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ESTADOS
Cunha e La Salvia atuam na Cehab
Governo do Rio abriga ex-colloridos
MARCELO BERABA
Diretor da Sucursal do Rio
Dois personagens do período
Collor voltam a se encontrar, desta vez na Companhia Estadual de
Habitação (Cehab) do governo
Garotinho: Eduardo Cunha, tesoureiro no Rio de Janeiro da
campanha presidencial de 89 e
ex-presidente da Telerj (91 a 93), e
Jorge La Salvia, ex-procurador de
Paulo César Farias e que o teria
ajudado quando fugiu do Brasil
para a Tailândia.
Eduardo Cunha assumiu a presidência da Cehab em setembro.
Desde então, Jorge La Salvia frequenta o prédio da companhia,
no centro do Rio.
Cunha informou na sexta-feira
que La Salvia representa uma empresa de informática, a Caci, que
ganhou duas licitações recentes
para prestar serviços à Cehab na
área da informática. Foram deixados recados em dois telefones de
La Salvia, mas ele não havia retornado as ligações até o fechamento
da edição.
A Folha constatou que La Salvia
não só frequenta a Cehab, mas recebe recados por meio das secretárias da presidência. No dia 4 de
fevereiro, sexta-feira, a Folha gravou o seguinte diálogo com uma
das secretárias da presidência,
que atendeu no número 299-4004
por volta das 15h:
- Eu estou precisando falar com
o doutor Jorge La Salvia. Sabe como posso falar com ele?
- No momento ele não se encontra.
- (...) Sabe a que horas eu posso
falar com ele?
- Eu fico com o seu telefone. E
vou ver se ele está aqui pelo prédio.
No dia 22, terça-feira, por volta
do meio-dia, novo diálogo:
- Por favor, eu estou precisando
falar com o doutor La Salvia.
- Eu vou deixar anotado. Ele não
está aqui.
A Caci (Central de Administração de Créditos Imobiliários), que
está sendo, segundo Cunha, representada por La Salvia na Cehab, ganhou as duas licitações para a regularização e a habilitação
de 10.100 contratos da carteira de
créditos imobiliários inativos da
Cehab no Fundo de Compensação de Variações Salariais.
A primeira licitação, para a regularização de 1.100 contratos, foi
feita por meio de carta-convite e o
contrato é no valor de R$ 70,1 mil.
Foram convidadas a apresentar
propostas, além da Caci, a Datamec e a Prógnum Informática. A
Datamec e a Caci já haviam formado um consórcio para prestar
serviços juntas em São Paulo à Cibrasec (Companhia Brasileira de
Securitização). A Prógnum já
presta serviços à Cehab, produzindo os carnês mensais de cobrança dos mutuários.
A segunda licitação, para 9.000
contratos, é de R$ 576 mil. Apesar
de ter sido vencida pela Caci, o
contrato ainda não foi assinado
porque uma das empresas concorrentes, a Datacredi, entrou
com uma ação na Justiça.
Cunha foi indicado para a Cehab pelo deputado federal Francisco Silva (PPB-RJ). Os dois são
sócios numa empresa de turismo,
a Montourisme Passagens e Turismo.
Ele dirigiu a Telerj de fevereiro
de 91 a abril de 93, quando foi
substituído, já no governo Itamar,
por José de Castro. Era considerado, então, do esquema PC, mas
sempre negou que tivesse participado do esquema.
Cunha chegou a ser réu em um
dos maiores processos do caso
PC, acusado, assim como Jorge La
Salvia e outras 39 pessoas, de envolvimento com Jorge Luiz Conceição, que operava contas fantasmas do chamado esquema PC.
Um acórdão da Primeira Turma do Tribunal Regional Federal
concedeu, no caso de Eduardo
Cunha, trancamento da ação.
O engenheiro Jorge Osvaldo La
Salvia é argentino nacionalizado
brasileiro. Foi acusado de pertencer ao esquema PC. Em depoimento na Polícia Federal, La Salvia confirmou que era amigo de
PC desde 88, que recebeu empréstimo do PRN, então partido do
ex-presidente Fernando Collor de
Mello, e que viajou com PC várias
vezes. Mas negou pertencer a
qualquer esquema.
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