São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2008

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Prêmio Nobel critica benefícios sociais

Economista Edmund Phelps faz ressalva sobre Bolsa Família, que seria "grande passo na direção certa"

DA SUCURSAL DO RIO

O economista Edmund Phelps, ganhador do prêmio Nobel do setor em 2006 e professor da Universidade Columbia (EUA), disse ontem que o governo deve evitar o excesso na concessão de benefícios de bem-estar social em um cenário de necessidade de uso dos recursos púbicos para infra-estrutura e suporte aos negócios.
Em palestra no Fórum Nacional, organizado pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso na sede do BNDES no Rio, Phelps fez a ressalva, no entanto, que não inclui o Bolsa Família na categoria de benefício criticada. "É um programa estrutural para criar potencial de grande dinamismo econômico, que requer educação do público em geral. É um grande passo na direção certa", disse.
Na avaliação do economista, os benefícios de bem-estar social não são uma conspiração da esquerda para explorar os ricos porque estes raramente se preocupam com aumentos modestos nas taxas. Para Phelps, eles são mais próximos de uma conspiração da direita para comprar a solidariedade da classe média. "Na luta entre Hillary Clinton, que faz campanha pelo bem-estar social, e Barack Obama, cuja campanha foca no trabalho e no desenvolvimento, sei perfeitamente de que lado estou", disse.
Phelps afirmou que o Brasil deve aproveitar o período de grandes oportunidades com a alta nos preços de commodities para tornar sua economia sólida, dinâmica e próspera.
"Espero que a economia brasileira evolua para uma maior participação de inovação e dinamismo econômico e para que não seja tão dependente de preços de produtos primários, que às vezes sobem, mas às vezes caem", disse. Sobre a crise americana, afirmou que talvez as coisas não estejam mais "críticas". "Neste sentido a crise acabou, mas ainda há alguns ferimentos a curar", disse.
O economista Alberto Fishlow, também professor da Universidade Columbia, afirmou no Fórum Nacional que programas com o Bolsa Família são de alcance limitado e afirmou que o Brasil tem gastos públicos de nível escandinavo. "Na ausência de mudanças na situação educacional do país, o Bolsa Família será apenas um mecanismo de transferência de renda com eficácia temporária." Segundo ele, o país precisará também fazer novas reformas na Previdência Social em um futuro próximo: "O perigo será o de os idosos se beneficiarem às custas dos jovens".
Sobre o futuro, disse que o país terá que aumentar a produtividade de forma constante, avançar na qualificação da mão-de-obra e aumentar a poupança do país via redução do gasto público. "O Brasil tem gastos públicos semelhantes aos dos países escandinavos [economias pequenas e ricas, com alta carga tributária]. Reduzir os gastos do governo será um desafio político para toda uma geração [...] É o momento para escolhas decisivas."
Fishlow, que foi subsecretário de Estado para Assuntos Interamericanos, nos anos 70, e é considerado um dos "brasilianistas" mais atuantes na comunidade acadêmica americana, fez um diagnóstico da economia brasileira na primeira sessão do fórum.
Fishlow criticou o que chamou de "ênfase exagerada no gasto das universidades públicas": "É um sistema que beneficia quem estudou em escolas particulares no primeiro e segundo graus. É uma transferência de renda de pobres para ricos". (JL e RM)


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