São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2005

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A CASA DO SEVERINO

Afeita a religião e a pratos simples, Amélia quer "ativar" mulheres na Câmara

"Só agora ponho os pés no chão"

ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Recém-alçada à posição de primeira-dama da Câmara dos Deputados, Catarina Amélia Cavalcanti Ferreira, 75, a "dona Amélia", diz ter assimilado bem a reviravolta que a vitória do marido, Severino Cavalcanti (PP-PE), trouxe à vida familiar.
Em uma frase, procura traduzir essa reviravolta em seu cotidiano: "Não disseram que o Severino foi uma tsunami na Câmara? Pois eu sou como aquela mulher que ficou dias pendurada em um coqueiro, só agora estou colocando os pés no chão".
Ela faz questão de acompanhar o deputado em todos os eventos oficiais que pode, coordena de perto os cafés da manhã e os almoços com políticos na residência oficial e já planeja "ativar" a bancada feminina da Câmara para ações em prol da educação e da saúde.
Amélia chegou à residência oficial há dez dias. Na mudança, além de roupas e artigos pessoais, levou quatro pequenas imagens: um Coração de Jesus, duas Virgens-Maria e a inseparável Nossa Senhora Aparecida, de quem é devota e "afilhada". Afinal, nasceu e se criou em Aparecida (SP), cidade em que conheceu Severino.
Amélia tem sempre na ponta da língua uma frase tão espontânea que parece feita. Diz que não planeja mudanças na casa porque está ali "só passando uma chuva". Afinal, dois anos passam rápido.
Questionada sobre uma possível reeleição do marido, não desaprova, apenas brinca, dizendo que teme que ele ganhe o "troféu guardanapo", por estar na mesa da Câmara desde o primeiro mandato.
Amélia diz que só o marido tinha certeza da vitória. "Tanto que comprou o terno da posse três dias antes da eleição", conta. "Todo mundo sabia que o governo tinha outro candidato, mas o Severino foi pelo lado da amizade, da confiança."
Enfática, a primeira-dama da Câmara não poupa a imprensa, que "ignorou" a candidatura do marido. Acha que existe preconceito nas críticas que o marido recebe, mas replica com simplicidade: "Uns atiram flores, outros pedras. Mas ninguém atira pedra em árvore que não dá fruto. Porque é com uma pedrada que você pega uma manga boa do pé".
Ela, que quase concluiu a faculdade de ciências sociais, não vê problema na falta de estudo do marido. "Ele tem o melhor, que é a faculdade da vida", diz.
Orgulha-se de ter formado os quatro filhos e de seus netos -são seis-, que acompanha de perto, falarem inglês. A distância da família em Recife é o que mais a desagrada na nova "função". Como primeira-dama, já sabe que terá de passar mais tempo em Brasília, cuidando do marido. Faz questão de arrumar as malas, controlar a alimentação e até repreender de vez em quando, como no dia em que ele apareceu nos jornais de umbigo de fora.

Bife e batata frita
Para a cozinha da nova casa, levará apenas a cozinheira maranhense. "Vai ser por minha conta, se não ela acaba gostando e decide ficar."
Não gosta de comida extravagante e seu prato preferido é mesmo bife e batatas fritas. Já o marido é chegado na culinária nordestina. No dia-a-dia, o cardápio não tem luxo. Quando se trata de convidados, entretanto, não dá para economizar. "Se não, saem falando mal", explica.
Sobre o relacionamento de Severino com o presidente Lula, Amélia acredita que eles "vão se dar bem se os dois trabalharem para um Brasil melhor", coisa que tem certeza que o marido fará, porque pede todos os dias a Nossa Senhora Aparecida.
Não sabe qual dos dois é mais religioso, mas conta que na quarta vez em que o casal esteve com o Papa, no Brasil, Severino subiu as escadas do avião com o pontífice e ela pensou que ele "ia para Roma e não voltava mais".
Além da religião, divide com o marido posições políticas, como o aumento para os deputados. Diz que a política não enriquece e levou bens da família, até sua herança. "Fazer política no Nordeste é diferente de fazer política no Sul. Custa mais. Você entra numa casa e vê as pessoas doentes, sem ter o que comer, sem um botijão de gás. Prefiro perder R$ 100 ou R$ 200 ali do que perder minha paz de espírito", resume dona Amélia.
Apesar da fama de ter idéias fortes, diz que não manda no marido. Ele concorda com os palpites dela, mas acaba fazendo o que pensa.
"Homem que a mulher não manda, ninguém manda."


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