|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lula e presidente mexicano divergem por causa de Chávez
Sem citar colega, brasileiro e Calderón discordam ao avaliar
mudanças na América Latina depois das últimas eleições
Mexicano vê retrocesso em
nacionalizações; para Lula, a
região começou a eleger
quem tem responsabilidade
para melhorar vida do povo
DOS ENVIADOS A DAVOS
A polêmica entre líderes latino-americanos, que caracterizou a recente Cúpula do Mercosul no Rio de Janeiro, foi
transplantada para os Alpes
suíços, embora de forma bastante mais elegante e indireta.
Os presidentes Luiz Inácio
Lula da Silva e Felipe Calderón,
do México, discordaram na
avaliação sobre as mudanças na
América Latina, decorrentes
do intenso processo eleitoral
dos últimos 14 meses na região,
mas não fizeram menções nominais ao exporem a discrepância, embora todo o mundo
soubesse que falavam principalmente de Hugo Chávez, presidente da Venezuela.
Lula começou dizendo que as
mudanças "substanciais" na
América Latina foram para melhor. "[A região] começou a eleger presidentes que têm responsabilidade para melhorar a
vida do povo". É uma mudança
para melhor, "embora alguns
não gostem", alfinetou.
A palavra logo passou para
Calderón, que também não
mencionou Chávez, mas disse
que a dicotomia esquerda versus direita não se aplica mais. O
que importa agora é se a região
"avança ou retrocede".
Retrocesso seria, segundo o
mexicano, a volta "a ditaduras
pessoais vitalícias" e, na economia, "a expropriações e nacionalizações, que só empobrecem ainda mais os pobres".
A crítica que se faz freqüentemente a Chávez é precisamente ao projeto de reeleições
indefinidas e ao anúncio de estatização das telecomunicações e de outros setores estratégicos do país.
Lula defendeu também Evo
Morales (Bolívia), que poderia
igualmente estar na cabeça de
Calderón, ao falar de nacionalizações. O petista repetiu o que
já havia dito, quando da nacionalização do gás boliviano: "O
gás é dele, é a única riqueza dele, tem que nacionalizar".
Quem acabou introduzindo o
nome Hugo Chávez na conversa foi a moderadora, Rebecca
Anderson, âncora da rede norte-americana CNN.
Quis saber a opinião dos debatedores sobre se o presidente
da Venezuela era ou não uma
figura "perturbadora".
Lula respondeu: "Não existe
perturbação. Hugo Chávez foi
eleito três vezes consecutivamente de forma a mais democrática possível". Sobre o discurso usual de Chávez, disse o
que já havia afirmado durante a
Cúpula do Mercosul: "Cada
país tem o discurso de acordo
com a sua cultura, o seu momento, a sua realidade".
Calderón saiu pela tangente:
"Não me agrada julgar as pessoas. Meu dever é estreitar as
relações mexicanas com todos
os povos latino-americanos,
sem pensar nas personalidades". Calderón é do mesmo
partido (PAN, Partido de Ação
Nacional, conservador) de seu
antecessor, Vicente Fox, que já
teve forte choque verbal com
Chávez, ao ser acusado de lacaio dos Estados Unidos.
Divergências à parte, o debate ficou centrado na forte defesa de Lula, aí sim acompanhado
por Calderón, da integração latino-americana, prioridade um
da diplomacia brasileira.
Lula cobrou de seus pares
"bons projetos" para a Casa
(Comunidade Sul-Americana
de Nações), que pretende englobar todos os países da América do Sul. "Precisamos de
bons projetos para o mundo
enxergar", disparou, citando a
rodovia por meio do Peru que
ligará o Brasil ao Pacífico.
Antes, na sessão matinal, Lula havia repetido cobrança que
faz habitualmente a ele próprio
e a dirigentes latino-americanos: "Temos que parar de viajar
o mundo chorando nossa miséria e importando culpados pela
nossa desgraça. Muitas vezes, a
responsabilidade é nossa".
(CLÓVIS ROSSI E SHEILA D'AMORIM)
Texto Anterior: Petista desafia "ricos" a concluir Rodada Doha Próximo Texto: Frases Índice
|