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Sem-terra são baleados no norte de Minas
Dois trabalhadores rurais são feridos em tentativa de invasão; fazendeiro, preso por porte ilegal de arma, nega disparos
MST afirma que não queria
invadir a propriedade, mas
somente acampar ao lado
dela para pressionar o Incra
a usá-la na reforma agrária
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
A tentativa de invasão de
uma fazenda em Janaúba (547
km norte de Belo Horizonte)
por sem-terra coordenados pelo MST, no norte de Minas Gerais, terminou com dois trabalhadores rurais feridos a bala,
na madrugada de ontem.
A Polícia Militar prendeu um
herdeiro da fazenda que o MST
tentou invadir por porte ilegal
de arma. Um funcionário do fazendeiro também foi detido.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
negou que a intenção das cerca
de 300 pessoas era invadir a fazenda Angicos, conforme descreveu a Polícia Militar.
Segundo Cristiano Meirelles,
coordenador do MST no norte
mineiro, apesar de os sem-terra rumarem às 2h em direção à
fazenda Angicos, a intenção era
apenas acampar ao lado dela "a
fim de pressionar o Incra" (Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária) para destinar a propriedade para a reforma agrária.
Fazendeiro
O advogado Eraldo Mário Pereira, que acompanhou ontem
na delegacia de Janaúba o seu
cliente, o fazendeiro Ediraldo
Souza Mendes, negou que ele
tenha relação com o episódio
que deixou dois trabalhadores
sem terra feridos -um no ombro e outro na perna.
Segundo Pereira, seu cliente,
"por infelicidade, estava no caminho da polícia" e foi descoberto, na madrugada, portando
um revólver calibre 38 sem registro e com as cinco balas intactas no seu Cross Fox cinza,
que estava com "problema de
pneu". Além da falta do registro, o fazendeiro não tinha porte de arma.
O cabo Elton Freitas, da 12ª
Companhia Independente da
Polícia Militar, disse que quando a polícia chegou ao local todos já haviam se dispersado, invasores e atiradores.
De acordo com relatos de testemunhas, teriam sido ouvidos
cerca de 20 disparos, segundo o
cabo. Mas o coordenador do
MST disse que foram mais, inclusive tiros de "metralhadora", disparados por "mais de
dez jagunços".
Após ouvir testemunhas, a
Polícia Civil prendeu o fazendeiro por porte ilegal de arma,
com o agravante da falta de registro. Considerou que ainda
não há evidência de relação entre a apreensão da arma e os tiros contra os sem-terra. Por enquanto, a autoria dos disparos
contra os sem-terra segue desconhecida.
Outra invasão
A quase 100 km dali, em Januária (MG), cerca de cem pessoas, segundo o coordenador
do MST, voltaram a invadir a
fazenda Cruz. Há 30 dias, os
sem-terra deixaram a fazenda
por determinação da Justiça.
Voltaram a invadi-la para
que o Incra faça vistoria na
área. Segundo a PM, o proprietário da fazenda já havia entrado ontem com o pedido de manutenção de posse na Justiça.
Na última sexta, o MST invadiu em Felisburgo, no Vale do
Jequitinhonha, a fazenda que
foi palco da chacina de cinco
sem-terra em novembro de
2004. Cobrou ação do Incra e
do governo mineiro na desapropriação da fazenda e punição para o fazendeiro Adriano
Chafik Luedy, que aguarda julgamento em liberdade.
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