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São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2003

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PROGRAMA EM XEQUE

Em sabatina no Senado, Mercadante sai em defesa do ministro

Oposição ataca o Fome Zero; Graziano admite dificuldades

Lula Marques/Folha Imagem
O senador Eduardo Suplicy (PT) entrega a José Graziano um cheque de R$ 500, doado ao Fome Zero por Arthur Virgílio (PSDB-AM)


GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em meio a bombardeio da oposição, liderada por parlamentares do PMDB, PSDB e PFL, o ministro José Graziano (Segurança Alimentar) tentou explicar no Senado o Fome Zero. Admitiu que o programa gerou muita expectativa na sociedade e que o governo tem dificuldades de cumpri-la.
Durante as quatro horas da sabatina, o senador Aloizio Mercadante, líder do governo na Casa, atuou como uma espécie de "bateria antiaérea" para defender Graziano dos ataques da oposição. "O Mercadante tem feito a defesa política dos ministros que vieram ao Senado, mas Graziano foi o mais vacilante e ele acabou tendo de ser mais enfático", avaliou César Borges (PFL-BA).
Mercadante respondeu às críticas mais duras dos senadores, defendeu politicamente o programa gerenciado por Graziano e bateu no governo passado. Afirmou, por exemplo, que alguns programas sociais de Fernando Henrique Cardoso foram eleitoreiros.
Coube ao ministro o papel de explicar os meandros técnicos do Fome Zero, como cadastro de beneficiários e a política agrícola.
Graziano disse que o "excesso de zelo" do governo foi o causador do atraso na divulgação dos números das duas contas bancárias do Fome Zero. Citou como exemplo uma associação do Ceará, a Associação Canção, que chegou a emitir boletos bancários em nome do programa para coletar doações em dinheiro.
Segundo o ministro, a divulgação do número das contas na imprensa estava prevista para coincidir com o lançamento do site do programa e da propaganda de televisão, ocasiões em que os números seriam bastante divulgados.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sugeriu aos senadores que dessem uma contribuição de R$ 500 ao programa. O líder do PSDB na Casa, Arthur Virgílio, fez disso um fato político e deu sua contribuição, durante um discurso em que pediu "transparência" sobre os gastos de viagem do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Graziano iniciou sua exposição desculpando-se pela declaração feita na Fiesp, em fevereiro, quando associou a migração de nordestinos para São Paulo à violência urbana.
Ele foi ao Senado atendendo solicitação de membros de três comissões: Constituição e Justiça, Assuntos Econômicas e Assuntos Sociais. Mas menos da metade dos senadores inscritos conseguiu interrogar o ministro, que ficou de voltar em nova data.
O plenário estava lotado. Os senadores da oposição questionaram Graziano sobre o fim do cadastro único -uma lista que concentra dados de 6 milhões de famílias- e que serviu de base para os programas sociais de FHC.
Para o governo atual, o cadastro tem falhas e foi usado de forma eleitoreira. Graziano tem citado uma auditoria do Tribunal de Contas da União que detectou a duplicidade nas inscrições.
A determinação do ministro é que antes de o Fome Zero ser instalado nos municípios, o cadastro local seja refeito só que sem a influência do prefeito.
Para Romero Jucá (PSDB-RR) e César Borges (PFL-BA) há o risco de, sem os prefeitos, o programa ser usado de forma eleitoreira pelo governo federal. Dos 179 novos municípios que serão atendidos a partir de maio, 25% têm prefeito do PFL e 24% do PMDB. Nenhuma prefeitura é do PT.
Para Mercadante e Graziano, o melhor exemplo de cadastramento de famílias pobres do governo passado é o do Bolsa-Alimentação, coordenado pelo ex-ministro da Saúde, José Serra, candidato do PSDB derrotado à Presidência.


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