São Paulo, sábado, 27 de junho de 2009

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Para Jobim, não há certeza de êxito em busca

Ministro da Defesa diz que decisão de fazer buscas de corpos no Araguaia foi para acatar decisão judicial

ELIANE CANTANHÊDE
SERGIO TORRES
COLUNISTA DA FOLHA

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse ontem que a nova operação de busca de corpos de guerrilheiros do Araguaia será "muito mais técnica e mais científica" do que as anteriores, uma delas realizada já no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na gestão do ministro José Viegas.
Jobim, porém, deixou claro que a decisão de empreender as buscas foi apenas para acatar decisão judicial, por determinação da AGU (Advocacia Geral da União), e não se comprometeu com o sucesso da operação. A Folha lhe perguntou se há a expectativa de fato de entregar corpos às famílias, e ele respondeu evasivamente: "Não sei. Vamos ver. Eu sei é que tenho de fazer o trabalho".
Segundo ele, as tentativas feitas anteriormente "não foram em decorrência de execução de sentença", mas as de agora são e não havia alternativa: "Tenho de fazer de novo".
Ontem, Jobim pediu, via AGU, que o coronel da reserva do Exército Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, seja ouvido em juízo para tentar "trazer novos elementos" às investigações.
Curió foi um dos militares mais atuantes na repressão à guerrilha do Araguaia e, segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", tem documentos pessoais sobre a execução de pelo menos 41 guerrilheiros que estavam presos, sob custódia do Estado brasileiro.
O ministro disse que será feita uma "varredura completa" em quatro pontos prioritários da área, usando equipamentos sofisticados, peritos civis e logística militar, da Força Aérea Brasileira e do Exército. Os mapas e o planejamento foram mostrados por ele ao presidente Lula, que aprovou.
Jobim disse também que conversou com o secretário especial de Direitos Humanos da Presidência, Paulo Vannuchi, sobre o novo grupo de trabalho. Apesar disso, o presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, Marco Antonio Barbosa, reclamou em nota que o grupo da Defesa causou "profundo constrangimento" à comissão, "por invadir sua área de competência legal".
Para Jobim, "não há nenhum conflito entre as duas coisas [a comissão e o novo grupo de trabalho]". Ao lembrar que foi um dos criadores da comissão hoje presidida por Barbosa, quando foi ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso, Jobim disse que ela "tem funções genéricas", mas cabe à Defesa cumprir determinação da AGU e cumprir a ordem judicial de procurar os mortos.
E se não aparecerem corpos nem revelações e choverem críticas ao trabalho? Resposta de Jobim: "Faz parte do jogo".

Falta de apoio
Presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos de junho a outubro de 2004, o criminalista João Luiz Duboc Pinaud disse que nunca sentiu intenção real do governo do presidente Lula em buscar os corpos dos guerrilheiros e identificar as ossadas recolhidas desde 1991 na região do Araguaia.
Ele disse que, à frente da comissão, propôs à Secretaria Especial de Direitos Humanos, então chefiada pelo ministro Nilmário Miranda, a montagem de um grupo de especialistas civis para ir ao Araguaia, mas nunca teve resposta. A comissão é vinculada à secretaria.
"Não vi à época interesse em apoiar a comissão. Nunca senti apoio. Havia mobilização da sociedade civil, se o governo se empenhasse...", lamentou.
O advogado afirmou que nunca conseguiu falar com Lula sobre a questão nem com os ministros da Justiça e da Defesa. Sobre a identificação de ossadas, o advogado afirma nunca ter recebido qualquer orientação por parte do governo.


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