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Juiz se defende e culpa governo por sua prisão
Denunciado por venda de sentenças, Ricardo Regueira, do TRF, se diz perseguido pelo Executivo por ser "independente"
Magistrado culpa governo e procuradores por sua prisão e diz que pertence a uma categoria de pessoas "que não dobram a espinha"
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
O juiz Ricardo Regueira, denunciado por venda de decisões judiciais, defendeu ontem
suas medidas em favor de casas
de bingo e culpou ora o governo
ora o Ministério Público e a Polícia Federal por sua prisão.
Ele negou ter recebido valores por decisões e disse ser perseguido por ser "independente", o que incomoda o Executivo. ""Essa história foi inventada
pelo governo, que incentiva a
atividade depois a proíbe, e
quem termina pagando são os
contribuintes. Sonega direitos,
depois cria operações espetaculosas [da PF]", disse Regueira, que é juiz do TRF (Tribunal
Regional Federal) da 2ª Região,
em entrevista na sede do órgão.
Regueira citou até o presidente da República e os ministros como "culpados". "Quem é
que define a política econômica? Quem sonega os direitos
são o ministro da Fazenda, o
presidente da República."
Mais adiante, disse: "Atribuo
isso ao MPF e à PF. Há gente
que dobra a espinha e há quem
não dobra. Pertenço à segunda
categoria. Não tenho mais medo de nada, todos os meus medos foram exorcizados. Não
vou mudar minhas convicções
porque os outros querem."
Segundo a denúncia do MPF,
Regueira mantinha "vínculos
com a organização criminosa",
como demonstram duas decisões favoráveis aos bingos e escutas ambientais no gabinete
de Carreira Alvim. Ontem, o
juiz se recusou a falar sobre a
gravação: "Não nego nada, não
falo sobre isso: está sob sigilo".
O juiz do TRF contestou as
acusações de vender liminares
e de ter cooptado o colega. Chamou as denúncias de "ridículas" e "absolutamente falsas".
"Não me consta que seja proibido decidir. É função precípua
de quem integra o Judiciário, e
o juiz não pode ser punido por
decisões que tomou", declarou.
Segundo o juiz, "o esquema é
uma fantasia, não existe."
Ele contestou trecho da denúncia segundo o qual mantinha "sofisticado esquema de
proteção" no gabinete -ele negou ter o equipamento. Disse
que a PF não apreendeu planilha segundo a qual teria recebido R$ 119 mil em 1999 e 2000, e
que não esteve em reunião com
bingueiros em restaurante do
contraventor Antônio Kalil.
Regueira reclamou da prisão
em Brasília ("infecta e com vaso entupido"), da comida, de ter
de limpar a cela e da truculência dos policiais. Disse ter sido
obrigado a dormir no chão e a
usar o banheiro de porta aberta: "Já pensou ir ao banheiro
com o camarada olhando, com
fuzil? Fazer as necessidades fisiológicas com a porta aberta e
um Rambo à porta." Protestou
contra o exame de corpo de delito. "Fomos obrigados a fazer
exame nus, na frente de uma
médica, que, usando expressões um tanto quanto chulas,
mandou: "levante o saco"."
A Procuradoria Geral da República afirmou que "não há
perseguição no MPF. Existe investigação na qual foram encontrados fortes indícios de envolvimento dos denunciados
na prática de crime de corrupção passiva, formação de quadrilha e prevaricação. O trabalho do procurador-geral é pautado pela atuação estritamente
dentro dos fatos investigados."
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