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Pela 1ª vez, Justiça repatria dinheiro atribuído a Pitta
Cerca de R$ 2,3 milhões, que estavam em conta que seria do ex-prefeito de São Paulo, voltarão aos cofres da cidade
Segundo o Ministério da Justiça, não há registro de dinheiro públicos desviado que tenha retornado ao Brasil antes de condenação
LILIAN CHRISTOFOLETTI
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de R$ 2,3 milhões que
estavam depositados em conta
do ex-prefeito de São Paulo
Celso Pitta (1997-2000) no exterior foram repatriados e voltarão aos cofres da prefeitura.
Para o Ministério Público, o valor provém de desvios de dinheiro público ocorridos durante a construção da avenida
Água Espraiada, atual Jornalista Roberto Marinho.
É a primeira vez que parte do
dinheiro que teria sido desviado pelos ex-prefeitos Paulo
Maluf (PP) e por Pitta em obras
públicas voltam para o país.
O total estimado pela Promotoria da Cidadania como verba
pública desviada é de R$ 240
milhões. "A maior parte do dinheiro foi para o ex-prefeito
Paulo Maluf, cujas contas estão
bloqueadas. Ainda estamos rastreando outros destinos do dinheiro", afirmou o promotor
Sílvio Marques.
O valor repatriado foi depositado anteontem em uma conta
da 14ª Vara da Fazenda Pública
de São Paulo. A juíza Simone
Casoretti decidirá quando e como o montante será remetido à
prefeitura. A princípio, como se
trata de uma verba originalmente destinada a obras públicas, deverá ter o mesmo fim.
Há quatro anos, Marques e o
colega Sérgio Sobrane Turra
tentavam descobrir a rota do
dinheiro de Pitta. A primeira
informação sobre a conta não-declarada no Brasil partiu da
ex-primeira-dama Nicéa Camargo, ex-mulher de Pitta, em
dezembro de 2001.
A conta foi aberta em nome
do casal na cidade de Nova
York, em 1994, quando Pitta
ainda era secretário das Finanças na administração de Maluf.
Depois, o valor foi transferido para Zurique (Suíça), no
Multi Commercial Bank, passou para a ilha de Guernsey, paraíso fiscal no canal da Mancha,
foi para o principado de Liechtenstein e, finalmente, para as
ilhas Cayman, onde ficou por
cinco anos.
A repatriação é uma das medidas tomadas dentro do processo cível aberto contra Pitta
por enriquecimento ilícito e má
gestão pública em 2001.
Mesmo sem o processo ter sido julgado, o dinheiro retornou
ao Brasil porque Nicéa, titular
da conta junto com o ex-marido, autorizou a repatriação em
novembro de 2005. O fato de
Pitta ter declarado à Promotoria que não tinha contas no exterior acelerou o trâmite.
Segundo o Ministério da Justiça, é a primeira vez que ocorre
a repatriação de dinheiro público antes de qualquer condenação. "Se Pitta entrar com um
recurso judicial para impedir a
repatriação, será uma espécie
de confissão de culpa", afirmou
Marques, que se mostra cético
em relação a essa possibilidade.
Maluf
A construção da avenida Jornalista Roberto Marinho começou no primeiro ano da gestão de Maluf, em 1993, e foi
concluída em 2000, com Pitta.
Segundo o Ministério Público,
cerca de 30% do total da obra
foi desviado e beneficiou os
dois ex-prefeitos, além de ex-servidores municipais e empreiteiras.
Antenor Braido, ex-secretário da Comunicação da gestão
Pitta, reafirmou ontem que os
R$ 2.335.366,73 que retornaram ao Brasil não pertenciam
ao ex-prefeito.
"O ex-prefeito Celso Pitta
desconhece esse assunto porque não teve acesso aos documentos. Ele entende que pode
ser uma ação de adversários
que querem prejudicá-lo politicamente ou uma manobra para
desviar a atenção da opinião
pública dos recentes escândalos", afirmou Braido.
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