|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Entrevista Fernando Pimentel
Precisamos de acordo entre PT e PSDB por governabilidade sólida
Prefeito de Belo Horizonte negocia com o governador Aécio Neves um nome para sua sucessão
Segundo petista, pacto deve ser encarado como exemplo de diálogo necessário entre as duas siglas em nome da estabilidade política no país
MALU DELGADO
EDITORA-ASSISTENTE DE BRASIL
Petista que circula com desenvoltura nas dependências
do Palácio do Planalto, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, 56, está sempre
nas listas de apostas da Esplanada para ocupar um cargo federal. Economista, já foi citado
como provável sucessor de
Guido Mantega (Fazenda), o
que ele nega peremptoriamente nesta entrevista à Folha,
concedida durante rápida passagem a São Paulo.
O pacato mineiro articula, ao
lado do governador Aécio Neves (PSDB), uma aliança eleitoral que certamente promete
tumultuar as sucessões municipais: quer um mesmo palanque para o PT e o PSDB, idéia
apoiada pelo tucano. Na avaliação do prefeito, o Brasil precisa
de estabilidade política, o que
obriga petistas e tucanos a negociarem uma agenda nacional
de longo prazo. Belo Horizonte
seria, diz, um exemplo de que
essa união não é improvável.
Segundo ele, o PT lançará
candidato em 2010 para a sucessão de Lula, e questões eleitorais não devem ser empecilho para pactos com o PSDB.
Ainda que evite citar nomes,
não poupa elogios à amiga Dilma Rousseff, sua companheira
nos tempos de ditadura no Colina (Comando de Libertação
Nacional) -organização de esquerda que combateu o regime
militar. "Ela é hoje o esteio do
governo", afirma, num momento de descontração, com o
gravador já desligado.
FOLHA - É viável uma sucessão na
capital negociada entre PT e PSDB?
FERNANDO PIMENTEL - Estamos
trabalhando, tanto o governador Aécio Neves quanto eu, na
idéia de manter o clima de entendimento administrativo e
político que tem vigorado na cidade nos últimos anos. Se pudermos encontrar um candidato que represente esse entendimento e essa visão comum, vamos caminhar nessa direção.
Claro que depende muito dos
partidos políticos. Mas no que
se refere à minha opinião e à do
governador, vamos ser parceiros nessa tentativa. O ideal é
uma legenda neutra. Nem PT
nem PSDB. Se conseguirmos
um nome vinculado a uma legenda que esteja tanto na nossa
base, na prefeitura, na base de
Lula, e também na base aliada
do Aécio, seria o caminho adequado.
FOLHA - É difícil que tal aliança se
repita no país. O sr. e Aécio estarão
no mesmo palanque?
PIMENTEL - Se a aliança for consolidada não vejo nenhum motivo para não estarmos. Concordo que seja muito difícil que
isso se repita em outros lugares
do Brasil. Agora, essa busca
nossa por um candidato comum tem dois pilares. De um
lado, nós trabalhamos com a
idéia de que é melhor para a cidade. Outra vertente é que eu
acredito que o Brasil precisa
abrir diálogo entre esses dois
grandes partidos. Precisamos
de um grande acordo de centro-esquerda para dar governabilidade sólida e permanente a
qualquer presidente, para que
ele não fique à mercê de negociações ocasionais. São partidos que têm proximidade, projeto nacional, quadros capazes
e não por coincidência governaram o país na pós-ditadura.
Não estou falando que esses
partidos têm de ser eternamente aliados, que vão fazer coligações eleitorais. Digo que precisamos ter diálogo para construir uma agenda nacional.
FOLHA - As direções estaduais e sobretudo nacionais desses dois partidos permitirão tal aliança em BH?
PIMENTEL - Empecilhos podem
haver. A cidade vive um bom
momento e atribui isso, em
grande parte, a esse entendimento entre prefeito, governador e presidente. No caso nacional, essa tese que defendo sei que não é de fácil aceitação,
nem no PT nem no PSDB. Estamos consolidados como país
desenvolvido e precisamos ter
estabilidade política. De tal maneira que, mesmo que mude o
partido que está na Presidência, os grandes temas nacionais
e uma agenda prioritária do
país sejam preservados.
FOLHA - É possível falar em agenda
comum depois da derrota na prorrogação da CPMF, com ajuda do PSDB?
PIMENTEL - O episódio da CPMF
é exemplar para mostrar como
faz falta a construção dessa
agenda comum e desse acordo
de centro-esquerda. Não se pode deixar uma questão tão importante como essa para negociação de última hora, no calor das disputas parlamentares.
Faltou a agenda para o país. Lula hoje paga o preço que o governo FHC também pagou, que
é negociar maiorias episódicas.
FOLHA - O sr. é citado como um
membro do "novo PT". O partido recolocou Ricardo Berzoini na direção
nacional, sem sinais de renovação.
PIMENTEL - O PT vive um momento de transição. O velho está acabando, mas não acabou, o
novo está chegando, mas não
chegou. Os quadros tradicionais de alguma forma atingidos
com as crises de 2005 e 2006
têm importância na vida partidária e devem preservá-la por
mais um tempo.
FOLHA - 2010 sem Lula: é inevitável que o PT tenha candidato?
PIMENTEL - O PT tem esse desejo. Mais do que isso: tem condição de apresentar um nome.
FOLHA - O nome do sr. aparece como provável quadro para a área econômica nacional, inclusive Fazenda.
PIMENTEL - Nunca recebi nenhum convite do presidente
para ocupar nenhum ministério. Disse e volto a repetir: Guido Mantega é excelente ministro e economista. Dei e dou apoio à política econômica que
o ministro desenvolve. Quanto
ao futuro, eu não sei. O presidente Lula sabe que sou aliado
incondicional dele, onde quer
que eu esteja.
FOLHA - E a disputa ao governo de
Minas Gerais em 2010?
PIMENTEL - Aí está muito longe.
Há uma eleição ainda em 2008.
FOLHA - Quais seriam as prioridades do PT nas eleições 2008?
PIMENTEL - Acho que o PT passou a fase em que lançávamos
candidato em qualquer disputa. Podemos trabalhar alianças,
nos somarmos às melhores
candidaturas. Se forem do PT,
ótimo. Se não forem, não tem
problema nenhum. Em São
Paulo é diferente. O PT vai
apresentar um nome. Há quadros muitos qualificados, a começar pela Marta [Suplicy].
Texto Anterior: 85% da Câmara prefere a Folha, afirma pesquisa Próximo Texto: Frases Índice
|