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TV educativa quer abandonar propaganda
Emissoras admitem estar na ilegalidade e propõem trocar publicidade por recursos de fundo de fomento
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
As TVs educativas reconheceram, ontem, no 2º Fórum
Nacional de TVs Públicas, que
estão em situação ilegal, por
veicularem propaganda comercial. A propaganda é proibida
pelo decreto-lei 236/67, que
continua em vigor.
As emissoras propõem trocar
a propaganda por patrocínios
culturais e recursos públicos.
"Estamos na ilegalidade cínica e consciente", afirmou Jorge
da Cunha Lima, presidente do
Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura, que se
comprometeu com o governo
estadual a eliminar a propaganda comercial -que hoje representa 20% de seu orçamento-
no prazo de dois anos.
"A publicidade é incompatível com a linguagem de uma televisão pública independente",
disse o presidente da ABCCom
(Associação Brasileira dos Canais Comunitários), Edivaldo
Farias, ao anunciar a posição
das organizadoras do fórum.
Uma alternativa a ser apresentada é que TVs educativas,
canais comunitários, legislativos e universitários tenham
acesso ao Fundo de Fomento
da Radiodifusão Pública, aprovado na criação da EBC (Empresa Brasil de Comunicação),
do governo federal.
A EBC tem, por lei, 75% dos
recursos do fundo, que é formado com 10% da taxa de arrecadação para fiscalização das telecomunicações cobrada pela
Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações).
O setor recolhe cerca de R$
2,2 bilhões por ano para o Fistel
(Fundo de Fiscalização das Telecomunicações) e vai repassar
cerca de R$ 220 milhões para o
fomento da radiodifusão.
As TVs que se autodenominam emissoras do campo público querem uma fatia desse
bolo para ajudar a financiar sua
migração para a tecnologia digital. Há um movimento para
que o governo destine mais recursos do Fistel à radiodifusão
pública.
O Fistel foi criado para custear a fiscalização do setor de
telecomunicações, mas a Anatel recebe só R$ 300 milhões do
arrecadado. O grosso vai para o
Tesouro Nacional.
O 2º Fórum Nacional de TVs
Públicas termina amanhã, com
a divulgação da "Carta de Brasília", com os pontos de consenso. A carta defenderá que as
emissoras se tornem editorialmente independentes de mercados e de governos, o que exige
nova regulamentação.
As TVs gostariam de ter legislação igual à da TV Brasil,
que tem fonte definida de recursos e conselho com maioria
de representantes da sociedade
civil que aprova a programação.
Nos debates, ontem, houve
consenso de que o decreto-lei
236/67, no regime militar, precisa ser enterrado. O Ministério das Comunicações considera que o decreto, mesmo desrespeitado, ainda está em vigor.
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