São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

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Quem vazou sigilo deve se explicar, diz Jorge Mattoso

Ex-presidente da Caixa afirma que passou dados bancários de caseiro ao Coaf e a Palocci

"Todo mundo sabe que não tenho nada a ver com isso; a imprensa sabe quem foi que passou", diz Mattoso, que caiu junto com ex-ministro

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS

O ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso disse ontem à Folha que não tem "nada a ver com o rompimento do sigilo" bancário do caseiro Francenildo Costa, ocorrido em 2006. Ele afirmou que "quem passou isso [dados do sigilo] à imprensa é que tem que dar a explicação".
Na sexta-feira, o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) que abra processo criminal contra o deputado federal e ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (PT-SP) por quebra de sigilo funcional. Mattoso e Marcelo Netto, então assessor de imprensa do Ministério da Fazenda, também foram denunciados. Palocci -que era o superior de Mattoso- é acusado de ter ordenado a violação de sigilo bancário do caseiro.
Mattoso, que deixou a Caixa no mesmo dia em que Palocci saiu do ministério, leciona hoje no Instituto de Economia da Unicamp. "Não fiz nada mais do que passar a informação para o Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras], que era minha obrigação, e para meu superior [Palocci]. Ponto", disse ontem, por telefone. Na época, o advogado de Mattoso, Alberto Toron, informou que seu cliente entregou a única cópia do extrato impressa na Caixa pessoalmente ao então ministro em 16 de março.
Em depoimento à Polícia Federal, Palocci negou ter pedido ou vazado os extratos. O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, disse: "Respeito a posição dele [Mattoso]. Mas é complicado comentar, fica no disse-que-me-disse".

 

FOLHA - O sr. quer se manifestar sobre a quebra de sigilo do caseiro e a denúncia feita pelo procurador?
JORGE MATTOSO - Não. Não tem nada de novo.

FOLHA - O sr. também foi denunciado com Palocci.
MATTOSO -
Não sei. Vocês já tiveram acesso à denúncia?

FOLHA - O procurador pediu ao STF que seja aberto inquérito criminal.
MATTOSO -
Não sei. Eu não vi ainda.

FOLHA - O senhor acha justo isso [denúncia]?
MATTOSO -
Simplesmente eu sei que eu não tenho nada a ver com o rompimento do sigilo.

FOLHA - O sr. nega que tenha quebrado o sigilo do caseiro?
MATTOSO -
Não. Eu nunca quebrei o sigilo de ninguém. Quebrar sigilo significa passar à imprensa ou a alguém -externa à atividade financeira- alguma informação. Eu nunca fiz isso.

FOLHA - Nem pediu nem determinou?
MATTOSO -
Imagina. Quem passou isso à imprensa é que tem que dar a explicação. Todo mundo sabe que não tenho nada a ver com isso. Vocês sabem. A imprensa sabe quem foi que passou. Não estou entendendo.

FOLHA - O sr. acha que quem passou isso à imprensa é quem tem de ser responsabilizado?
MATTOSO -
Eu não acho nada.

FOLHA - E quem foi que passou à imprensa?
MATTOSO -
Não sei. Vocês é que sabem tudo.

FOLHA - O sr. acha que o crime foi ter passado uma informação sigilosa à imprensa?
MATTOSO -
Veja bem, eu não fiz nada mais do que passar a informação para o Coaf, que era minha obrigação, e para o meu superior. Ponto. Quem passou para a imprensa e quem divulgou isso é que tem que prestar contas.

FOLHA - Mas o sr. foi procurar se informar sobre a transação. Era obrigação do sr. se informar?
MATTOSO -
Minha obrigação era a de passar esta informação ao Coaf.

FOLHA - E ao seu superior, que era o ministro Palocci?
MATTOSO -
Isso. Não tem nada de novo. Absolutamente nada de novo. Então é isso.


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