São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Yoshiaki Nakano, um dos principais colaboradores do presidenciável Geraldo Alckmin, propõe que déficit nominal seja zerado

Economista tucano quer desvalorizar real

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O economista Yoshiaki Nakano, um dos principais colaboradores do pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, defendeu ontem a fixação em lei de um prazo de dois anos para que o déficit nominal seja zerado no país. Diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, ele afirma que, sem cortes capazes de permitir que a arrecadação da União seja maior que as despesas, não será possível voltar a crescer.
"Se formos incapazes de fazer isso, que é o mínimo, mínimo necessário para começar a mudar, então esquece." Na saída do debate promovido pela FGV, Nakano afirmou que o cumprimento do prazo "depende de vontade política". "Zerando em dois anos, sobram mais dois para governar."
Pela proposta de Nakano, a mesma lei estabeleceria um prazo de dez anos para redução da proporção dívida/PIB de cerca de 50% para 30%.
A recuperação econômica dependeria do casamento desse ajuste fiscal vigoroso -em média, de 10% a 15% do PIB- com a desvalorização do real. Segundo ele, esses são os dois "elementos-chave" para a retomada do crescimento. "Não vejo como o país voltar a crescer a não ser com o câmbio desvalorizado." Assim, diz, será possível aumentar as exportações, gerando emprego e aumentando a demanda interna.
Nakano reconhece, porém, que a desvalorização "evidentemente, vai gerar inflação". "Pode gerar pressão inflacionária."
Para deter a inflação, o ajuste. Segundo ele, todas as experiências bem sucedidas de ajuste "foram precedidas por desvalorização cambial". "Você faz ajuste cambial e a economia começa a recuperar. Aí, pode fazer corte de gastos -e a experiência em corte de gastos é de 10%, 15% do PIB- isso não provoca recessão."
Graças ao modelo, o governo -sem déficit- poderia reduzir a taxa de juros por não depender mais de financiamento. "O grande problema é fazer essa transição com dosagem correta, de uma forma que não bote a economia numa situação complicada."
No debate, Nakano apresentou o ajuste como meio de garantir investimentos em infra-estrutura. "Precisamos recompor o Estado desenvolvimentista. Não precisamos mais ter vergonha de ser desenvolvimentista. Até pouco tempo, quando se falava em desenvolvimentismo, você era pichado de toda forma. Agora, já tenho até coragem de falar que precisamos de um Estado desenvolvimentista", disse o economista.
Ele citou exemplos de sua atuação no governo Mario Covas (1995-2001), mas disse que não haveria receita para ajuste. "Como faz? Cortando. Não tem jeito. É uma caixa-preta. Você vai descobrir o que está lá dentro", disse.
Questionado, Nakano apontou Alckmin como candidato capaz de implementar essas medidas, "por ter saído da mesma escola".
Secretário no governo Covas, Nakano presta assessoria informal a Alckmin, desde 2005, quando era chamado, aos domingos, ao Palácio dos Bandeirantes. Alckmin costuma consultá-lo antes de viagens pelo país, como a que fez a Rio Verde, em Goiás.
Segundo o coordenador de programa de Alckmin, João Carlos Meirelles, Nakano é um dos "principais colaboradores" do tucano. Mas o candidato ouve "várias vertentes para decidir a que melhor casa crescimento e desenvolvimento social".


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