São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

MP quer apoio para investigar crime organizado no Estado

Para dirigente da OAB, máfia toma conta do Espírito Santo

LUIZ CAVERSAN
ENVIADO ESPECIAL A VITÓRIA

O crime organizado assumiu tal proporção no Estado do Espírito Santo que tomou conta do governo estadual, infiltrando-se também nos poderes Legislativo e Judiciário, num formato semelhante ao da Máfia italiana.
A comparação é do presidente da seção capixaba da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Agessandro da Costa Pereira, 72, que está recebendo ameaças de morte e hoje vive sob a proteção da Polícia Federal.
Pereira foi o pivô, na semana passada, de uma decisão que roubou um pouco o brilho da indicação da deputada Rita Camata (PMDB-ES) como pré-candidata a vice na chapa de José Serra: o pedido, por parte do presidente nacional da OAB, Rubens Approbato Machado, de intervenção federal no Espírito Santo.
Pior: o ministro da Justiça, Miguel Reale Jr., disse que a solicitação deve ser aceita.
"A única maneira de conseguir alguma coisa contra a criminalidade no Estado é por intermédio de uma ação forte de forças federais; aqui eles agem como a Máfia", diz Pereira, que relaciona os tipos de crimes praticados: homicídio, falsificação, intimidação, extorsão, exploração do jogo do bicho, agiotagem, financiamento ilegal de campanhas eleitorais.
Instituições "dominadas", segundo ele: Polícia Civil, Polícia Militar, órgãos do governo estadual "que cuidam de dinheiro" e até mesmo Ministério Público estadual e Judiciário, os dois últimos em apenas "alguns setores".
Eis alguns fatos que reforçam a posição de Pereira: o assassinato, no começo de abril, do advogado Marcelo Denadai, que ameaçava denunciar esquema de fraudes supostamente montado por empresários locais; as prisões de um soldado, um sargento e do coronel da PM Walter Gomes Ferreira, acusado da morte de um sindicalista a quem supostamente chantageava; o indiciamento do presidente da Assembléia Legislativa, José Carlos Gratz (PFL), na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Narcotráfico; quatro processos contra o governador José Ignácio Ferreira no STJ por crime contra a administração pública. E uma infinidade de investigações feitas pelo MP.
Para o presidente da OAB, o medo predomina: "Certamente a criminalidade passa pela Assembléia Legislativa. Mas ninguém depões contra o Gratz, por exemplo. As pessoas têm medo".
Na opinião do advogado, deveriam ser investigadas as "influências" exercidas pela Assembléia, bem como as ligações de seu presidente com o jogo do bicho.
Pereira afirma ainda que a pressão dos criminosos que estariam infiltrados no governo impede a ação de quem tem autoridade e não está envolvido. "Os juízes que não conseguem corromper eles intimidam. O ex-secretário da Segurança Pública me disse que estava deixando o cargo porque só podia reprimir crimes pequenos."
Pereira admite que a criminalidade é um problema nacional. "Mas, em outros Estados, como São Paulo, o poder público combate o crime, não é conivente."

Grupo especial
O Ministério Público Estadual tem um grupo especial de promotores que trabalha especificamente na repressão ao crime organizado. O promotor Fabio Vello chefia o grupo e concorda com o presidente da OAB sobre o apoio federal para combater as organizações criminosas.
Vello relaciona alguns crimes que foram ou estão sendo investigados: extorsão (cita o caso do coronel Ferreira), fraude, agiotagem, jogo do bicho, assassinatos (cita o caso do advogado Denadai, do sindicalista João Nato e de outro advogado, Carlos Batista, além do prefeito do município de Serra, José Maria Feu Rosa), venda de proteção, lavagem de dinheiro.
"Só será possível combater o crime organizado no Espírito Santo com a ajuda da "banda boa" da polícia, agentes da Polícia Federal vindos de fora e vontade política", diz Vello. Com relação à infiltração do crime nas instituições públicas, dá um exemplo esclarecedor: "Dos 120 policiais do 6º Batalhão da PM, nada menos que 56 são suspeitos numa sindicância da própria corporação".
Quanto à ala "civil" dos criminosos, Vello afirma que suas atividades não se restringem ao Espírito Santo. "Há um esquema cujo objetivo é fraudar licitações em prefeituras do Estado do Rio."


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