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JANIO DE FREITAS
Abaixo os velhos
O governo que quis os nonagenários enfileirados à porta
do INSS para se provarem vivos
-exigência que honraria os eugenistas do nazismo, mas a Lula
pareceu apenas "um pequeno gol
contra" do sinistro Ricardo Berzoini- está pronto para praticar, nesta semana, um ardil que
burla uma das raras proteções à
velhice lembradas pelos autores
da Constituição.
As aposentadorias devem ser
reajustadas na mesma proporção
em que o seja o salário mínimo. A
idéia, portanto, de dar um reajuste ao salário mínimo e "compensá-lo" com reajuste melhor do salário-família é uma providência
contra os aposentados, sem direito ao salário-família. O truque
permite a afirmação de que o preceito de reajustes idênticos estará
cumprido, mas o espírito da
Constituição, tão óbvio no seu
propósito democrático e humanitário de evitar a penúria agravada na velhice, estará violado por
uma deliberação imoral.
Lula tem consciência da nova
investida contra a velhice sob sua
assinatura e responsabilidade.
Em seu programa radiofônico de
quarta-feira passada, um capítulo a mais dessa espécie de novela
do populismo, Lula comunicou
aos aposentados que a cassação
do devido reajuste das aposentadorias terá, também, uma "compensação". Serão criadas (sempre
este futuro impreciso e de tão difícil confirmação) linhas de financiamento, para aposentados, com
pagamento em até 24 prestações
e que não passem de 30% do valor da aposentadoria.
A maioria absoluta dos aposentados pelo INSS gasta a aposentadoria, antes de encerrado o mês,
com comida, gás, luz e aluguel. Se
sobrar alguma coisa, gasta com
remédio. É o que está constatado
em conhecidos trabalhos do IBGE, do Ipea, do Dieese, até mesmo do INSS. Em tais condições,
com que dinheiro o aposentado
do INSS pagará empréstimos? O
reajuste era esperado para compensar os aumentos naqueles
gastos vitais. Logo, o que Lula
propõe é que o aposentado e o
pensionista dependentes de salário mínimo, quando não de menos, faça empréstimos bancários
para comprar comida, pagar o
botijão de gás, a luz. E, feito o empréstimo para "compensar" a
garfada governamental em um
mês, o aposentado vai esperar
outros 23 meses para o segundo
empréstimo.
A burla ao propósito constitucional pretende reduzir o gasto
do INSS com reajuste das aposentadorias. O governo, porém, consumiu metade do ano parlamentar de 2003 com o que chamou de
"reforma da Previdência". A respeito, o procurador-geral da República, Cláudio Fontelles, acaba
de dizer o suficiente: o ponto mais
importante da "reforma", a cobrança de contribuição previdenciária de servidores aposentados
e pensionistas, desrespeita a
Constituição. Foi para isso a reforma? Ou para agora agredir a
Constituição porque nada a "reforma" fez no que precisa ser reformado?
Já provada a inveracidade dos
slogans "Sem medo de ser feliz",
"O espetáculo do crescimento" e
outros, o governo pode adotar
verdadeira fiel à sua índole:
"Abaixo a velhice".
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