São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 2006

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CRISE NO GOVERNO/ VIOLAÇÃO DE SIGILO

Em entrevista improvisada, presidente diz que nunca foi questionado sobre o caso

Irritado, Lula se recusa a responder sobre caseiro

EDUARDO SCOLESE
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em uma entrevista de cerca de 20 minutos ontem à noite, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, irritado, que não daria opinião sobre a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Lula disse ainda que todos os dias conversa com "milhares de pessoas" e que "ninguém nunca perguntou" sobre o assunto.
O presidente falou de surpresa durante evento de lançamento de livro do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília. Disse que fará um "discurso Lulinha, paz e amor" na reunião do encontro nacional do PT, amanhã, em São Paulo.
A quebra dos sigilos do caseiro Francenildo causou uma das maiores crises no governo Lula e resultou na demissão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e do presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso.
"Não dou opinião [sobre a violação]. Isso a CPI vai julgar, a Polícia Federal vai julgar", afirmou, antes de novamente ser questionado e demonstrar nervosismo com o tema. "Eu ando todo o dia, converso com milhares de pessoas e ninguém nunca me perguntou isso."

Inaugurações
Sobre sua candidatura à reeleição, Lula voltou a dizer que ainda não está decidido, apesar de a oposição dizer que ele já está em campanha ao participar de inaugurações de obras. "Não vou decidir escondido, vou decidir publicamente."
Por enquanto, ele afirma estar preocupado com a inauguração de obras. "Se eu disser que sou candidato, eu não posso fazer [inauguração]. E se o partido [PT] fizer convenção [prevista para junho], vai ficar mais difícil."
Ele ironizou os que reclamam de suas ações como presidente. "Estamos numa fase em que a única forma de as pessoas dizerem que eu não sou candidato é se eu ficar preso das 8 da manhã até as 10 da noite no meu gabinete e ninguém me ver. Se eu sair pra cumprimentar alguém, vão dizer eu sou candidato."
Para ele, o livro de Mercadante, "Brasil: Primeiro Tempo - Análise Comparativa do Governo Lula", é um "retrato fiel" do país. "Esse livro é uma constatação", afirmou o presidente, ao lado do líder do governo no Senado.

Economia
Antes da entrevista, chamou para uma rápida conversa o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Disse a ele que ouviu críticas na imprensa sobre controle da inflação e que tanto Meirelles como o ministro Guido Mantega (Fazenda) deveriam "ir ao debate" para responder a essas críticas.
Depois, já na conversa com a imprensa, defendeu a política econômica do governo, citando o ex-ministro Palocci. "Quem fez o sacrifício fomos nós. Quem foi xingado durante meses foi o Meirelles, foi o Palocci, foi o presidente Lula, foi o Aloizio Mercadante que nos defendia, foi o Renan. É normal que as pessoas queiram mais."

Eleição
Lula também falou rapidamente sobre PMDB e PSDB durante a entrevista improvisada. Questionado se a demora de PSDB e PFL para escolher o vice do tucano Geraldo Alckmin o favorece, afirmou: "Não tenho a menor noção." Disse que sua preocupação atual é "ajudar" o presidente do Senado, Renan Calheiros, a "pacificar o PMDB".
E prosseguiu, desta vez citando Alckmin. "Antigamente, no Brasil, o PT era tido como o partido que só brigava. Hoje eu fico vendo a situação do Renan [PMDB] e a situação do Alckmin [PSDB], eu fico pensando: nossa, puxa vida, como o PT é tranqüilo."


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