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EUA veem "erro" em apoio do Brasil ao Irã e elevam pressão
Às vésperas da visita de Hillary, americanos cobram posição mais dura do governo Lula
Lula defende sua relação com a república islâmica, suspeita de buscar a bomba, e afirma: "Quero para o Irã o que eu quero para o Brasil"
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM WASHINGTON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Às vésperas da visita da secretária de Estado dos EUA,
Hillary Clinton, ao Brasil, o governo americano avisou que
considera "um erro" a posição
brasileira contrária a novas
sanções contra o Irã visando
impedir que o programa nuclear da república islâmica seja
usado para construir a bomba,
como suspeita a ONU.
Ao mesmo tempo, os EUA
enviam sinais de que terão o
que oferecer para amainar a posição brasileira na crítica questão nuclear -Brasília considera as pressões sobre o Irã um
prelúdio do que pode ocorrer
consigo, embora rejeite a bomba, e vê hipocrisia das potências
que já a possuem.
"Nós realmente consideramos um erro [a posição brasileira contrária a sanções ao
Irã]. Vamos encorajar o Brasil a
pressionar os iranianos para
que eles cumpram com os acordos internacionais", afirmou
em Washington Arturo Valenzuela, que é o mais alto diplomata americano para a região.
"Se o Brasil usar esse relacionamento para fazer com que o
Irã cumpra os compromissos
assumidos internacionalmente, terá sido um passo importante. Se não, nós ficaremos desapontados", afirmou.
Em El Salvador, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva comentou sua visita ao Irã em
maio. "Estou indo para o Irã como vou a qualquer país do
mundo. Os EUA nunca pediram para mim para não viajar
para qualquer país. Eu quero
para o Irã o que eu quero para o
Brasil", disse.
"Cenário desapontador"
Já um dos chefes de Valenzuela, o número 3 da diplomacia americana, William Burns,
chegou ontem a Brasília para
falar sobre Irã e os outros temas da visita de Hillary, que começa na quarta-feira que vem.
Mais diplomático, evitou em
entrevista à Folha criticar diretamente o Brasil, mas elencou a crítica já conhecida aos
aiatolás e disse que, se ainda há
espaço para negociações, "o cenário é desapontador".
"As sanções não são para punir, mas para mostrar que há
consequências nas ações do
Irã", afirmou Burns.
Em conversas com o chanceler Celso Amorim e outras autoridades, o subsecretário de
Assuntos Políticos Burns acenou com a possibilidade de os
EUA darem passos visando o
próprio desarmamento.
Ele disse que EUA e Rússia
pretendem concluir um novo
acordo de redução de ogivas
nucleares antes da revisão do
TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), em maio. Desde 2005 o TNP não registra
avanços, e o Brasil usa o não
desarmamento das potências
como justificativa para não
aderir a extensões do tratado.
Nas conversas, Burns acenou, inclusive, com a possibilidade de os entendimentos com
a Rússia ocorrerem até abril, a
tempo de o presidente Barack
Obama poder comemorar a novidade na cúpula de presidentes sobre segurança nuclear, à
qual Lula deverá comparecer.
Além de reunir-se com Amorim, Burns almoçou com a subsecretária do Itamaraty para a
área política, embaixadora Vera Machado, e com o diretor do
Departamento de Organismos
Internacionais, Carlos Duarte.
O tema central não foi diretamente a divergência entre os
dois países sobre o Irã, mas sim
sobre a questão que está por
trás: o aumento da produção
mundial e o risco de aventuras
na área nuclear.
Além de discussões sobre o
crescente antiamericanismo
na América Latina, Hillary terá
uma agenda econômica. Burns
afirmou que as equipes negociadoras americanas estão tentando fechar um acordo para
evitar que o Brasil inicie a retaliação permitida pela Organização Mundial do Comércio
devido ao contencioso ganho
pelo país contra os EUA por
causa dos subsídios dados aos
produtores de algodão.
(LEANDRA PERES, ELIANE CANTANHÊDE, IGOR GIELOW E SIMONE IGLESIAS)
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