais pobres
do país. Se não fizéssemos isso,
estavam dormindo na sarjeta",
afirmou. Na defesa que fez para
rebater insinuação de empresários de que o rombo do INSS
é um obstáculo ao crescimento,
Lula chegou a dizer que não há
porque o país reclamar disso.
"Tenho dito que [o déficit]
não é da Previdência Social. É
porque nós brasileiros resolvemos fazer a mais forte política
social que o país já fez. Isso é
um gasto que o Brasil tem que
assumir com os seus pobres.
Não vejo nenhum problema."
Nas contas do presidente, fora
isso, "se pegar os trabalhadores
que contribuem e recebem [benefícios], não há déficit".
Cálculos
Porém, Lula deixou de fora
os R$ 13,5 bilhões que ficaram
faltando em 2006, após o Ministério da Previdência contabilizar receitas e despesas com
os trabalhadores urbanos.
Além disso, o presidente inclui
indevidamente na sua conta os
idosos carentes acima de 65
anos que passaram a ter direito
a um benefício com a Constituição de 1988 e os portadores
de deficiências também assistidos pela Loas (Lei Orgânica de
Assistência Social).
Os R$ 12,3 milhões pagos, em
2006, a 2,9 milhões de pessoas
que são beneficiadas pela Loas
não entram no cálculo do déficit da Previdência. Já a inclusão
no sistema dos trabalhadores
rurais que até a Constituição de
1988 recebiam apenas um auxílio do governo, teve um peso
considerável. Dos R$ 42 bilhões de déficit registrado em
2006, R$ 28,5 bilhões devem-se a gastos com essas pessoas.
Mesmo se elas fossem retiradas das contas, ainda sobraria
um rombo de R$ 13 bilhões. E é
nesse universo que está um dos
maiores problemas para o governo enfrentar a situação.
A grande maioria dos trabalhadores urbanos aposentados
pelo INSS recebe até dois salários mínimos e, cada vez que o
salário mínimo aumenta, os benefícios são reajustados. Como
a desvinculação dos benefícios
do salário mínimo é um tema
polêmico no PT, a responsabilidade por uma solução foi transferida para um fórum criado
pelo governo no Programa de
Aceleração do Crescimento.
Além da questão do salário
mínimo, outra dificuldade é a
informalidade que faz com que
boa parte dos trabalhadores
não contribua para o sistema. O
governo acredita que poderá
atacar esses problemas com
medidas que estimularão o
crescimento da economia e a
geração de vagas formais.
Juros
Questionado sobre as altas
taxas de juros, Lula disse que
ele e todos no país gostariam
que elas fossem menores.
"Acontece que você não consegue reduzir a taxa de juros num
passe de mágica." Segundo ele,
a taxa "vai continuar caindo na
medida em que a gente for conquistando mais confiança e
mais garantia". Lula destacou
que os empresários têm acesso
a juros mais baratos no mercado internacional e nos financiamentos do BNDES.
(CLÓVIS ROSSI E SHEILA D'AMORIM)
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