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Para Jobim, não há certeza de êxito em busca
Ministro da Defesa diz que decisão de fazer buscas de corpos no Araguaia foi para acatar decisão judicial
ELIANE CANTANHÊDE
SERGIO TORRES
COLUNISTA DA FOLHA
O ministro da Defesa, Nelson
Jobim, disse ontem que a nova
operação de busca de corpos de
guerrilheiros do Araguaia será
"muito mais técnica e mais
científica" do que as anteriores,
uma delas realizada já no primeiro mandato do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, na
gestão do ministro José Viegas.
Jobim, porém, deixou claro
que a decisão de empreender as
buscas foi apenas para acatar
decisão judicial, por determinação da AGU (Advocacia Geral da União), e não se comprometeu com o sucesso da operação. A Folha lhe perguntou se
há a expectativa de fato de entregar corpos às famílias, e ele
respondeu evasivamente: "Não
sei. Vamos ver. Eu sei é que tenho de fazer o trabalho".
Segundo ele, as tentativas
feitas anteriormente "não foram em decorrência de execução de sentença", mas as de
agora são e não havia alternativa: "Tenho de fazer de novo".
Ontem, Jobim pediu, via
AGU, que o coronel da reserva
do Exército Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, seja
ouvido em juízo para tentar
"trazer novos elementos" às investigações.
Curió foi um dos militares
mais atuantes na repressão à
guerrilha do Araguaia e, segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", tem documentos pessoais
sobre a execução de pelo menos 41 guerrilheiros que estavam presos, sob custódia do
Estado brasileiro.
O ministro disse que será feita uma "varredura completa"
em quatro pontos prioritários
da área, usando equipamentos
sofisticados, peritos civis e logística militar, da Força Aérea
Brasileira e do Exército. Os
mapas e o planejamento foram
mostrados por ele ao presidente Lula, que aprovou.
Jobim disse também que
conversou com o secretário especial de Direitos Humanos da
Presidência, Paulo Vannuchi,
sobre o novo grupo de trabalho.
Apesar disso, o presidente da
Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, Marco Antonio Barbosa, reclamou em nota
que o grupo da Defesa causou
"profundo constrangimento" à
comissão, "por invadir sua área
de competência legal".
Para Jobim, "não há nenhum
conflito entre as duas coisas [a
comissão e o novo grupo de trabalho]". Ao lembrar que foi um
dos criadores da comissão hoje
presidida por Barbosa, quando
foi ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso, Jobim disse que ela "tem
funções genéricas", mas cabe à
Defesa cumprir determinação
da AGU e cumprir a ordem judicial de procurar os mortos.
E se não aparecerem corpos
nem revelações e choverem
críticas ao trabalho? Resposta
de Jobim: "Faz parte do jogo".
Falta de apoio
Presidente da Comissão de
Mortos e Desaparecidos de junho a outubro de 2004, o criminalista João Luiz Duboc Pinaud disse que nunca sentiu intenção real do governo do presidente Lula em buscar os corpos dos guerrilheiros e identificar as ossadas recolhidas desde
1991 na região do Araguaia.
Ele disse que, à frente da comissão, propôs à Secretaria Especial de Direitos Humanos,
então chefiada pelo ministro
Nilmário Miranda, a montagem de um grupo de especialistas civis para ir ao Araguaia,
mas nunca teve resposta. A comissão é vinculada à secretaria.
"Não vi à época interesse em
apoiar a comissão. Nunca senti
apoio. Havia mobilização da sociedade civil, se o governo se
empenhasse...", lamentou.
O advogado afirmou que
nunca conseguiu falar com Lula sobre a questão nem com os
ministros da Justiça e da Defesa. Sobre a identificação de ossadas, o advogado afirma nunca
ter recebido qualquer orientação por parte do governo.
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