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VIAGEM AO ORIENTE
"Não viajo a um país para fazer julgamento político dos seus problemas", afirma presidente; Anistia critica repressão na China
Direitos humanos é tema superado, diz Lula
DE PEQUIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva disse ontem que a questão dos direitos humanos na China é "um problema superado".
Segundo ele, o assunto foi discutido na Organização das Nações
Unidas, e o Brasil concluiu que a
China colocou na Constituição o
respeito aos direitos humanos.
"A ONU discutiu e resolveu o
problema para nós", afirmou Lula
em entrevista coletiva em Xangai.
O presidente embarca hoje para
Guadalajara (México), onde participará de encontro entre os dirigentes do Mercosul e da União
Européia para a negociação de
um acordo de livre comércio.
O comunicado conjunto que
Lula assinou na segunda-feira
com o presidente chinês, Hu Jintao, critica a "politização" do tema dos direitos humanos, atitude
que a China freqüentemente atribui aos Estados Unidos. Na entrevista, Lula evitou fazer comentários sobre a situação da democracia na China: "Eu não viajo a um
país para fazer julgamento político dos problemas do país".
O presidente lembrou que o
Brasil votou a favor da China na
Organização das Nações Unidas,
o que evitou a apreciação de um
relatório que condenava a questão dos direitos humanos no país.
Anistia Internacional
O pesquisador da Anistia Internacional (uma das mais influentes organizações de defesa dos direitos humanos do mundo) para
o Brasil, Tim Cahill, disse ontem
que Lula deveria ter mencionado
os abusos contra direitos civis e
políticos dos chineses, em vez de
apenas citar as conquistas econômicas e sociais do governo.
Na contramão do que disse o
presidente Lula, o relatório anual
da Anistia sobre a situação mundial dos direitos humanos, divulgado ontem em Londres (Reino
Unido), faz uma série de críticas
às políticas repressivas da China
em 2003. "Dezenas de milhares de
pessoas continuaram a ser detidas
ou presas em violação de seus direitos de liberdade de expressão e
associação, correndo sério risco
de tortura ou maus tratos."
Parte dessas prisões foi feita em
razão de uso da internet e de mensagens de texto em celulares para
"divulgar segredos de Estado",
"defender idéias subversivas" ou
"espalhar rumores" relativos à
epidemia de Sars (síndrome respiratória aguda grave), que atingiu o país no ano passado.
A ONG afirma que houve um
aumento da repressão a minorias,
principalmente da comunidade
Uighur, majoritariamente muçulmana, e de líderes da região do Tibete, que buscam independência.
Segundo a Anistia, a pena de
morte "continuou a ser usada extensivamente e arbitrariamente".
Foram 1.639 sentenças de morte
em 2003, com 726 execuções. A
entidade diz acreditar que os números reais são maiores. O relatório aponta que milhares de refugiados da ditadura norte-coreana
que pediram asilo à China foram
enviados de volta a seu país.
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