São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 2000


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MÁQUINA PÚBLICA
Três nomes que ex-secretário levou para fundos de pensão foram acusados de irregularidades, e dois, demitidos
Indicados por EJ sofreram investigação

FELIPE PATURY
DA REPORTAGEM LOCAL

Os dirigentes dos maiores fundos de pensão do país foram indicados pelo ex-secretário-geral da Presidência da República Eduardo Jorge Pereira Caldas no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. Por suspeita de irregularidades, três tiveram suas gestões investigadas. Outros dois foram demitidos depois que atribuíram publicamente a indicação a Eduardo Jorge.
Ele endossou os nomes de Luiz Vasconcellos e Jair Bilachi para a presidência da Previ, dos funcionários do Banco do Brasil. Também avalizou Francisco Gonzaga, na Petros, da Petrobras, e José Fernando de Almeida, na Funcef, da Caixa Econômica Federal.
Eduardo Jorge garantiu influência na Real Grandeza, de Furnas, com Júlio Carlos Faveret Porto, na diretoria financeira.
Desde que chegou ao poder, o ex-secretário-geral escolheu os fundos como alvo preferencial. Com seus protegidos, mandava em nada menos do que R$ 47,2 bilhões. Eles estavam posicionados no primeiro, segundo, quarto e décimo maiores fundos do país.
A primeira incursão do amigo do presidente nos fundos de pensão aconteceu no final de 1993. Apenas sete meses depois de ter chegado ao governo, Eduardo Jorge, então assessor especial do ministro da Fazenda, pediu aos fundos que comprassem títulos cambiais do Tesouro Nacional.
O assessor telefonou ao então presidente do Banco do Brasil, Alcir Calliari, e recomendou operação. Calliari explicou que não tinha ingerência sobre os negócios do fundo, uma instituição privada. "Não estou pedindo. É uma ordem", disse Eduardo Jorge, relataram amigos de Calliari.
O presidente do BB levou o caso para José Valdir Ribeiro dos Reis, presidente da Previ à época. "Não dá, porque vai dar prejuízo", explicou a Calliari. Juntos, os dois trombaram com Eduardo Jorge e recusaram a operação. A Funcef, no entanto, comprou os títulos.

Caso Encol
As relações do braço direito de FHC com o fundo do BB se tornaram mais intensas quando Eduardo Jorge chegou ao Planalto. Paulo Ximenes, presidente do BB no primeiro mandato de FHC, destacou até um assessor para conversar com EJ. O ex-secretário-executivo do BB Manoel Pinto tinha um canal direto com ele.
Por seu intermédio, Eduardo Jorge substituiu José Valdir Reis na Previ por Luiz Vasconcellos, um amigo pessoal do ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga. Vasconcellos teve uma passagem fugaz pela Previ.
Cometeu o pecado da indiscrição. Disse em reuniões dos fundos e de empresários que era indicado pelo secretário-geral.
Três meses depois, foi trocado por Jair Bilachi, superintendente do BB em Brasília, amigo de Manoel Pinto e engrenagem fundamental do caso Encol, um dos maiores escândalos do banco.
A construtora contraiu no BB uma dívida de R$ 210 milhões, dando como garantias hipotecas e documentos fajutos. Tudo sob os auspícios de Bilachi, que assinou três empréstimos de R$ 99 milhões à Encol. Seu chefe à época: Manoel Pinto.
Os prejuízos foram somados por um relatório do Banco Central: 118 operações ruinosas que transitaram pelas mesas de Bilachi e de Manoel Pinto. A auditoria custou o cargo de Bilachi.
Eduardo Jorge foi um defensor da Encol. Jorge Washington de Oliveira, casado com uma prima do ex-secretário, tornou-se presidente da construtora por indicação do BB, que arregimentou os outros credores para um acordo.
Em 1997, uma instituição, o Banespa, administrado pelo BC, melou o acerto. Washington pediu a ajuda de Eduardo Jorge, que o levou para uma reunião com o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Pedro Parente.
Pedro Paulo de Souza, dono da Encol, disse que pedia a Eduardo Jorge para abrir portas nos ministérios. "O interesse do governo era a situação dos mutuários", disse Eduardo Jorge, à época.
O ex-secretário-geral também responde por um dos piores negócios da Funcef. Em 1996, o fundo foi orientado para ajudar a Encol. Comprou o hotel Renaissance, em São Paulo.
O fundo se tornou um dos pontos finais da cadeia da felicidade de corretoras do mercado financeiro que ganharam com os títulos públicos de Santa Catarina. A operação micou e o assunto foi parar na CPI dos Precatórios.
O apaniguado de Eduardo Jorge na Funcef foi José Fernando de Almeida, que presidiu a fundação de 1996 a 1998. Depois que ele saiu, três auditorias devassaram as contas do fundo.
Os negócios da Funcef foram condenados pela Secretaria de Previdência Complementar, pela Comissão de Valores Mobiliários e pela Kroll Associates. A empresa foi contratada para descobrir onde foi parar o dinheiro de operações ruinosas como os empréstimos ao Mappin e a ajuda à Encol.
O pior caso encontrado na Funcef envolve, no entanto, um colega de governo que dividiu com Eduardo Jorge o comando dos fundos de pensão. Trata-se de Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor internacional do BB. Sua corretora, a RMC, fez nada menos do que 52% de todas as aplicações da Funcef na BM&F de 1996 a 1998.
A gestão de Francisco Gonzaga na presidência da Petros, entre 1996 e 1999, também foi esquadrinhada três vezes. Os atuais diretores do fundo fizeram uma auditoria interna e contrataram a Artur Andersen e a PriceWaterhouse para achar irregularidades.
Concluíram que as manobras de Gonzaga foram legais. Mesmo assim, os atuais administradores consideram injustificáveis três operações de gestão anterior.
A Petros enterrou R$ 35 milhões nos títulos de Santa Catarina. Na outra operação, despejou R$ 290 milhões no Market Place, do empresário Carlos Jereissati, íntimo de Ricardo Sérgio de Oliveira. Na terceira, pagou, sem licitação, R$ 40 milhões ao Opportunity para que investisse R$ 500 milhões.
Entre as situações mais comprometedoras de Eduardo Jorge nos fundos de pensão está a gravação de conversas do ex-diretor financeiro da Real Grandeza Júlio Porto (leia texto na pág. A-6).
Em entrevista à Folha em março, EJ" negou que tivesse indicado o ex-presidente José Fernando de Almeida para a Funcef.
Em mais de uma ocasião, o ex-secretário-geral contou que era sua função controlar os fundos, mas que não se envolvia nos seus negócios. Segundo ele, problemas com os fundos passavam por ele para que FHC fosse informado.


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