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ESTADO
Executiva estadual do partido proíbe militância de falar sobre "desvios de conduta" do governador
PT impõe silêncio a militantes no MS
PAULO PEIXOTO
da Agência Folha,
em Campo Grande
A executiva estadual do PT do
Mato Grosso do Sul proibiu os
militantes do partido de falar sobre os "desvios de conduta" do
governador José Orcírio Miranda
dos Santos, o Zeca do PT, cometidos ao longo de um ano e dois
meses da sua gestão.
Na última quarta-feira, em
Campo Grande, na sede do partido, a executiva se reuniu e impôs
o silêncio.
Só está autorizada a falar a presidente da legenda no Estado, Elza Aparecida Jorge.
A determinação está ligada ao
constrangimento dos petistas em
relação aos erros de Zeca.
Os militantes acham que os
desgastes poderiam ser evitados,
mas, ao contrário, eles prosseguiram.
"Estamos implantando a República do Mato Grosso do Sul com
novos valores, pondo fim à oligarquia arraigada no Estado. Mas
também somos frutos dessa cultura, nossos erros estão inseridos
nesse contexto", disse o deputado
federal Ben-Hur Ferreira.
O deputado, que pertence à direita do partido (Democracia Radical, corrente do deputado José
Genoino-SP) e é pré-candidato
do PT à Prefeitura de Campo
Grande, disse que o governador é
um "abnegado que fica muito
triste" com os erros do seu governo e paga um preço alto por eles.
A presidente regional do PT-MS afirmou que o partido sabe
que os erros "não podem empanar o governo" e que, por isso, toda a legenda está unida em torno
de Zeca.
A proibição, segundo ela, tem o
único propósito de conseguir
"uma posição unânime para fazer a defesa do governo".
Não se questiona no interior do
partido a capacidade de governar
de Zeca, muito menos a sua determinação e o desempenho do
seu governo, tido pela militância
como de grande avanço social.
Programas como o bolsa-escola, aumento de receita em 32% e
queda do custeio em 35%, além
dos programas de desenvolvimento econômico, ambiental e
de recuperação de estradas se tornaram temas do discurso do PT.
Mas as críticas pelos erros cometidos ao longo dos 14 meses de
governo ainda são contidas, tanto
na direita do espectro petista
quanto no centro e na esquerda,
que historicamente sempre foi a
que mais se manifestou.
Nepotismo
O primeiro pecado do governador foi ter nomeado seis parentes
para o governo, prática conhecida
como nepotismo, que o PT em todo o país combate duramente, e
que Zeca também condenava
quando era deputado estadual.
Em 1997, ele votou contra o nepotismo, mas o projeto foi derrotado no Legislativo.
As relações suspeitas com os
empreiteiros, que Zeca condenava, foram a razão de outro pecado
seu. Em janeiro deste ano, foi flagrado em Natal descansando com
a família na casa de praia de um
empreiteiro que toca a maior obra
do Estado.
Ele se tornou amigo do empreiteiro após ser eleito.
Além disso, dois atos administrativos supostamente irregulares
estão sendo analisados pelo Tribunal de Contas do Estado, mas
os petistas rebatem com veemência qualquer insinuação de corrupção no governo.
O articulador da corrente centrista PT na Base, vereador Cabo
Almi, disse que trata-se de uma
gestão "extraordinária e íntegra",
mas que "é preciso estar corrigindo o governo para que ele não se
perca".
Essa correção tem sido feita pelo conselho político do PT no governo.
O governador às vezes é intempestivo na reação às críticas, o que
serve para pôr mais lenha no fogo.
No episódio do descanso em Natal, ele chegou a dizer que poderia
até voltar à casa do empreiteiro, já
que não havia nenhuma imoralidade no seu ato.
"Tudo isso poderia ter sido evitado. Como não foi, há uma reação forte. E nós nunca agimos no
sentido de passar a mão na cabeça. A gente tem que ser muito tolerante com os nossos críticos, até
porque somos duros na crítica",
disse Ben-Hur.
César
Secretário do Meio Ambiente
do governo e coordenador da corrente de esquerda Muda PT, Egon
Krakhecke disse: "À mulher de
César não basta ser honesta, tem
que parecer honesta. É preciso ter
cuidado com as interpretações
que a sociedade vai dar".
Para ele, alguns episódios "acabam provocando constrangimentos no próprio governo".
O Executivo, segundo Krakhecke, deve ser "cauteloso" com o
lobby empresarial que tenta se
aproximar do governo e não pode
incorrer em "erros de avaliação"
como no caso do nepotismo.
As reprimendas a Zeca ultrapassaram as fronteiras do Estado.
Após o descanso do governador
no Nordeste, José Genoino disse
que "não é recomendável um governador ter uma relação desse tipo com um empreiteiro". Para
ele, o administrador público deve
"criar uma muralha entre o público e o privado".
Valter Pomar, da direção nacional do partido, disse que o PT
"nunca foi favorável a esse tipo de
comportamento" e definiu como
um ato de "ingenuidade" o envolvimento do governador na casa
de praia nordestina.
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