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A CASA DO SEVERINO
Afeita a religião e a pratos simples, Amélia quer "ativar" mulheres na Câmara
"Só agora ponho os pés no chão"
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Recém-alçada à posição de
primeira-dama da Câmara dos
Deputados, Catarina Amélia
Cavalcanti Ferreira, 75, a "dona
Amélia", diz ter assimilado bem
a reviravolta que a vitória do
marido, Severino Cavalcanti
(PP-PE), trouxe à vida familiar.
Em uma frase, procura traduzir essa reviravolta em seu cotidiano: "Não disseram que o Severino foi uma tsunami na Câmara? Pois eu sou como aquela
mulher que ficou dias pendurada em um coqueiro, só agora estou colocando os pés no chão".
Ela faz questão de acompanhar o deputado em todos os
eventos oficiais que pode, coordena de perto os cafés da manhã
e os almoços com políticos na
residência oficial e já planeja
"ativar" a bancada feminina da
Câmara para ações em prol da
educação e da saúde.
Amélia chegou à residência
oficial há dez dias. Na mudança,
além de roupas e artigos pessoais, levou quatro pequenas
imagens: um Coração de Jesus,
duas Virgens-Maria e a inseparável Nossa Senhora Aparecida,
de quem é devota e "afilhada".
Afinal, nasceu e se criou em
Aparecida (SP), cidade em que
conheceu Severino.
Amélia tem sempre na ponta
da língua uma frase tão espontânea que parece feita. Diz que
não planeja mudanças na casa
porque está ali "só passando
uma chuva". Afinal, dois anos
passam rápido.
Questionada sobre uma possível reeleição do marido, não desaprova, apenas brinca, dizendo
que teme que ele ganhe o "troféu guardanapo", por estar na
mesa da Câmara desde o primeiro mandato.
Amélia diz que só o marido tinha certeza da vitória. "Tanto
que comprou o terno da posse
três dias antes da eleição", conta. "Todo mundo sabia que o
governo tinha outro candidato,
mas o Severino foi pelo lado da
amizade, da confiança."
Enfática, a primeira-dama da
Câmara não poupa a imprensa,
que "ignorou" a candidatura do
marido. Acha que existe preconceito nas críticas que o marido recebe, mas replica com simplicidade: "Uns atiram flores,
outros pedras. Mas ninguém
atira pedra em árvore que não
dá fruto. Porque é com uma pedrada que você pega uma manga boa do pé".
Ela, que quase concluiu a faculdade de ciências sociais, não
vê problema na falta de estudo
do marido. "Ele tem o melhor,
que é a faculdade da vida", diz.
Orgulha-se de ter formado os
quatro filhos e de seus netos
-são seis-, que acompanha
de perto, falarem inglês. A distância da família em Recife é o
que mais a desagrada na nova
"função". Como primeira-dama, já sabe que terá de passar
mais tempo em Brasília, cuidando do marido. Faz questão de
arrumar as malas, controlar a
alimentação e até repreender de
vez em quando, como no dia em
que ele apareceu nos jornais de
umbigo de fora.
Bife e batata frita
Para a cozinha da nova casa,
levará apenas a cozinheira maranhense. "Vai ser por minha
conta, se não ela acaba gostando
e decide ficar."
Não gosta de comida extravagante e seu prato preferido é
mesmo bife e batatas fritas. Já o
marido é chegado na culinária
nordestina. No dia-a-dia, o cardápio não tem luxo. Quando se
trata de convidados, entretanto,
não dá para economizar. "Se
não, saem falando mal", explica.
Sobre o relacionamento de Severino com o presidente Lula,
Amélia acredita que eles "vão se
dar bem se os dois trabalharem
para um Brasil melhor", coisa
que tem certeza que o marido
fará, porque pede todos os dias a
Nossa Senhora Aparecida.
Não sabe qual dos dois é mais
religioso, mas conta que na
quarta vez em que o casal esteve
com o Papa, no Brasil, Severino
subiu as escadas do avião com o
pontífice e ela pensou que ele "ia
para Roma e não voltava mais".
Além da religião, divide com o
marido posições políticas, como
o aumento para os deputados.
Diz que a política não enriquece
e levou bens da família, até sua
herança. "Fazer política no Nordeste é diferente de fazer política
no Sul. Custa mais. Você entra
numa casa e vê as pessoas doentes, sem ter o que comer, sem
um botijão de gás. Prefiro perder R$ 100 ou R$ 200 ali do que
perder minha paz de espírito",
resume dona Amélia.
Apesar da fama de ter idéias
fortes, diz que não manda no
marido. Ele concorda com os
palpites dela, mas acaba fazendo
o que pensa.
"Homem que a mulher não
manda, ninguém manda."
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