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São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2003

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NO AR

Nihil obstat

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Lula tem mais é que ficar quieto, como querem tantos e tantos comentaristas de televisão.
Depois do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, de Boris Casoy e de Franklin Martins, agora é a Igreja Católica que vem questionar os improvisos do presidente.
Mas, como aconteceu um dia antes com o presidente do Congresso, também o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil procurou aceitar Lula como ele é:
- Se ele está solidário com os que mais sofrem, pode pedir a ajuda de Deus.
Era d. Geraldo Majella, ontem na televisão, autorizando Lula a usar o nome de Deus -desde que não o faça "de forma messiânica".
Era ainda uma reação ao discurso que arrepiou alguns ministros do Supremo e parlamentares. No caso, Lula afirmou que "só Deus" pode impedir o Brasil de ocupar seu lugar de destaque no mundo.
Mas, note bem, ontem foi só o "nihil obstat" da Igreja Católica. Da Igreja Universal em diante, não faltam representantes de Deus para se declararem ofendidos ou não.
Em suma, é para ficar quieto.
 
Apesar do pitoresco da discussão "religiosamente correta", o presidente da CNBB saiu do encontro com Lula deixando bem claro seu apoio ao presidente. Chegou a dizer:
- Lula jamais usou o nome de Deus em vão.
Outros se dispunham, ontem, a apoiar o presidente acuado pela opinião pública.
O empresário Antônio Ermírio de Moraes, exemplo maior, falou ao vivo à rádio Bandeirantes e, ao tratar da reforma da Previdência, saiu-se com o seguinte:
- Nota dez para o presidente Lula, viu, nota dez.
E mais, ele também acha que o país "saiu da UTI", ainda que esteja no hospital.
Na mesma direção, também ao tratar da reforma da Previdência, o presidente da CUT, o metalúrgico Luiz Marinho, afirmou às rádios que a central não vai apoiar a greve do funcionalismo.
No Congresso dos Metalúrgicos do ABC, ao falar aos "companheiros de 30 anos", Lula ouvia coros emocionados de velhas campanhas.
De repente, de fontes inusitadas, outras nem tanto, foi como se surgisse um cordão de isolamento ao redor do presidente da República.
 
Mas as más notícias não têm fim. E os telejornais todos abriram ontem com o novo aumento do desemprego.


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