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Bebê indígena de dez meses morre de desnutrição em MS
Morte é a 2ª ocorrida no Estado após suspensão de distribuição de cestas básicas
Funasa afirma ter entregue alimentos aos pais do menino e que a morte deve ter sido causada por doença, e não por falta de comida
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA
O bebê indígena caiuá Cleison Benites Lopes, de dez meses, morreu anteontem na aldeia Bororó, em Dourados
(MS). No atestado de óbito
consta como causa da morte
"desnutrição severa (caquexia)", segundo informou o médico da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) Zelick Trajber.
Com esse caso, já são duas
mortes de crianças indígenas
relacionadas à desnutrição
ocorridas neste ano.
O médico disse acreditar que
uma doença -como pneumonia ou diarréia- possa ter levado Cleison à desnutrição, e não
a falta de comida na aldeia. A
Funasa diz que entregou uma
cesta de alimentos no último
dia 9 aos pais do menino.
"O médico anotou o que ele
viu. Agora precisamos ver com
a família o que aconteceu. A
criança foi atendida no posto de
saúde da aldeia no dia 14 e estava com desnutrição moderada
e infecção respiratória", afirmou Trajber. "A classificação
era de desnutrição moderada.
A criança não ia morrer de repente, a não ser que a deixaram
sem comer durante dez dias."
Segundo Trajber, os pais de
Cleison, Salete e Brasil Benites,
dizem que procuraram novamente o posto de saúde na sexta, mas não foram atendidos. A
Funasa diz não ser verdade.
As duas mortes neste ano
ocorreram após o governo do
Estado suspender a entrega de
11 mil cestas de alimentos aos
índios e de a Funasa atrasar por
20 dias, em janeiro, a distribuição de outras 5.500.
Além de Cleison, Nandinho
Fernandes, de dois anos, morreu no último dia 10, após ser
internado com desnutrição.
As mortes não têm relação
com o atraso na entrega de alimentos, segundo a Funasa. O
governo estadual assinou acordo com a Funasa para voltar a
distribuir 11 mil cestas.
"A cesta básica é distribuída
para o pessoal, mas a criança
não é alimentada. O pai começa
a vender as cestas em troca de
cachaça. As crianças passam fome. A mãe e o pai dessa criança
que morreu [Cleison] eram alcoólatras", disse o líder da aldeia Bororó, Luciano Arévolo.
O presidente do Conselho
Distrital de Saúde Indígena,
Fernando Silva Souza, disse
que existe troca de cestas de alimentos por bebidas alcoólicas,
mas não soube se isso ocorreu
com os pais de Cleison. A Folha
não conseguiu falar com eles.
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