São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 2007

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Debate Folha / eleição na Câmara

Aldo e Fruet se declaram a favor das votações abertas; Chinaglia não é explícito a respeito, mas também não diz ser contra a mudança

Candidatos rejeitam reajuste de 91% e admitem abrir contas na Câmara

Caio Guatelli/Folha Imagem
A partir da esq. os candidatos à presidência da Câmara: Aldo Rebelo (PC do B), Arlindo Chinaglia (PT) e Gustavo Fruet (PSDB)


FERNANDO RODRIGUES
EM SÃO PAULO

Os três candidatos a presidente da Câmara dos Deputados apresentaram um nível inédito de concordância para assuntos centrais da disputa ao participarem de um debate ontem de manhã na Folha. A eleição será realizada na quinta-feira, dia 1º de fevereiro, a partir das 15h. Antes, nesse mesmo dia, às 9h, tomam posse os 513 deputados eleitos em outubro passado. No primeiro debate desta campanha, Aldo Rebelo (PC do B-SP), 50 anos, Arlindo Chinaglia (PT-SP), 57, e Gustavo Fruet (PSDB-PR), 43, disseram ser favoráveis a um reajuste que reponha a inflação nos salários dos congressistas -deixando de lado o polêmico aumento de 91%, proposto em dezembro do ano passado. Aldo e Fruet declararam ser a favor das votações abertas na Câmara. Chinaglia não foi explícito a respeito, mas também não disse ser contra a abertura dos votos. Os três defenderam mais transparência nas prestações de contas mensais dos deputados -inclusive com a divulgação de todas as notas fiscais apresentadas.

Os três também demonstraram simpatia, embora com ênfases diferentes, por novas formas de tramitação do Orçamento Geral da União e sobre a necessidade de discutir e avançar com as reformas política e tributária. Como são temas polêmicos, porém, fizeram ressalvas sobre a dificuldade para se obter um consenso mínimo.
Em eleições passadas para a presidência da Câmara, nunca houve debates públicos com a presença de todos os candidatos. A iniciativa organizada ontem pela Folha -transmitida ao vivo pela TV UOL- é inédita na história do Congresso. O encontro começou às 10h e acabou alguns minutos após as 12h. Na segunda, a TV Câmara promoverá um debate.
Em outras disputas, sempre houve candidatos representando explicitamente o "baixo clero" do Congresso -como são chamados os deputados menos conhecidos e com maior espírito corporativo. O caso mais notório foi o de Severino Cavalcanti (PP-PE), que conseguiu ser eleito em 2005.
Ontem, nenhum dos três postulantes à terceira cadeira na hierarquia da República quis se apresentar como defensor de propostas corporativistas tais como mais verbas para salários e gastos gerais da Casa.


Presentes
Cerca de 120 pessoas assistiram ao debate, lotando o auditório da Folha. Além dos três candidatos, 21 deputados compareceram. Estiveram no local, entre outros, o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e Manuela D'Ávila (PC do B-RS), ambos apoiadores de Aldo Rebelo. Fernando Gabeira (PV-RJ) e Paulo Renato Souza (PSDB-SP) estavam no grupo de Gustavo Fruet. Paulo Teixeira (PT-SP) e Ricardo Barros (PP-PR) apoiavam Chinaglia.
Os três candidatos, pelo menos no debate, tentaram demonstrar que suas divergências ficam mais no plano político. Não houve acusações no campo ético ou moral, apenas de abordagem dos temas que foram propostos pelo público -com perguntas por escrito- e pelo mediador, Melchiades Filho, diretor-executivo da Sucursal de Brasília da Folha.
O tucano Fruet aproveitou parte de suas intervenções para se dizer o único candidato não atrelado ao governo.
O comunista Aldo Rebelo -candidato à reeleição- e Arlindo Chinaglia -líder do governo na Câmara- rebateram dizendo que representam conjuntos de forças de vários partidos. Aldo tem o apoio de PC do B, PSB e PFL, que é de oposição ao governo Lula. Chinaglia tem a lista mais ampla de siglas a seu favor (PT, PMDB, PP, PTB e PR, entre outras menores), todas governistas, mas diz também computar votos dos oposicionistas PSDB e PFL.

Mesa
Parte do debate foi tomada por uma discussão distante dos eleitores em geral. Foi quando os candidatos passaram a falar sobre a complicada fórmula para composição da Mesa Diretora da Câmara -que leva em conta o tamanho das bancadas de cada legenda ou bloco formado para esse fim.
Arlindo Chinaglia aproveitou para dizer que o lançamento da candidatura de Gustavo Fruet deixou o PSDB "vulnerabilizado". Antes do surgimento de um nome próprio, os tucanos diziam que apoiariam Chinaglia. Em troca, o PT abriria mão de um dos cargos aos quais têm direito na Mesa. Agora, "o PT fará a escolha", afirmou o candidato petista.
A estocada de Chinaglia foi vista como uma ameaça. "Ele acabou unificando o partido ainda mais em torno de minha candidatura ao falar aquilo", disse Fruet ao sair do encontro.
"Mas quem provocou o PSDB foi ele ao dizer que a escolha que o partido tinha feito do meu nome não atendia às regras da sigla", rebateu Chinaglia, também ao fim do debate.

Objeto de desejo
No Congresso, os cerca de 60 votos que o PSDB em tese dará a Fruet -a eleição é secreta- passaram a ser objeto de desejo tanto de Aldo como de Chinaglia. Enquanto o petista provocou dizendo que os tucanos acabarão perdendo ao ter candidato próprio, o comunista preferiu afagar a agremiação.
Em vários momentos, Aldo citava o PSDB e seus integrantes de maneira elogiosa. Mencionou deputados presentes nominalmente e também o governador de São Paulo, José Serra. "Procurei ser simpático com todos", afirmou, ao final.
Fruet, do seu lado, também se manteve mais cordato com Aldo do que com Chinaglia. O tucano perguntou ao comunista se não se sentia abandonado pelo fato de o Planalto ter se distanciado do processo sucessório. Aldo respondeu que não e que não se sentia candidato de Lula, mas "da instituição". Fruet cumprimentou-o, em tom de comemoração: "Era a resposta que eu esperava".
Em geral, o tucano procurou ter um discurso mais para a sociedade durante o debate. Falou sobre a necessidade de conversar com entidades civis para manter um diálogo aberto do Congresso com representantes dos eleitores.
Aldo Rebelo ficou a meio caminho, sempre dizendo-se um político de posições firmes, pois está no PC do B há três décadas. Arlindo Chinaglia foi o que apresentou temas mais voltados para o público de dentro da Câmara, os deputados. Falou sobre as dificuldades entre prometer e fazer -"há uma distância", disse, sobre a reforma política. Acha mais viável que algo seja aprovado para valer somente daqui a uma, duas ou três eleições. Assim, agrada aos deputados que já estão acostumados a se eleger no atual sistema e sempre são refratários a mudanças de regras.


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