São Paulo, sábado, 27 de fevereiro de 2010

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EUA dão última cartada para vender caças

Americanos dizem que escolha de seu Boeing F-18 facilitaria a negociação para a compra de aviões da Embraer por Washington

Como negócio não está na praça, é visto por brasileiros como conversa de vendedor; modelo de caça francês é o atual favorito do governo


IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


Em uma última cartada para tentar reverter a escolha do francês Dassault Rafale como novo caça da FAB, os Estados Unidos sugeriram ao Brasil que uma eventual seleção de seu Boeing F-18 facilitaria a negociação para a compra de cerca de 200 Super Tucanos da Embraer por Washington.
A Folha apurou que o recado foi enviado, de forma diplomática e discreta, pela delegação que prepara a visita na semana que vem da secretária de Estado, Hillary Clinton, a Brasília. O subsecretário para Assuntos Políticos, número 3 da hierarquia diplomática americana, esteve ontem com o ministro Nelson Jobim (Defesa).
Mas William Burns não quis comentar a possibilidade da compra dos Super Tucanos. "O que posso dizer é que o F-18 é o melhor caça disponível, o único provado em combate real, e que oferecemos uma transferência de tecnologia sem precedentes", disse. O assunto será retomado por Hillary.
O negócio dos Super Tucanos, turboélice de ataque e treinamento, vem sendo acalentado há meses pela Embraer. Eles seriam absorvidos principalmente pela Marinha americana -que já comprou uma unidade para testes. Como é um produto estrangeiro e não tem similar americano, pode ser comprado diretamente pelo governo sem a necessidade de licitação, obrigatória no caso de haver uma opção local.
Não se trata de uma questão de compensação em termos de preço. Depois de várias renegociações, o governo decidiu comprar o Rafale em um pacote de 36 aviões com manutenção por 30 anos na casa dos US$ 10 bilhões. O F-18 foi oferecido por US$ 7,7 bilhões. O modelo preferido na avaliação técnica da FAB, o sueco Gripen NG, por US$ 6 bilhões. Os três aviões são os finalistas da concorrência dos caças, que se arrasta há quase uma década.
Por um preço de US$ 10 milhões por avião, valor médio das recentes vendas da Embraer do Super Tucano na América do Sul, o negócio americano poderia sair por algo como US$ 2 bilhões. Mas abriria um mercado virgem ao país e daria uma sinalização estratégica -são poucos os países que têm equipamento sendo usado pelas Forças Armadas mais poderosas do mundo.
Como o negócio não está na praça, naturalmente é visto pelos brasileiros como conversa de vendedor. Jobim e os militares brasileiros têm grande restrição a produtos americanos pelo justificado medo de que embargos futuros inviabilizem o uso do avião ou de algum de seus sistemas de armas.
O ministro chegou a desqualificar o Gripen por ter uma turbina americana, derivada da utilizada no próprio F-18. O problema da crítica é que ela ignora o fato de os Super Tucanos que a FAB opera principalmente na Amazônia terem motores "made in USA".
Além disso, há uma decisão política de manter a França como parceira militar prioritária do Brasil. Desde o ano passado, foram assinados acordos para comprar R$ 22,5 bilhões em submarinos e helicópteros.


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