São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2008

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Entrevista Fernando Pimentel

Precisamos de acordo entre PT e PSDB por governabilidade sólida

Prefeito de Belo Horizonte negocia com o governador Aécio Neves um nome para sua sucessão

Segundo petista, pacto deve ser encarado como exemplo de diálogo necessário entre as duas siglas em nome da estabilidade política no país

MALU DELGADO
EDITORA-ASSISTENTE DE BRASIL

Petista que circula com desenvoltura nas dependências do Palácio do Planalto, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, 56, está sempre nas listas de apostas da Esplanada para ocupar um cargo federal. Economista, já foi citado como provável sucessor de Guido Mantega (Fazenda), o que ele nega peremptoriamente nesta entrevista à Folha, concedida durante rápida passagem a São Paulo.
O pacato mineiro articula, ao lado do governador Aécio Neves (PSDB), uma aliança eleitoral que certamente promete tumultuar as sucessões municipais: quer um mesmo palanque para o PT e o PSDB, idéia apoiada pelo tucano. Na avaliação do prefeito, o Brasil precisa de estabilidade política, o que obriga petistas e tucanos a negociarem uma agenda nacional de longo prazo. Belo Horizonte seria, diz, um exemplo de que essa união não é improvável. Segundo ele, o PT lançará candidato em 2010 para a sucessão de Lula, e questões eleitorais não devem ser empecilho para pactos com o PSDB.
Ainda que evite citar nomes, não poupa elogios à amiga Dilma Rousseff, sua companheira nos tempos de ditadura no Colina (Comando de Libertação Nacional) -organização de esquerda que combateu o regime militar. "Ela é hoje o esteio do governo", afirma, num momento de descontração, com o gravador já desligado.  

FOLHA - É viável uma sucessão na capital negociada entre PT e PSDB?
FERNANDO PIMENTEL
- Estamos trabalhando, tanto o governador Aécio Neves quanto eu, na idéia de manter o clima de entendimento administrativo e político que tem vigorado na cidade nos últimos anos. Se pudermos encontrar um candidato que represente esse entendimento e essa visão comum, vamos caminhar nessa direção. Claro que depende muito dos partidos políticos. Mas no que se refere à minha opinião e à do governador, vamos ser parceiros nessa tentativa. O ideal é uma legenda neutra. Nem PT nem PSDB. Se conseguirmos um nome vinculado a uma legenda que esteja tanto na nossa base, na prefeitura, na base de Lula, e também na base aliada do Aécio, seria o caminho adequado.

FOLHA - É difícil que tal aliança se repita no país. O sr. e Aécio estarão no mesmo palanque?
PIMENTEL
- Se a aliança for consolidada não vejo nenhum motivo para não estarmos. Concordo que seja muito difícil que isso se repita em outros lugares do Brasil. Agora, essa busca nossa por um candidato comum tem dois pilares. De um lado, nós trabalhamos com a idéia de que é melhor para a cidade. Outra vertente é que eu acredito que o Brasil precisa abrir diálogo entre esses dois grandes partidos. Precisamos de um grande acordo de centro-esquerda para dar governabilidade sólida e permanente a qualquer presidente, para que ele não fique à mercê de negociações ocasionais. São partidos que têm proximidade, projeto nacional, quadros capazes e não por coincidência governaram o país na pós-ditadura. Não estou falando que esses partidos têm de ser eternamente aliados, que vão fazer coligações eleitorais. Digo que precisamos ter diálogo para construir uma agenda nacional.

FOLHA - As direções estaduais e sobretudo nacionais desses dois partidos permitirão tal aliança em BH?
PIMENTEL
- Empecilhos podem haver. A cidade vive um bom momento e atribui isso, em grande parte, a esse entendimento entre prefeito, governador e presidente. No caso nacional, essa tese que defendo sei que não é de fácil aceitação, nem no PT nem no PSDB. Estamos consolidados como país desenvolvido e precisamos ter estabilidade política. De tal maneira que, mesmo que mude o partido que está na Presidência, os grandes temas nacionais e uma agenda prioritária do país sejam preservados.

FOLHA - É possível falar em agenda comum depois da derrota na prorrogação da CPMF, com ajuda do PSDB?
PIMENTEL
- O episódio da CPMF é exemplar para mostrar como faz falta a construção dessa agenda comum e desse acordo de centro-esquerda. Não se pode deixar uma questão tão importante como essa para negociação de última hora, no calor das disputas parlamentares. Faltou a agenda para o país. Lula hoje paga o preço que o governo FHC também pagou, que é negociar maiorias episódicas.

FOLHA - O sr. é citado como um membro do "novo PT". O partido recolocou Ricardo Berzoini na direção nacional, sem sinais de renovação.
PIMENTEL
- O PT vive um momento de transição. O velho está acabando, mas não acabou, o novo está chegando, mas não chegou. Os quadros tradicionais de alguma forma atingidos com as crises de 2005 e 2006 têm importância na vida partidária e devem preservá-la por mais um tempo.

FOLHA - 2010 sem Lula: é inevitável que o PT tenha candidato?
PIMENTEL
- O PT tem esse desejo. Mais do que isso: tem condição de apresentar um nome.

FOLHA - O nome do sr. aparece como provável quadro para a área econômica nacional, inclusive Fazenda.
PIMENTEL
- Nunca recebi nenhum convite do presidente para ocupar nenhum ministério. Disse e volto a repetir: Guido Mantega é excelente ministro e economista. Dei e dou apoio à política econômica que o ministro desenvolve. Quanto ao futuro, eu não sei. O presidente Lula sabe que sou aliado incondicional dele, onde quer que eu esteja.

FOLHA - E a disputa ao governo de Minas Gerais em 2010?
PIMENTEL
- Aí está muito longe. Há uma eleição ainda em 2008.

FOLHA - Quais seriam as prioridades do PT nas eleições 2008?
PIMENTEL
- Acho que o PT passou a fase em que lançávamos candidato em qualquer disputa. Podemos trabalhar alianças, nos somarmos às melhores candidaturas. Se forem do PT, ótimo. Se não forem, não tem problema nenhum. Em São Paulo é diferente. O PT vai apresentar um nome. Há quadros muitos qualificados, a começar pela Marta [Suplicy].


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