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São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

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Sem-terra aprendem "como dizer não à Alca" e técnica de construção

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando pronta, a Escola Nacional Florestan Fernandes terá cursos de pedagogia, informática, técnica de administração de cooperativa e enfermagem, conta José Eduardo Gomes de Moraes, coordenador da obra.
Mas já agora, enquanto é construída, a instituição oferece dois cursos a seus operários sem-terra: formação política e técnicas de construção civil.
Os integrantes das brigadas que se revezam na empreitada em Guararema devem, ao voltar a seus Estados de origem, compartilhar com acampados e assentados os conhecimentos adquiridos na estada em São Paulo.

Frio e Alca
São 19h30, 12 horas de trabalho no corpo, e 40 deles enfrentam o frio da sala de aula improvisada na casa principal da escola. Tema do dia: a Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
O professor, integrante do movimento, apresenta num mapa francês, em que os continentes do Sul são maiores do que nas representações tradicionais, a Alca: ela irá do Alasca (aponta no papel desdobrado) à Patagônia.
"A princípio, significa um comércio de produtos sem taxação", afirma. "É isso mesmo?"
"É sim", respondem alguns. "A verdade é que não é", retruca o professor.
Ele diz que a região poderá gerar grande instabilidade para as economias dos países membros, por causa de suposta maior facilidade de mobilidade financeira. E escreve no quadro sete "razões para dizer não à Alca". Entre elas: "a área vai submeter a produção e os mercados às necessidades do capital (EUA)" e "a Alca anulará a soberania dos países".
Durante o dia, os sem-terra deixam as preocupações políticas de lado. À tarde, têm aulas de "capacitação" para que "possam construir suas casas" quando voltarem a seus Estados de origem. João Piza, 26, arquiteto, e Jorge Hage, 32, o engenheiro da obra, membros da cooperativa Integra, são os professores.
Na primeira parte do curso, "noções de projeto" -os operários aprendem elementos de geometria, padronização de medidas e cálculo de área. Depois, "noções de estrutura" e uso de materiais, "composição do solo-cimento" -a mistura para fabricação dos tijolos- e "instalações elétrica e hidráulica".
"Sempre na direção de que a mão-de-obra escape à alienação, que saiba o que está fazendo", diz Piza. "Isso dá mais responsabilidade e qualidade ao trabalho."


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