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Lula e Chávez admitem falta de consenso sobre refinaria
Vazamento de áudio de reunião entre presidentes evidencia frustração de venezuelano
Lula tenta contemporizar, mas Gabrielli diz que falta de entendimento em pontos fundamentais impede acordo sobre refinaria em PE
Antonio Lacerda/Efe
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Os presidentes Hugo Chávez (Venezuela) e Luiz Inácio Lula da Silva dão entrevista em Salvador
LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR
MATHEUS MAGENTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Depois de quatro horas reunidos a portas fechadas, os presidentes Luiz Inácio Lula da
Silva e Hugo Chávez (Venezuela) admitiram ontem em Salvador (BA) o fracasso de mais
uma rodada nas negociações
para firmar parceria entre Petrobras e PDVSA na refinaria
Abreu e Lima, em Pernambuco,
projeto anunciado desde 2005
e que até hoje não saiu do papel.
Ontem, os dois presidentes
deram aos técnicos mais 90
dias para tentarem um acerto
entre a estatal brasileira e a venezuelana, mas o clima de descrédito prevaleceu.
"O acordo está andando milimetricamente, sabe? Se a construção da Muralha da China levasse o mesmo tempo que a Petrobras e a PDVSA [levam para
se acertar], a humanidade acabaria e a gente não teria o primeiro quilômetro da muralha
pronto", afirmou Lula, em discurso ao lado de Chávez.
As dificuldades nas negociações ficaram evidentes depois
que parte da conversa reservada entre Lula, Chávez, Petrobras e PDVSA pôde ser ouvida
pela imprensa. Devido a um erro técnico, os aparelhos de tradução simultânea distribuídos
pela Presidência captaram o
áudio do encontro.
A portas fechadas, Lula tentou amenizar as divergências:
"Se eu conseguir eleger a Dilma
[Rousseff], eu vou ser o presidente da Petrobras e você, Gabrielli [José Sérgio Gabrielli,
presidente da estatal], vai ser
meu assessor. Aí o acordo sai".
Pouco antes, o venezuelano
havia atacado a Petrobras, afirmando que a falta de parceria
nessa área era "o ponto fraco"
da relação entre os dois países.
"Confesso a minha frustração", disse Chávez. "Não temos
sido capazes", disse, citando
que Estados Unidos, Rússia e
Cuba têm parcerias com a Venezuela na faixa do Orinoco.
"Estamos produzindo 600 mil
barris diários [no Orinoco],
mas aí vem a Petrobras e pede
informações adicionais", acrescentou o venezuelano, de acordo com o que pôde ser escutado
no sistema de áudio.
"Não podemos oferecer à Petrobras preços preferenciais.
Tem de ser preço do mercado,
no mundo inteiro funciona assim", disse o venezuelano. Ele
citou ainda que até com a China
foi feito acordo nessa área. "E
vocês sabem muito bem como é
avançar na China."
O acerto inicial em torno da
construção e da sociedade na
refinaria de Abreu e Lima previa 60% de participação da Petrobras e 40% de propriedade
da PDVSA. Havia um projeto
complementar, de exploração
do bloco de petróleo extrapesado Carabobo 1, na faixa do Orinoco, na Venezuela.
Até hoje, no entanto, a Petrobras está tocando o projeto de
Abreu e Lima sozinha, porque
não há entendimento, de acordo com o que Gabrielli disse ontem, em três pontos fundamentais: o preço do petróleo, o custo do investimento e a comercialização dos produtos oriundos da refinaria. Também não
houve avanço no envolvimento
da Petrobras no Orinoco.
Brasil e Venezuela assinaram
ontem um total de 12 acordos.
Ficou acertado, por exemplo,
que a Venezuela terá prazo de
45 dias para apresentar projetos a serem financiados pelo
BNDES. O montante pode chegar a R$ 4,3 bilhões.
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