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CAMPO MINADO
Série de reportagens mostrou que o Desenvolvimento Agrário inflava o número de famílias beneficiadas
Ministro faz censo para localizar assentados
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
RUBENS VALENTE
DO PAINEL
Para saber quantas famílias estão efetivamente assentadas no
país, o Ministério do Desenvolvimento Agrário divulgou ontem
que fará um censo nacional para
"localizar" e traçar um perfil socioeconômico dos agricultores
beneficiados pelo programa da
reforma agrária.
A decisão de realizar o censo indica que os balanços de assentamentos apresentados anualmente
pelo governo federal tinham como base meros registros contábeis e não refletiam a realidade.
Em entrevista à Folha no final
de abril, o presidente do Incra
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Sebastião
Azevedo, admitiu que o órgão
desconhece o número de famílias
assentadas de fato no país.
Em pronunciamento que foi ao
ar ontem à noite em cadeia nacional de rádio e TV, o ministro do
Desenvolvimento Agrário, José
Abrão, apontou um déficit de 130
mil moradias nos assentamentos
do país, a ser zerado ainda neste
ano. Sem casa e outras obras de
infra-estrutura, segundo manual
do Incra, uma família não pode
ser considerada assentada.
No mês passado, uma série de
reportagens da Folha mostrou
que o governo federal, por meio
do Ministério do Desenvolvimento Agrário, infla os números de famílias assentadas para efeitos de
publicidade, utilizando terrenos
vazios, assentamentos que não
saíram do papel e áreas onde não
existe infra-estrutura básica (água
tratada, luz e esgoto).
Quatro dias após a primeira reportagem, o ministério baixou
portaria que considera terrenos
baldios como "assentamentos" e
pessoas que nem sequer estão nas
terras como "assentadas", determinações que contrastam com
conceitos do "Manual dos Assentados e da Norma de Execução do
Incra", de março de 2001.
A portaria foi a solução governamental para a existência de "assentamentos fantasmas" nos balanços do ministério, como os encontrados pela reportagem no
Maranhão e no Distrito Federal.
No pronunciamento de ontem,
o ministro não usou a informação
de FHC e do ex-ministro Raul
Jungmann de que 600 mil famílias
foram assentadas em sete anos.
Abrão só disse que o governo tem
"investido forte na reforma agrária e no apoio à agricultura familiar". O ministro também não
mencionou que o censo servirá
para localizar cada assentado,
conforme consta de nota oficial
divulgada ontem pelo ministério.
Abrão afirmou apenas que o censo será feito para traçar o perfil socioeconômico das famílias.
Segundo a nota, de 90 a 120 dias
"será pesquisada a localização dos
assentados, suas condições de vida, situação geral das comunidades e nível da renda familiar".
A pesquisa ficará por conta de
servidores do Incra, que serão capacitados pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística). O convênio entre os órgãos
foi assinado na sexta-feira. O valor a ser gasto não foi divulgado.
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