São Paulo, quarta-feira, 27 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lula e Chávez admitem falta de consenso sobre refinaria

Vazamento de áudio de reunião entre presidentes evidencia frustração de venezuelano

Lula tenta contemporizar, mas Gabrielli diz que falta de entendimento em pontos fundamentais impede acordo sobre refinaria em PE


Antonio Lacerda/Efe
Os presidentes Hugo Chávez (Venezuela) e Luiz Inácio Lula da Silva dão entrevista em Salvador

LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR
MATHEUS MAGENTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Depois de quatro horas reunidos a portas fechadas, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez (Venezuela) admitiram ontem em Salvador (BA) o fracasso de mais uma rodada nas negociações para firmar parceria entre Petrobras e PDVSA na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, projeto anunciado desde 2005 e que até hoje não saiu do papel.
Ontem, os dois presidentes deram aos técnicos mais 90 dias para tentarem um acerto entre a estatal brasileira e a venezuelana, mas o clima de descrédito prevaleceu.
"O acordo está andando milimetricamente, sabe? Se a construção da Muralha da China levasse o mesmo tempo que a Petrobras e a PDVSA [levam para se acertar], a humanidade acabaria e a gente não teria o primeiro quilômetro da muralha pronto", afirmou Lula, em discurso ao lado de Chávez.
As dificuldades nas negociações ficaram evidentes depois que parte da conversa reservada entre Lula, Chávez, Petrobras e PDVSA pôde ser ouvida pela imprensa. Devido a um erro técnico, os aparelhos de tradução simultânea distribuídos pela Presidência captaram o áudio do encontro.
A portas fechadas, Lula tentou amenizar as divergências: "Se eu conseguir eleger a Dilma [Rousseff], eu vou ser o presidente da Petrobras e você, Gabrielli [José Sérgio Gabrielli, presidente da estatal], vai ser meu assessor. Aí o acordo sai".
Pouco antes, o venezuelano havia atacado a Petrobras, afirmando que a falta de parceria nessa área era "o ponto fraco" da relação entre os dois países.
"Confesso a minha frustração", disse Chávez. "Não temos sido capazes", disse, citando que Estados Unidos, Rússia e Cuba têm parcerias com a Venezuela na faixa do Orinoco. "Estamos produzindo 600 mil barris diários [no Orinoco], mas aí vem a Petrobras e pede informações adicionais", acrescentou o venezuelano, de acordo com o que pôde ser escutado no sistema de áudio.
"Não podemos oferecer à Petrobras preços preferenciais. Tem de ser preço do mercado, no mundo inteiro funciona assim", disse o venezuelano. Ele citou ainda que até com a China foi feito acordo nessa área. "E vocês sabem muito bem como é avançar na China."
O acerto inicial em torno da construção e da sociedade na refinaria de Abreu e Lima previa 60% de participação da Petrobras e 40% de propriedade da PDVSA. Havia um projeto complementar, de exploração do bloco de petróleo extrapesado Carabobo 1, na faixa do Orinoco, na Venezuela.
Até hoje, no entanto, a Petrobras está tocando o projeto de Abreu e Lima sozinha, porque não há entendimento, de acordo com o que Gabrielli disse ontem, em três pontos fundamentais: o preço do petróleo, o custo do investimento e a comercialização dos produtos oriundos da refinaria. Também não houve avanço no envolvimento da Petrobras no Orinoco.
Brasil e Venezuela assinaram ontem um total de 12 acordos. Ficou acertado, por exemplo, que a Venezuela terá prazo de 45 dias para apresentar projetos a serem financiados pelo BNDES. O montante pode chegar a R$ 4,3 bilhões.


Texto Anterior: Elio Gaspari: Na aula de Obama, história e sabedoria
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.