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CRISE NO GOVERNO/ VIOLAÇÃO DE SIGILO
Em entrevista improvisada, presidente diz que nunca foi questionado sobre o caso
Irritado, Lula se recusa a responder sobre caseiro
EDUARDO SCOLESE
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em uma entrevista de cerca de
20 minutos ontem à noite, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
afirmou, irritado, que não daria
opinião sobre a quebra do sigilo
bancário do caseiro Francenildo
dos Santos Costa. Lula disse ainda
que todos os dias conversa com
"milhares de pessoas" e que "ninguém nunca perguntou" sobre o
assunto.
O presidente falou de surpresa
durante evento de lançamento de
livro do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília.
Disse que fará um "discurso Lulinha, paz e amor" na reunião do
encontro nacional do PT, amanhã, em São Paulo.
A quebra dos sigilos do caseiro
Francenildo causou uma das
maiores crises no governo Lula e
resultou na demissão do ministro
da Fazenda, Antonio Palocci, e do
presidente da Caixa Econômica
Federal, Jorge Mattoso.
"Não dou opinião [sobre a violação]. Isso a CPI vai julgar, a Polícia Federal vai julgar", afirmou,
antes de novamente ser questionado e demonstrar nervosismo
com o tema. "Eu ando todo o dia,
converso com milhares de pessoas e ninguém nunca me perguntou isso."
Inaugurações
Sobre sua candidatura à reeleição, Lula voltou a dizer que ainda
não está decidido, apesar de a
oposição dizer que ele já está em
campanha ao participar de inaugurações de obras. "Não vou decidir escondido, vou decidir publicamente."
Por enquanto, ele afirma estar
preocupado com a inauguração
de obras. "Se eu disser que sou
candidato, eu não posso fazer
[inauguração]. E se o partido [PT]
fizer convenção [prevista para junho], vai ficar mais difícil."
Ele ironizou os que reclamam
de suas ações como presidente.
"Estamos numa fase em que a
única forma de as pessoas dizerem que eu não sou candidato é se
eu ficar preso das 8 da manhã até
as 10 da noite no meu gabinete e
ninguém me ver. Se eu sair pra
cumprimentar alguém, vão dizer
eu sou candidato."
Para ele, o livro de Mercadante,
"Brasil: Primeiro Tempo - Análise
Comparativa do Governo Lula", é
um "retrato fiel" do país. "Esse livro é uma constatação", afirmou
o presidente, ao lado do líder do
governo no Senado.
Economia
Antes da entrevista, chamou para uma rápida conversa o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Disse a ele que ouviu críticas na imprensa sobre
controle da inflação e que tanto
Meirelles como o ministro Guido
Mantega (Fazenda) deveriam "ir
ao debate" para responder a essas
críticas.
Depois, já na conversa com a
imprensa, defendeu a política
econômica do governo, citando o
ex-ministro Palocci. "Quem fez o
sacrifício fomos nós. Quem foi
xingado durante meses foi o Meirelles, foi o Palocci, foi o presidente Lula, foi o Aloizio Mercadante
que nos defendia, foi o Renan. É
normal que as pessoas queiram
mais."
Eleição
Lula também falou rapidamente sobre PMDB e PSDB durante a
entrevista improvisada. Questionado se a demora de PSDB e PFL
para escolher o vice do tucano Geraldo Alckmin o favorece, afirmou: "Não tenho a menor noção." Disse que sua preocupação
atual é "ajudar" o presidente do
Senado, Renan Calheiros, a "pacificar o PMDB".
E prosseguiu, desta vez citando
Alckmin. "Antigamente, no Brasil, o PT era tido como o partido
que só brigava. Hoje eu fico vendo
a situação do Renan [PMDB] e a
situação do Alckmin [PSDB], eu
fico pensando: nossa, puxa vida,
como o PT é tranqüilo."
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