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GOVERNO
Queda de Calabi mostra força de ministro
Crise afirma estilo Malan de política
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
Apontado como um dos personagens que ganhou com a substituição no comando do BNDES, o
ministro Pedro Malan (Fazenda)
vem consolidando um modo de
fazer política. Um estilo que ajuda
a explicar sua longevidade no comando do Ministério da Fazenda
-um recorde na história recente
do país- e a expectativa crescente de que Malan poderá sair candidato à sucessão do presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Mas a vitória de Malan com a
saída de Andrea Calabi do
BNDES e a indicação de Francisco
Gros para o cargo pode não ter sido tão grande quanto pareceu durante a semana passada.
Como a substituição de Calabi
foi acompanhada por medidas
que fortalecem o Ministério do
Desenvolvimento e seu titular Alcides Tápias, a manobra avalizada
por FHC pode forçar Malan a
aceitar ajustes -ou mais ousadia- na política econômica que
defende com ênfase no ajuste das
contas públicas.
Isso significaria, em outras palavras, o enquadramento de Malan,
em vez de uma simples vitória sua
no debate que trava no governo
contra a corrente dita nacionalista, que defende empresas nacionais e uma abertura econômica
mais ponderada.
Essa avaliação é sustentada por
interlocutores de FHC que não
têm Malan propriamente como
um ídolo. Assessores de Malan insistem em negar que o ministro
tenha ascendência sobre o novo
presidente do BNDES. Garantem
também que será o melhor possível o relacionamento do chefe
com Tápias, que pretende tirar
poder do Ministério da Fazenda
sobre comércio externo.
Sobre esse estilo de Malan fazer
política, cada vez mais temido na
Esplanada, resume um amigo comum do ministro e de FHC: ""Cuidado com ele". Os que acreditam
que Malan é apenas um burocrata, não sabe fazer política, nem
tem apego ao poder, diz, estão enganados.
Sobre as consequências de suas
quase sempre discretas movimentações, pode-se concluir que
são poucos os adversários em
confrontos diretos com Malan
que conseguem resistir aos seus
ataques.
O ministro da Saúde, José Serra,
é uma exceção, apesar de já ter sofrido derrotas e ter deixado de interferir publicamente na discussão da política econômica, a pedido de FHC. Como seu principal
trunfo contra Malan, Serra contabiliza a desvalorização do real,
medida que defendia muito antes
de vencer a resistência do ministro da Fazenda.
O ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes e o ex-ministro Clóvis Carvalho são algumas
das vítimas mais notáveis de Malan. Lopes ficou poucos dias no
cargo depois de desafiar recomendações do FMI (Fundo Monetário Internacional) endossadas por Malan.
Carvalho, braço direito de FHC
no Planalto durante o primeiro
mandato, não resistiu no cargo de
ministro do Desenvolvimento depois de defender mais ousadia na
execução da política econômica.
Malan não gostou.
Na troca do comando do
BNDES, Malan não atuou diretamente pela queda de Andrea Calabi. Mas trabalhou para que o
presidente o enquadrasse, principalmente depois que Calabi passou a defender restrições a empréstimos ao capital estrangeiro
por parte do BNDES.
Com a demissão de Calabi, Malan ganhou motivos para comemorar o afastamento do governo
de mais um opositor de sua política econômica. Motivo maior de
comemoração é o fato de o demitido ser afinado com seu principal
adversário, José Serra.
Há tempos, Serra deixou de dar
palpites sobre política econômica
publicamente. Mas não deixou de
polemizar com Malan. A mais recente celeuma pública entre os
dois teve como tema o reajuste
dos preços de medicamentos.
FHC teve de intervir para acalmar os ânimos no mês passado,
quando Malan e Serra já se desentendiam pelos jornais. O titular da
Fazenda se referiu ao colega da
Saúde como ""aquele ministro".
Serra respondeu: ""Para mim, PM
(as iniciais do ministro da Fazenda) significa prescrição médica".
Os dois se desentendem desde o
início do primeiro mandato de
FHC sobre a condução da política
econômica. No início, a discussão
era se o real deveria ou não ser
desvalorizado. Agora, o mote do
debate que tem Malan e Serra como principais pólos é a defesa das
empresas nacionais.
Árbitro da polêmica sobre política econômica do governo, FHC
comemora o fato de contar com
Malan como guardião da confiança externa que a economia brasileira precisa. Mas acredita que,
apesar do discurso pró-estabilização da economia, conseguirá
atender às pressões por mais crescimento econômico e por uma
abertura mais cautelosa.
A polêmica ameaça chegar à sucessão de FHC. Questionado sobre sua preferência, o presidente
já declarou que quer ter um representante da área social do governo como candidato. Mas as declarações foram interpretadas por
vários aliados de FHC como uma
forma de preservar Malan dos
ataques de uma campanha eleitoral precipitada.
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