São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2006

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Toda Mídia

Nelson de Sá

Rebanho de gnus

Depois do "Le Monde", é o "Guardian" que destaca a desproporção da mídia brasileira na Copa, "o maior contingente de todos". Do texto de Alex Bellos:
- Por que eles são tantos e o que estão fazendo?... O Brasil mede sua história em Copas, e existe uma sede insaciável por informação sobre a equipe nacional. Os treinamentos têm cobertura minuto a minuto, com transmissão ao vivo de exercícios de alongamento...

Pior fez a agência Reuters, sob o título"Brasil traz uma mídia de enlouquecer [a rampaging media] para a Copa":
- O Brasil traz seu colorido bando de mídia de 600. Como um rebanho de gnus cruzando o Serengeti [parque no Quênia], a mídia brasileira desce sobre locais insuspeitos, aplanando -e entrevistando- tudo em seu caminho.
Vai daí para baixo, com trechos como, "sem jogadores para entrevistar, eles preenchem as suas reportagens entrevistando uns aos outros".
A exemplo do "Guardian", a Reuters destacou a Globo -que "despachou até os apresentadores de todos os seus quatro telejornais diários".

 

Enquanto isso, a manchete do dia no Brasil era "Leitura labial irrita Parreira", no enunciado da Folha Online.
Agastado com os supostos palavrões apontados pelos "jovens surdos" convocados pelo "Fantástico", ele acusou "invasão de privacidade".
E a Globo acusou o golpe. Fátima Bernardes leu editorial em que declarou, a certa altura, que a reportagem da Globo era "mais entretenimento do que jornalismo".

www.alt1040.com/Reprodução
CERVEJA Estrela no Rio, Gilberto Gil ganhou vídeo viral ao provar uma Free Beer, sem copyright, dizendo "vamos compartilhar a fórmula", "não precisa pagar", "it's not just free, it's good"

PROPRIEDADE COMUM
"New York Times" e dezenas de sites e blogs "indie" do mundo baixaram no Rio para cobrir "a inusitada aliança global de artistas, cientistas e advogados". O assunto: "creative commons", o movimento para abrir o copyright, os direitos de toda criação, em especial as digitais.
Da BBC ao MSN e agora à Radiobrás de Eugênio Bucci, do Pearl Jam aos Beastie Boys, a coisa avança. No evento, a atração foi o ministro Gil, que falou a Larry Rohter:
- Há consciência cada vez maior de que a propriedade intelectual deve ser vista de forma diferente do passado.

"LULA AGAIN"
O lançamento da campanha de Lula foi noticiado ontem ao longo da imprensa internacional de centro-esquerda.
No título do "Le Monde", que mal citou os escândalos, "Lula é candidato à reeleição em nome das reformas". No "Independent", "Lula se recupera do escândalo para se candidatar". Por todo lado, menções à origem humilde etc.
E versões várias do slogan lulista, como no "Guardian":
- Lula again. With the strength of the people.

O HOMEM MISTÉRIO
Na América Latina, o argentino "La Nación" trazia na manchete, na versão on-line, "Kirchner apóia a reeleição de Lula". Mas não é para os dois -ambos candidatos- que se voltam as atenções externas.
É para o mexicano López Obrador, candidato domingo. O "Financial Times", em contraste com a cobertura na região, diz que o esquerdista é o favorito, em textos como "Cresce o momento para Obrador". Fez até perfil, sob o título "O homem mistério".

"TASTELESS"
Também o lançamento de Geraldo Alckmin ganhou alguma cobertura, ao menos na atual edição da "Economist" -sob o título "Um intruso com uma (pequena) chance".
Na passagem de maior ironia, a "Economist" tentou traduzir "picolé de chuchu", da expressão de José Simão, e cometeu "a tasteless vegetable on a stick", um vegetal sem gosto em uma vareta.

TUDO-SOB-CONTROLE
Também no exterior (onde tratam as quatro centenas de mortos pela polícia paulista como "chacina"), ecoou em sites como NYT.com a notícia de que "a polícia matou em tiroteio 13 suspeitos de serem membros de gangues".
Na declaração do secretário Saulo de Castro Abreu ao "Jornal Nacional", "esta operação é um bom aviso para quem pretende atacar prédio público, quer dizer, de como será a ação da polícia".
Do blog de Xico Sá, só ele:
- O tudo-está-sob-controle que sai da boca das autoridades nunca foi tão irreal.


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@ - Nelson de Sá


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