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RUMO ÀS ELEIÇÕES
MP quer apoio para investigar crime organizado no Estado
Para dirigente da OAB, máfia toma conta do Espírito Santo
LUIZ CAVERSAN
ENVIADO ESPECIAL A VITÓRIA
O crime organizado assumiu tal
proporção no Estado do Espírito
Santo que tomou conta do governo estadual, infiltrando-se também nos poderes Legislativo e Judiciário, num formato semelhante ao da Máfia italiana.
A comparação é do presidente
da seção capixaba da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil),
Agessandro da Costa Pereira, 72,
que está recebendo ameaças de
morte e hoje vive sob a proteção
da Polícia Federal.
Pereira foi o pivô, na semana
passada, de uma decisão que roubou um pouco o brilho da indicação da deputada Rita Camata
(PMDB-ES) como pré-candidata
a vice na chapa de José Serra: o pedido, por parte do presidente nacional da OAB, Rubens Approbato Machado, de intervenção federal no Espírito Santo.
Pior: o ministro da Justiça, Miguel Reale Jr., disse que a solicitação deve ser aceita.
"A única maneira de conseguir
alguma coisa contra a criminalidade no Estado é por intermédio
de uma ação forte de forças federais; aqui eles agem como a Máfia", diz Pereira, que relaciona os
tipos de crimes praticados: homicídio, falsificação, intimidação,
extorsão, exploração do jogo do
bicho, agiotagem, financiamento
ilegal de campanhas eleitorais.
Instituições "dominadas", segundo ele: Polícia Civil, Polícia
Militar, órgãos do governo estadual "que cuidam de dinheiro" e
até mesmo Ministério Público estadual e Judiciário, os dois últimos em apenas "alguns setores".
Eis alguns fatos que reforçam a
posição de Pereira: o assassinato,
no começo de abril, do advogado
Marcelo Denadai, que ameaçava
denunciar esquema de fraudes
supostamente montado por empresários locais; as prisões de um
soldado, um sargento e do coronel da PM Walter Gomes Ferreira,
acusado da morte de um sindicalista a quem supostamente chantageava; o indiciamento do presidente da Assembléia Legislativa,
José Carlos Gratz (PFL), na CPI
(Comissão Parlamentar de Inquérito) do Narcotráfico; quatro
processos contra o governador
José Ignácio Ferreira no STJ por
crime contra a administração pública. E uma infinidade de investigações feitas pelo MP.
Para o presidente da OAB, o
medo predomina: "Certamente a
criminalidade passa pela Assembléia Legislativa. Mas ninguém
depões contra o Gratz, por exemplo. As pessoas têm medo".
Na opinião do advogado, deveriam ser investigadas as "influências" exercidas pela Assembléia,
bem como as ligações de seu presidente com o jogo do bicho.
Pereira afirma ainda que a pressão dos criminosos que estariam
infiltrados no governo impede a
ação de quem tem autoridade e
não está envolvido. "Os juízes que
não conseguem corromper eles
intimidam. O ex-secretário da Segurança Pública me disse que estava deixando o cargo porque só
podia reprimir crimes pequenos."
Pereira admite que a criminalidade é um problema nacional.
"Mas, em outros Estados, como
São Paulo, o poder público combate o crime, não é conivente."
Grupo especial
O Ministério Público Estadual
tem um grupo especial de promotores que trabalha especificamente na repressão ao crime organizado. O promotor Fabio Vello
chefia o grupo e concorda com o
presidente da OAB sobre o apoio
federal para combater as organizações criminosas.
Vello relaciona alguns crimes
que foram ou estão sendo investigados: extorsão (cita o caso do coronel Ferreira), fraude, agiotagem, jogo do bicho, assassinatos
(cita o caso do advogado Denadai,
do sindicalista João Nato e de outro advogado, Carlos Batista, além
do prefeito do município de Serra, José Maria Feu Rosa), venda de
proteção, lavagem de dinheiro.
"Só será possível combater o
crime organizado no Espírito
Santo com a ajuda da "banda boa"
da polícia, agentes da Polícia Federal vindos de fora e vontade política", diz Vello. Com relação à
infiltração do crime nas instituições públicas, dá um exemplo esclarecedor: "Dos 120 policiais do
6º Batalhão da PM, nada menos
que 56 são suspeitos numa sindicância da própria corporação".
Quanto à ala "civil" dos criminosos, Vello afirma que suas atividades não se restringem ao Espírito Santo. "Há um esquema cujo
objetivo é fraudar licitações em
prefeituras do Estado do Rio."
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