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BRASIL PROFUNDO
Polícia Federal mantém agentes na terra dos índios cintas-largas; 29 garimpeiros foram mortos no local
PF busca novos corpos em reserva indígena
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
A Polícia Federal informou ontem que mantém, desde o dia 14,
agentes dentro da terra indígena
Roosevelt, em Rondônia, em busca de corpos de garimpeiros mortos no confronto com índios cintas-largas no dia 7 passado.
Desde então, foram retirados 29
corpos da área -três no dia 11 e
26 no dia 19. Segundo o sindicalista Celso Fantin, do Sindicato dos
Garimpeiros de Espigão d'Oeste
(534 km de Porto Velho), pelo
menos 14 homens ainda estão desaparecidos na reserva.
A PF diz não ter uma lista oficial
de garimpeiros desaparecidos.
"Como era um garimpo clandestino, quem tem coragem entra.
Não existe essa lista oficial", afirmou François René, assessor de
imprensa da Polícia Federal.
Ontem, 16 dos 29 corpos retirados da terra Roosevelt foram enterrados -um em Pimenta Bueno (515 km de Porto Velho) e 15,
não identificados por familiares,
em Espigão d'Oeste. Os demais já
haviam sido enterrados.
Nos caixões, foram anexadas
placas com o número do processo
da PF que investiga as mortes.
O sindicalista Fantin disse que o
número do processo pode facilitar a identificação futura, já que
médicos do IML (Instituto Médico Legal) de Porto Velho recolheram amostras dos corpos e de
sangue de pessoas que procuraram parentes desaparecidos para
exames de DNA. Cerca de 300
pessoas, segundo a PM, foram ao
enterro em Espigão d'Oeste.
De acordo com a PF, as buscas
na reserva passaram a fazer parte
da fase Mamoré da Operação
Rondônia -que foi deflagrada
no dia 20, com prazo de 180 dias e
com o objetivo de coibir o crime
organizado no Estado.
A operação teve uma fase inicial, de inteligência, coordenada
pela Abin (Agência Brasileira de
Inteligência). A última fase será
focada na fronteira com a Bolívia.
Cemitério clandestino
O delegado da Polícia Civil de
Rondônia Iramar Gonçalves da
Silva, 48, que dirigiu em 1987 e
2003 a delegacia regional da cidade de Cacoal, a 200 km da entrada
da reserva indígena Roosevelt,
afirmou que cerca de 200 garimpeiros desapareceram na terra
dos índios cintas-largas a partir de
1999, quando começaram a entrar
na reserva para extrair diamantes.
Segundo ele, os desaparecimentos foram relatados por garimpeiros, que informaram ainda a existência de cemitérios clandestinos
dentro da reserva. Iramar Silva
diz que dez índios já foram indiciados pela delegacia de Cacoal
(480 km de Porto Velho) sob a
acusação de crimes na reserva.
"Tem muita gente desaparecida, inclusive a existência de cemitérios clandestinos. Antigamente
os índios matavam e deixavam
[os corpos] em cima da terra. A
partir do momento que nós começamos a pedir a prisão preventiva dos índios, eles começaram a
esconder os corpos na mata."
Em março, ele foi preso -e
posteriormente solto- por porte
ilegal de armas. Ele também é
acusado de participar de um esquema de compras de diamantes
extraídos na reserva Roosevelt. O
delegado nega a acusação.
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