São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2000


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ESTADOS
Cunha e La Salvia atuam na Cehab
Governo do Rio abriga ex-colloridos

MARCELO BERABA
Diretor da Sucursal do Rio

Dois personagens do período Collor voltam a se encontrar, desta vez na Companhia Estadual de Habitação (Cehab) do governo Garotinho: Eduardo Cunha, tesoureiro no Rio de Janeiro da campanha presidencial de 89 e ex-presidente da Telerj (91 a 93), e Jorge La Salvia, ex-procurador de Paulo César Farias e que o teria ajudado quando fugiu do Brasil para a Tailândia.
Eduardo Cunha assumiu a presidência da Cehab em setembro. Desde então, Jorge La Salvia frequenta o prédio da companhia, no centro do Rio.
Cunha informou na sexta-feira que La Salvia representa uma empresa de informática, a Caci, que ganhou duas licitações recentes para prestar serviços à Cehab na área da informática. Foram deixados recados em dois telefones de La Salvia, mas ele não havia retornado as ligações até o fechamento da edição.
A Folha constatou que La Salvia não só frequenta a Cehab, mas recebe recados por meio das secretárias da presidência. No dia 4 de fevereiro, sexta-feira, a Folha gravou o seguinte diálogo com uma das secretárias da presidência, que atendeu no número 299-4004 por volta das 15h:
- Eu estou precisando falar com o doutor Jorge La Salvia. Sabe como posso falar com ele?
- No momento ele não se encontra.
- (...) Sabe a que horas eu posso falar com ele?
- Eu fico com o seu telefone. E vou ver se ele está aqui pelo prédio.
No dia 22, terça-feira, por volta do meio-dia, novo diálogo:
- Por favor, eu estou precisando falar com o doutor La Salvia.
- Eu vou deixar anotado. Ele não está aqui.
A Caci (Central de Administração de Créditos Imobiliários), que está sendo, segundo Cunha, representada por La Salvia na Cehab, ganhou as duas licitações para a regularização e a habilitação de 10.100 contratos da carteira de créditos imobiliários inativos da Cehab no Fundo de Compensação de Variações Salariais.
A primeira licitação, para a regularização de 1.100 contratos, foi feita por meio de carta-convite e o contrato é no valor de R$ 70,1 mil. Foram convidadas a apresentar propostas, além da Caci, a Datamec e a Prógnum Informática. A Datamec e a Caci já haviam formado um consórcio para prestar serviços juntas em São Paulo à Cibrasec (Companhia Brasileira de Securitização). A Prógnum já presta serviços à Cehab, produzindo os carnês mensais de cobrança dos mutuários.
A segunda licitação, para 9.000 contratos, é de R$ 576 mil. Apesar de ter sido vencida pela Caci, o contrato ainda não foi assinado porque uma das empresas concorrentes, a Datacredi, entrou com uma ação na Justiça.
Cunha foi indicado para a Cehab pelo deputado federal Francisco Silva (PPB-RJ). Os dois são sócios numa empresa de turismo, a Montourisme Passagens e Turismo.
Ele dirigiu a Telerj de fevereiro de 91 a abril de 93, quando foi substituído, já no governo Itamar, por José de Castro. Era considerado, então, do esquema PC, mas sempre negou que tivesse participado do esquema.
Cunha chegou a ser réu em um dos maiores processos do caso PC, acusado, assim como Jorge La Salvia e outras 39 pessoas, de envolvimento com Jorge Luiz Conceição, que operava contas fantasmas do chamado esquema PC.
Um acórdão da Primeira Turma do Tribunal Regional Federal concedeu, no caso de Eduardo Cunha, trancamento da ação.
O engenheiro Jorge Osvaldo La Salvia é argentino nacionalizado brasileiro. Foi acusado de pertencer ao esquema PC. Em depoimento na Polícia Federal, La Salvia confirmou que era amigo de PC desde 88, que recebeu empréstimo do PRN, então partido do ex-presidente Fernando Collor de Mello, e que viajou com PC várias vezes. Mas negou pertencer a qualquer esquema.



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