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EUA dão última cartada para vender caças
Americanos dizem que escolha de seu Boeing F-18 facilitaria a negociação para a compra de aviões da Embraer por Washington
Como negócio não está na praça, é visto por brasileiros como conversa de vendedor; modelo de caça francês é o atual favorito do governo
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em uma última cartada para
tentar reverter a escolha do
francês Dassault Rafale como
novo caça da FAB, os Estados
Unidos sugeriram ao Brasil que
uma eventual seleção de seu
Boeing F-18 facilitaria a negociação para a compra de cerca
de 200 Super Tucanos da Embraer por Washington.
A Folha apurou que o recado
foi enviado, de forma diplomática e discreta, pela delegação
que prepara a visita na semana
que vem da secretária de Estado, Hillary Clinton, a Brasília.
O subsecretário para Assuntos
Políticos, número 3 da hierarquia diplomática americana,
esteve ontem com o ministro
Nelson Jobim (Defesa).
Mas William Burns não quis
comentar a possibilidade da
compra dos Super Tucanos. "O
que posso dizer é que o F-18 é o
melhor caça disponível, o único
provado em combate real, e
que oferecemos uma transferência de tecnologia sem precedentes", disse. O assunto será retomado por Hillary.
O negócio dos Super Tucanos, turboélice de ataque e treinamento, vem sendo acalentado há meses pela Embraer.
Eles seriam absorvidos principalmente pela Marinha americana -que já comprou uma
unidade para testes. Como é
um produto estrangeiro e não
tem similar americano, pode
ser comprado diretamente pelo governo sem a necessidade
de licitação, obrigatória no caso
de haver uma opção local.
Não se trata de uma questão
de compensação em termos de
preço. Depois de várias renegociações, o governo decidiu
comprar o Rafale em um pacote de 36 aviões com manutenção por 30 anos na casa dos
US$ 10 bilhões. O F-18 foi oferecido por US$ 7,7 bilhões. O
modelo preferido na avaliação
técnica da FAB, o sueco Gripen
NG, por US$ 6 bilhões. Os três
aviões são os finalistas da concorrência dos caças, que se arrasta há quase uma década.
Por um preço de US$ 10 milhões por avião, valor médio
das recentes vendas da Embraer do Super Tucano na
América do Sul, o negócio americano poderia sair por algo como US$ 2 bilhões. Mas abriria
um mercado virgem ao país e
daria uma sinalização estratégica -são poucos os países que
têm equipamento sendo usado
pelas Forças Armadas mais poderosas do mundo.
Como o negócio não está na
praça, naturalmente é visto pelos brasileiros como conversa
de vendedor. Jobim e os militares brasileiros têm grande restrição a produtos americanos
pelo justificado medo de que
embargos futuros inviabilizem
o uso do avião ou de algum de
seus sistemas de armas.
O ministro chegou a desqualificar o Gripen por ter uma
turbina americana, derivada da
utilizada no próprio F-18. O
problema da crítica é que ela
ignora o fato de os Super Tucanos que a FAB opera principalmente na Amazônia terem motores "made in USA".
Além disso, há uma decisão
política de manter a França como parceira militar prioritária
do Brasil. Desde o ano passado,
foram assinados acordos para
comprar R$ 22,5 bilhões em
submarinos e helicópteros.
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