São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/REAÇÃO OFICIAL

Sete governadores avaliam que convenção para discutir participação no governo deixaria presidente à espera e agravaria a crise

Ala do PMDB rejeita mais espaço no governo

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os sete governadores do PMDB e os ex-governadores Orestes Quércia e Anthony Garotinho são contra a ampliação do espaço do partido no governo. Resistem até à idéia de convocação de uma convenção extraordinária para decidir se aceitam a oferta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de dar quatro pastas ao partido.
A Folha apurou que essa resistência será tema de reunião hoje em Brasília entre o presidente do PMDB, deputado federal Michel Temer (SP), e os principais representantes da ala governista da sigla, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o senador José Sarney (AP).
Em almoço no Palácio do Planalto na última sexta-feira, Lula ofereceu a Temer e a Renan quatro ministérios de peso: Minas e Energia, Cidades, Saúde e Integração Nacional. Aventou a possibilidade de o partido manter os que já possui, Previdência e Comunicações, desde que se contente ao final da reforma ministerial com quatro pastas.
O presidente do PMDB, membro da ala oposicionista mas político de temperamento moderado, disse a Lula que faria consultas. Lula disse que esperaria.
Na avaliação de Lula, o PMDB é fundamental para superar a maior crise política de seu governo. Ele quer aumentar a sua proteção no Congresso, onde há investigações parlamentares sobre acusações de corrupção ao governo. O PMDB tem a maior bancada do Senado (23) e a segunda da Câmara (85 deputados).
Desde sexta, Temer tem feito consultas. Afirmou que, pelo que tem ouvido, só uma nova convenção do partido poderia chancelar a aceitação da proposta, pois convenção anterior da legenda decidira pela entrega dos cargos. Isso não aconteceu porque essa última convenção é contestada judicialmente até hoje.

Desgaste
Governadores do PMDB têm dito que uma convenção só faria sentido se for para dizer "sim". Do contrário, só agravariam a crise política, pois deixariam o presidente sem resposta por pelo menos uns dez dias para, ao final, rejeitar a sua proposta.
A ala governista gostaria de responder rapidamente. Renan já sentiu as dificuldades para uma adesão integral do partido. Se ficar claro no curto prazo que será impossível o partido aceitar a oferta, os governistas defenderão que Temer diga a Lula ser melhor deixar tudo como está.
O próprio Temer disse isso a Lula na sexta. Afirmou que, se ele mantivesse a atual fatia de poder, o partido continuaria a apoiar a sua "governabilidade", mas sem compromisso integral da sigla.
Nesse cenário, o mais provável no momento, Lula faria uma renegociação com as forças peemedebistas que já o apóiam. A novidade seria dar um ministério ao grupo de Sarney. O presidente já tem até nome e pasta: Silas Rondeau, presidente da Eletronorte, para Minas e Energia.
Os atuais ministros, Jucá na Previdência e Eunício nas Comunicações, pertencem ao grupo governista e poderiam ser substituídos. Jucá é da cota da bancada do Senado, apadrinhado principalmente por Renan. Eunício representa a bancada da Câmara, onde há forte divisão entre governistas e oposicionistas.
O sucesso ou fracasso da negociação com o PMDB influenciará o tamanho da reforma ministerial em estudo. Num cenário, ela pode afetar 15 dos 35 ministros. A intenção de Lula é abrir espaço para aliados, inclusive para o PP de Severino Cavalcanti (PE), e reduzir a participação dos petistas (19 dos 35 ministros).
A depender da conversa de hoje entre Temer, Sarney e Renan, os governistas podem desaconselhar Lula a fazer reuniões com os sete governadores peemedebistas: Joaquim Roriz (DF), Rosinha Garotinho (RJ), Jarbas Vasconcelos (PE), Luiz Henrique (SC), Germano Rigotto (RS), Roberto Requião (PR) e Marcelo Miranda (TO). Pode ser desgaste inútil.
Exemplo de dificuldade para uma composição completa do PMDB com Lula: em conversas reservadas, Quércia, que apoiou Lula em 2002, queixa-se de ter feito acordos com o próprio presidente que nunca foram honrados. Garotinho também tem reclamações semelhantes. Diz que sua mulher, Rosinha, encaminhou pleitos ao Planalto e à equipe econômica e nunca teve resposta.

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