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Quem vazou sigilo deve se explicar, diz Jorge Mattoso
Ex-presidente da Caixa afirma que passou dados bancários de caseiro ao Coaf e a Palocci
"Todo mundo sabe que não tenho nada a ver com isso; a imprensa sabe quem foi que passou", diz Mattoso, que caiu junto com ex-ministro
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS
O ex-presidente da Caixa
Econômica Federal Jorge Mattoso disse ontem à Folha que
não tem "nada a ver com o
rompimento do sigilo" bancário do caseiro Francenildo Costa, ocorrido em 2006. Ele afirmou que "quem passou isso
[dados do sigilo] à imprensa é
que tem que dar a explicação".
Na sexta-feira, o procurador-geral da República, Antonio
Fernando Souza, pediu ao STF
(Supremo Tribunal Federal)
que abra processo criminal
contra o deputado federal e ex-ministro da Fazenda Antonio
Palocci (PT-SP) por quebra de
sigilo funcional. Mattoso e
Marcelo Netto, então assessor
de imprensa do Ministério da
Fazenda, também foram denunciados. Palocci -que era o
superior de Mattoso- é acusado de ter ordenado a violação
de sigilo bancário do caseiro.
Mattoso, que deixou a Caixa
no mesmo dia em que Palocci
saiu do ministério, leciona hoje
no Instituto de Economia da
Unicamp. "Não fiz nada mais
do que passar a informação para o Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras],
que era minha obrigação, e para meu superior [Palocci]. Ponto", disse ontem, por telefone.
Na época, o advogado de
Mattoso, Alberto Toron, informou que seu cliente entregou a
única cópia do extrato impressa na Caixa pessoalmente ao
então ministro em 16 de março.
Em depoimento à Polícia Federal, Palocci negou ter pedido
ou vazado os extratos.
O advogado de Palocci, José
Roberto Batochio, disse: "Respeito a posição dele [Mattoso].
Mas é complicado comentar,
fica no disse-que-me-disse".
FOLHA - O sr. quer se manifestar
sobre a quebra de sigilo do caseiro e
a denúncia feita pelo procurador?
JORGE MATTOSO - Não. Não tem
nada de novo.
FOLHA - O sr. também foi denunciado com Palocci.
MATTOSO - Não sei. Vocês já tiveram acesso à denúncia?
FOLHA - O procurador pediu ao STF
que seja aberto inquérito criminal.
MATTOSO - Não sei. Eu não vi
ainda.
FOLHA - O senhor acha justo isso
[denúncia]?
MATTOSO - Simplesmente eu
sei que eu não tenho nada a ver
com o rompimento do sigilo.
FOLHA - O sr. nega que tenha quebrado o sigilo do caseiro?
MATTOSO - Não. Eu nunca quebrei o sigilo de ninguém. Quebrar sigilo significa passar à imprensa ou a alguém -externa à
atividade financeira- alguma
informação. Eu nunca fiz isso.
FOLHA - Nem pediu nem determinou?
MATTOSO - Imagina. Quem passou isso à imprensa é que tem
que dar a explicação. Todo
mundo sabe que não tenho nada a ver com isso. Vocês sabem.
A imprensa sabe quem foi que
passou. Não estou entendendo.
FOLHA - O sr. acha que quem passou isso à imprensa é quem tem de
ser responsabilizado?
MATTOSO - Eu não acho nada.
FOLHA - E quem foi que passou à
imprensa?
MATTOSO - Não sei. Vocês é que
sabem tudo.
FOLHA - O sr. acha que o crime foi
ter passado uma informação sigilosa à imprensa?
MATTOSO - Veja bem, eu não fiz
nada mais do que passar a informação para o Coaf, que era
minha obrigação, e para o meu
superior. Ponto.
Quem passou para a imprensa e quem divulgou isso é que
tem que prestar contas.
FOLHA - Mas o sr. foi procurar se informar sobre a transação. Era obrigação do sr. se informar?
MATTOSO - Minha obrigação
era a de passar esta informação
ao Coaf.
FOLHA - E ao seu superior, que era
o ministro Palocci?
MATTOSO - Isso. Não tem nada
de novo. Absolutamente nada
de novo. Então é isso.
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