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Mendes vendia "facilidades", diz engenheiro
Afirmação foi feita por Courtadon, ex-consultor da Alstom, a promotores que investigam o pagamento de propina a tucanos de SP
Segundo Ministério Público, Claudio Mendes fornecia contatos com pessoas do governo de São Paulo para empresas da área de energia
MARIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O engenheiro Jean-Pierre
Courtadon declarou ao Ministério Público que o sociólogo
Claudio Mendes, apontado como pivô do caso Alstom, vendia
facilidades e contatos com pessoas do governo de São Paulo
para empresas da área de energia, segundo a Folha apurou.
Os dois são investigados no caso Alstom sob suspeita de terem recebido recursos que depois foram distribuídos para políticos do PSDB paulista entre 1998 e 2003, nos governos
de Mario Covas e Geraldo Alckmin, ambos do partido.
Mendes e seus associados receberam cerca de US$ 5 milhões nesse período de empresas controladas pela Alstom,
segundo o Ministério Público
da Suíça. A Alstom está sob investigação na Suíça e na França, sob a suspeita de ter pago
propinas para empresas do
Brasil, da Venezuela, de Cingapura e da Indonésia.
Um dos documentos mantidos sob sigilo pelos suíços cita o
nome de Courtadon, um francês naturalizado brasileiro, e
diz que a Cegelec, empresa
comprada pela Alstom em
1997, estava disposta a pagar
uma comissão de 7,5% para obter um contrato de R$ 110 milhões da então estatal Eletropaulo -o valor da propina corresponde a R$ 8,25 milhões.
Segundo um ex-executivo da
Cesp entrevistado pela Folha,
Mendes usava seu escritório da
avenida Faria Lima, área nobre
de São Paulo, para receber fornecedores da área de energia e
dirigentes de estatais. Uma de
suas empresas, a Inter Empresarial Turismo e Câmbio, ficava nessa avenida.
Courtadon parece saber do
que está falando quando diz
que Mendes vendia acesso ao
governo de São Paulo para empresas do setor de energia.
O francês foi diretor comercial da filial brasileira da Cegelec entre 1983 e 1996. No ano
seguinte, foi contratado como
consultor da empresa para viabilizar um contrato de 1990
que estava na gaveta por falta
de financiamento internacional -o chamado aditivo 10 do
projeto Gisel (Grupo Industrial
para o Sistema da Eletropaulo),
criado em 1983 para modernizar o sistema elétrico paulista.
O aditivo previa a compra de
sete transformadores para uma
subestação no Cambuci, na região central de São Paulo. Foi
para obter esse contrato que a
Alstom teria oferecido a propina de R$ 8,25 milhões.
O consultor
Em entrevista à Folha, Courtadon confirmou que o "Courtadon" citado no memorando
francês que fala da propina deve ser ele mesmo. Os dois documentos foram trocados em setembro e outubro de 1997. O contrato da Eletropaulo foi assinado no ano seguinte.
O primeiro desses memorandos cita os nomes de Courtadon e Claudio Mendes, apontado como o "intermediário
com o G. [governo] de SP".
Courtadon disse que à época
em que era diretor da Cegelec
conheceu um Claudio Mendes.
À Folha, porém, apresentou
uma versão diferente do que
dissera ao Ministério Público:
"Esclareço que o que eu disse a
respeito do sr. Cláudio Mendes
foi que há muito tempo fui procurado por ele, que oferecia
serviços de intermediação, a
fim de viabilizar negócios absolutamente lícitos, mas que jamais se concretizaram".
Mendes contou à Folha uma
terceira versão, divergente -a
de que procurou a Cegelec para
oferecer um negócio que usaria
contêiner em bases de antenas
para telefonia celular.
Courtadon diz que, no seu
caso, não faz sentido a acusação do Ministério Público suíço
de que os contratos de consultoria eram fictícios e serviam
para dar uma aparência legal
ao dinheiro que seria usado para pagar propina.
Inicialmente, o engenheiro
disse à Folha por telefone que
foi contratado para dar consultoria financeira. Ao ser questionado de que a engenharia financeira, um financiamento do
banco francês Société Générale, viera pronta da França, ele
não quis fazer comentários.
Por e-mail, apresentou uma
versão mais genérica: "Meu
contrato de consultoria foi
uma verdadeira prestação de
serviço, pois eu tinha as capacidades técnicas como engenheiro formado em eletricidade e
mecânica. Além disso, tinha
nessa época profundo conhecimento do aditivo 10".
O engenheiro conta que durante os dois anos que prestou
consultoria à Alstom organizou
reuniões com a Eletropaulo para reativar o contrato. Ele diz
que desconhece o pagamento
de propina pela Alstom.
De acordo com Courtadon, é
equivocada a hipótese segundo
a qual a Alstom teria pago propina à Eletropaulo porque corria riscos de perder o negócio
de R$ 110 milhões: "Para a assinatura de um aditivo a um contrato não é necessário fazer
uma concorrência".
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