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Governo transforma Luz para Todos em feudo do PT
No centro de escândalo, programa é tocado por políticos derrotados e egressos da CUT
Só 9 dos 26 coordenadores
regionais do projeto, que
procura levar energia
elétrica a toda a população,
têm claro perfil técnico
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No centro do escândalo da
Operação Navalha, que derrubou o ministro Silas Rondeau
(Minas e Energia), o Programa
Luz para Todos entrou no loteamento político do governo
federal como um feudo de petistas e da CUT (Central Única
dos Trabalhadores).
Lançado em 2004, o programa de eletrificação rural rende
bons dividendos políticos ao
governo. Com R$ 7,5 bilhões já
contratados, almeja universalizar o acesso à energia elétrica
até o ano que vem, beneficiando 2 milhões de famílias. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em mais de uma oportunidade, elogiou o programa durante discursos pelo país.
Na última terça-feira, Rondeau pediu demissão, após a
Polícia Federal ter apontado
suposto recebimento de R$ 100
mil em propina da construtora
Gautama para fraudar obras do
programa no Piauí. O coordenador nacional do Luz para Todos, José Ribamar Lobato Santana, também caiu por causa do
escândalo.
Santana chefiava uma equipe
de 26 coordenadores regionais.
Eles percorrem seus Estados
vendendo os benefícios do Luz
para Todos, frequentando gabinetes de parlamentares e autoridades estaduais, articulando
com movimentos sociais, inaugurando postes de luz e colocando placas de promoção.
Exercem funções de alto potencial político.
Muitos dos caciques regionais do Luz para Todos aliam
trabalho na área energética
com perfil político. Há casos de
candidatos pelo PT que perderam eleições no passado, como
os coordenadores no Rio Grande do Sul, Acre e Amapá.
Outros são egressos da máquina da CUT, em geral ex-diretores de sindicatos de trabalhadores em energia ou serviços urbanos. Exemplos são os
coordenadores no Rio de Janeiro, Rondônia, Espírito Santo e Pará.
Há ainda simpatizantes que
fizeram campanha aberta para
Lula e o PT no ano passado, alguns com doações, como os
coordenadores na Paraíba, Rio
Grande do Norte e Ceará.
Os responsáveis com perfil
eminentemente técnico são
minoria nas coordenações regionais -estão em 9 dos 26 Estados atingidos.
As nomeações para as coordenações são feitas pelo Ministério de Minas e Energia. Muitos dos gerentes estaduais são
petistas e cutistas que integram
os quadros da Eletrobras.
"Trabalho na Eletronorte,
bato ponto todo dia. A influência partidária na minha indicação foi zero", diz Paulo Luiz da
Silva, coordenador no Amapá.
Além de sindicalista, Silva
tentou ser deputado estadual
pelo PT em 2002. Repetindo o
padrão dos petistas alocados no
programa, perdeu. Também
colocou um representante da
CUT na coordenação estadual
do projeto.
No Espírito Santo, o programa é tocado por um diretor do
Sindicato dos Trabalhadores
em Energia (CUT), Paulo Alves
Gobira, que também diz ter
perfil técnico. "Sou funcionário
de Furnas há 28 anos."
No comando do projeto, ele
diz que trabalha com apoio da
Igreja, sindicatos rurais e o
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
"Somos parceiros".
Outros aliados do governo
também têm seus apadrinhados. No Maranhão, o gerente
regional, Luiz Adriel Vieira Neto, é um aliado da família Sarney que foi "resgatado" após ter
sido exonerado da direção da
Cepisa (Companhia Energética
do Piauí), há dois anos. A então
ministra de Minas e Energia,
Dilma Rousseff, apontou "problemas de gestão". Alguns meses depois Vieira Neto assumia
o Luz para Todos no Maranhão,
onde permanece até hoje.
O Luz para Todos é um programa do governo federal para
levar energia elétrica a toda a
população. Ele é financiado
com recursos de fundos do setor elétrico (CDE e RGR), bancados por encargos embutidos
nas tarifas de energia pagas pelos consumidores. Esses fundos são geridos pelo governo.
De acordo com os últimos
números do Ministério de Minas e Energia, o programa já tinha contratado R$ 7,52 bilhões.
Desse total, R$ 1,05 bilhão foi
bancado por governos estaduais, R$ 1,13 bilhão pelas próprias distribuidoras e o restante pelos fundos geridos pelo governo federal. Com o programa
foram feitas 1,176 milhão de ligações elétricas. Para cumprir
as metas, será preciso fazer
mais 824 mil ligações.
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