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MÁQUINA PÚBLICA
Três nomes que ex-secretário levou para fundos de pensão foram acusados de irregularidades, e dois, demitidos
Indicados por EJ sofreram investigação
FELIPE PATURY
DA REPORTAGEM LOCAL
Os dirigentes dos maiores fundos de pensão do país foram indicados pelo ex-secretário-geral da
Presidência da República Eduardo Jorge Pereira Caldas no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. Por suspeita de
irregularidades, três tiveram suas
gestões investigadas. Outros dois
foram demitidos depois que atribuíram publicamente a indicação
a Eduardo Jorge.
Ele endossou os nomes de Luiz
Vasconcellos e Jair Bilachi para a
presidência da Previ, dos funcionários do Banco do Brasil. Também avalizou Francisco Gonzaga,
na Petros, da Petrobras, e José
Fernando de Almeida, na Funcef,
da Caixa Econômica Federal.
Eduardo Jorge garantiu influência na Real Grandeza, de Furnas,
com Júlio Carlos Faveret Porto, na
diretoria financeira.
Desde que chegou ao poder, o
ex-secretário-geral escolheu os
fundos como alvo preferencial.
Com seus protegidos, mandava
em nada menos do que R$ 47,2 bilhões. Eles estavam posicionados
no primeiro, segundo, quarto e
décimo maiores fundos do país.
A primeira incursão do amigo
do presidente nos fundos de pensão aconteceu no final de 1993.
Apenas sete meses depois de ter
chegado ao governo, Eduardo
Jorge, então assessor especial do
ministro da Fazenda, pediu aos
fundos que comprassem títulos
cambiais do Tesouro Nacional.
O assessor telefonou ao então
presidente do Banco do Brasil, Alcir Calliari, e recomendou operação. Calliari explicou que não tinha ingerência sobre os negócios
do fundo, uma instituição privada. "Não estou pedindo. É uma
ordem", disse Eduardo Jorge, relataram amigos de Calliari.
O presidente do BB levou o caso
para José Valdir Ribeiro dos Reis,
presidente da Previ à época. "Não
dá, porque vai dar prejuízo", explicou a Calliari. Juntos, os dois
trombaram com Eduardo Jorge e
recusaram a operação. A Funcef,
no entanto, comprou os títulos.
Caso Encol
As relações do braço direito de
FHC com o fundo do BB se tornaram mais intensas quando Eduardo Jorge chegou ao Planalto. Paulo Ximenes, presidente do BB no
primeiro mandato de FHC, destacou até um assessor para conversar com EJ. O ex-secretário-executivo do BB Manoel Pinto tinha
um canal direto com ele.
Por seu intermédio, Eduardo
Jorge substituiu José Valdir Reis
na Previ por Luiz Vasconcellos,
um amigo pessoal do ministro
das Comunicações, Pimenta da
Veiga. Vasconcellos teve uma
passagem fugaz pela Previ.
Cometeu o pecado da indiscrição. Disse em reuniões dos fundos e de empresários que era indicado pelo secretário-geral.
Três meses depois, foi trocado
por Jair Bilachi, superintendente
do BB em Brasília, amigo de Manoel Pinto e engrenagem fundamental do caso Encol, um dos
maiores escândalos do banco.
A construtora contraiu no BB
uma dívida de R$ 210 milhões,
dando como garantias hipotecas e
documentos fajutos. Tudo sob os
auspícios de Bilachi, que assinou
três empréstimos de R$ 99 milhões à Encol. Seu chefe à época:
Manoel Pinto.
Os prejuízos foram somados
por um relatório do Banco Central: 118 operações ruinosas que
transitaram pelas mesas de Bilachi e de Manoel Pinto. A auditoria
custou o cargo de Bilachi.
Eduardo Jorge foi um defensor
da Encol. Jorge Washington de
Oliveira, casado com uma prima
do ex-secretário, tornou-se presidente da construtora por indicação do BB, que arregimentou os
outros credores para um acordo.
Em 1997, uma instituição, o Banespa, administrado pelo BC, melou o acerto. Washington pediu a
ajuda de Eduardo Jorge, que o levou para uma reunião com o secretário-executivo do Ministério
da Fazenda, Pedro Parente.
Pedro Paulo de Souza, dono da
Encol, disse que pedia a Eduardo
Jorge para abrir portas nos ministérios. "O interesse do governo
era a situação dos mutuários",
disse Eduardo Jorge, à época.
O ex-secretário-geral também
responde por um dos piores negócios da Funcef. Em 1996, o fundo foi orientado para ajudar a Encol. Comprou o hotel Renaissance, em São Paulo.
O fundo se tornou um dos pontos finais da cadeia da felicidade
de corretoras do mercado financeiro que ganharam com os títulos públicos de Santa Catarina. A
operação micou e o assunto foi
parar na CPI dos Precatórios.
O apaniguado de Eduardo Jorge
na Funcef foi José Fernando de
Almeida, que presidiu a fundação
de 1996 a 1998. Depois que ele
saiu, três auditorias devassaram
as contas do fundo.
Os negócios da Funcef foram
condenados pela Secretaria de
Previdência Complementar, pela
Comissão de Valores Mobiliários
e pela Kroll Associates. A empresa
foi contratada para descobrir onde foi parar o dinheiro de operações ruinosas como os empréstimos ao Mappin e a ajuda à Encol.
O pior caso encontrado na Funcef envolve, no entanto, um colega de governo que dividiu com
Eduardo Jorge o comando dos
fundos de pensão. Trata-se de Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor internacional do BB. Sua corretora, a RMC, fez nada menos do
que 52% de todas as aplicações da
Funcef na BM&F de 1996 a 1998.
A gestão de Francisco Gonzaga
na presidência da Petros, entre
1996 e 1999, também foi esquadrinhada três vezes. Os atuais diretores do fundo fizeram uma auditoria interna e contrataram a Artur
Andersen e a PriceWaterhouse
para achar irregularidades.
Concluíram que as manobras
de Gonzaga foram legais. Mesmo
assim, os atuais administradores
consideram injustificáveis três
operações de gestão anterior.
A Petros enterrou R$ 35 milhões
nos títulos de Santa Catarina. Na
outra operação, despejou R$ 290
milhões no Market Place, do empresário Carlos Jereissati, íntimo
de Ricardo Sérgio de Oliveira. Na
terceira, pagou, sem licitação, R$
40 milhões ao Opportunity para
que investisse R$ 500 milhões.
Entre as situações mais comprometedoras de Eduardo Jorge
nos fundos de pensão está a gravação de conversas do ex-diretor
financeiro da Real Grandeza Júlio
Porto (leia texto na pág. A-6).
Em entrevista à Folha em março, EJ" negou que tivesse indicado
o ex-presidente José Fernando de
Almeida para a Funcef.
Em mais de uma ocasião, o ex-secretário-geral contou que era
sua função controlar os fundos,
mas que não se envolvia nos seus
negócios. Segundo ele, problemas
com os fundos passavam por ele
para que FHC fosse informado.
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