|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasil ajuda Uruguai, que promete respeitar Mercosul
Lula assina decretos generosos para barrar negociação ampla de Tabaré com Bush
Após acordos, ministro da
Economia do Uruguai, que
havia ironizado a Zona
Franca de Manaus, diz que
país seguirá regras do bloco
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL
A COLÔNIA DE SACRAMENTO
Doze dias antes da chegada
do presidente George W. Bush
ao Uruguai, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva desembarcou ontem no país com um generoso pacote de cinco acordos
e memorandos e conseguiu
provocar um recuo na intenção
do governo uruguaio de fazer
um tratado de livre comércio
com os EUA. Na visão brasileira, manifestada abertamente
por Lula, esse acordo feriria as
normas do Mercosul.
O ministro da Economia do
Uruguai, Danilo Astori, declarou à imprensa, depois da assinatura dos acordos ontem, que
as negociações com os EUA
prosseguem, mas não a ponto
de levarem a um tratado.
"Nós temos que perseguir essa possibilidade [de um acordo
bilateral com Washington],
mas naturalmente temos que
fazer com a aplicação das normas do Mercosul", disse Astori.
Antes, porém, em entrevista
só para jornalistas uruguaios, o
ministro havia criticado a pressão contra o tratado com os
EUA e defendido uma "flexibilização das regras" do Mercosul, ironizando a posição brasileira e a Zona Franca de Manaus: "Se nos dizem que o que
nós estamos pedindo é incompatível com o Mercosul, nós dizemos que Manaus também é".
Lula, em seu discurso depois
da assinatura dos documentos,
fez referência direta à visita que
Bush fará ao Brasil e ao Uruguai
a partir de 8 de março: "Certamente o presidente Tabaré vai
discutir os interesses do Uruguai em relação aos EUA, e eu,
particularmente, quero discutir o problema dos biocombustíveis com o presidente Bush. A
relação no Mercosul não impede que isso aconteça".
Conforme a Folha apurou, a
expectativa brasileira é que o
Uruguai faça acordos pontuais
com os EUA, para condições
preferenciais e reduções tarifárias em produtos fundamentais para o país, como a carne.
Nesse formato, o acordo não
feriria as normas do Mercosul.
O recuo do governo do presidente Tabaré Vázquez foi uma
vitória do Brasil, que temia um
acordo do Uruguai com os EUA
nos moldes dos já feitos pela
Colômbia e pelo Peru e que poderia implodir o Mercosul, ou,
no mínimo, inviabilizar a permanência do país no bloco.
A vitória, porém, teve um
preço. Os acordos e acertos de
ontem, em áreas como energia
e comércio, foram francamente favoráveis ao Uruguai.
"O Brasil tem que assumir
suas responsabilidades de
maior economia do Mercosul e,
sem nenhum favor, precisa
criar as condições para que o
comércio seja o mais equilibrado possível", justificou Lula.
Para Tabaré Vázquez, é fundamental combater as assimetrias entre os países do Mercosul, "não por dádiva, não por
caridade, mas por justiça".
Ao criticar as "assimetrias",
Lula disse que a política externa "é uma via de duas mãos"
para que "as duas partes se
dêem por satisfeitas e felizes".
Em 2006, o Brasil exportou
US$ 1 bilhão para o Uruguai,
mas só comprou US$ 618 milhões. O objetivo de parte dos
acordos e das conversas de ontem foi justamente equilibrar
as relações comerciais.
Lula disse que o Brasil quer
relações de parceria, e não de
"hegemonia". Lembrou que,
para a consolidação da União
Européia, os países mais ricos
despejaram "bilhões de marcos
e dólares" nos mais pobres.
Lula, Tabaré Vázquez e seus
ministros se reuniram na Estância Anchorena, casa de verão do presidente uruguaio, na
região de Colônia de Sacramento (25 mil habitantes).
Depois das reuniões, eles fizeram pronunciamentos à imprensa, sem direito a perguntas, e voltaram à estância para
almoçar churrasco. Encerraram a visita com um passeio de
barco pelo rio Prata.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Países discutem cooperação em biocombustíveis Índice
|