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São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

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Telefônicas, metalúrgicas e companhias aéreas foram responsáveis pelas maiores demissões no governo Lula

De uma vez, 15 empresas demitem 2.800

DA REPORTAGEM LOCAL

As indústrias metalúrgicas, as empresas telefônicas e as companhias aéreas foram as responsáveis pelas maiores demissões nos seis primeiros meses do governo Lula. Em uma única tacada, pelo menos 15 empresas dispensaram 2.800 funcionários, segundo levantamento feito pela Folha em sete atividades econômicas.
E os anúncios de reestruturação neste ano em alguns desses setores podem agravar ainda mais o desemprego no país, que registrou aumento de 443 mil desocupados de janeiro a junho, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Até junho, pelo menos 2,7 milhões de pessoas estavam desempregadas em seis regiões metropolitanas.
Ao transferir sua produção de São Paulo para Minas Gerais, a metalúrgica Helfont, empresa do grupo Philips que fabrica produtos elétricos, cortou 450 postos de trabalho. A queda nas vendas não permitiu, segundo a empresa, manter duas unidades em operação. A Philips também demitiu 30 empregados no ramo de iluminação (lâmpadas) no ABC paulista.
Maria José Silva Ferrante, 42, uma das dispensadas da Philips, conta que tem em sua família sete desempregados. Em questionário divulgado pelo sindicato, dos 14 entrevistados, 13 contam que têm familiares sem emprego.
"O meu sonho era poder pagar a faculdade dos meus filhos. Agora, foi por água abaixo. Sou velha para voltar para o mercado de trabalho e nova para me aposentar. Não sei o que fazer", disse. Operadora de produção durante 12 anos na Philips, Maria José recebia salário de R$ 1.400 e tinha gastos de R$ 1.670. "Sobrou a aposentadoria do meu marido."
Em Santo André, funcionários da TRW "inauguraram" a primeira greve do governo petista após a demissão de 240 operários da linha de produção de cintos de segurança. A paralisação aconteceu antes mesmo que o governo completasse 30 dias. Na região, levantamento do sindicato da categoria em Santo André mostra a dispensa de mil operários.
O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Mogi e região registrou aumento de 44% nas homologações (rescisões de contrato) feitas em sua sede, entre janeiro e 15 de julho deste ano contra igual período de 2002. A estimativa é que os cortes atinjam 30 mil pessoas até o final deste mês, o que reduziria a base do sindicato para 250 mil metalúrgicos. "Pelo menos 82 empresas demitiram mais de 2.300 trabalhadores nos últimos dois meses. Se esse ritmo continuar e cada uma das 8.500 empresas da base começar a enxugar seu quadro, vamos ter números recordes", diz Eleno José Bezerra, presidente do sindicato.
A crise no setor automotivo, que fez com que as montadoras concedessem férias coletivas para 24 mil, reduzissem jornadas e abrissem programas de demissão voluntária, já se aproxima das autopeças paulistas.
No ABC, a Arteb, fornecedora de peças da Volkswagen, deu licença remunerada a 135 trabalhadores por um mês. A companhia tem 1.100 empregados. Em São Paulo, algumas autopeças também negociam medidas como redução de turnos e concessão de férias para evitar mais dispensas.
Setores como o de máquinas e o de eletroeletrônicos chegaram a reivindicar a redução de direitos -como o fim do pagamento do descanso semanal remunerado, o que representaria redução na folha de pagamento em torno de 20%- sob a ameaça de demitir.
O cenário de retração econômica também levou as aéreas a enxugarem seus quadros. Varig e TAM, entre março e maio, anunciaram 820 cortes. O processo de fusão das duas companhias, em fase de elaboração, pode resultar na demissão de cerca de 5.300 dos 23,6 mil funcionários das duas companhias. Levantamento feito pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas informa que pelo menos 850 comissários e pilotos perderam o emprego entre janeiro e junho em cinco companhias.
Na telefonia, não foi diferente. A BCP cortou há cerca de três semanas cem vagas por conta do fechamento e venda de suas lojas. A Telefônica anunciou em março 918 demissões para reduzir seu quadro em 9%.
Em maio, a Vésper, operadora de telefonia fixa de 17 Estados, demitiu 240 de seus 1.200 funcionários. A empresa, que já empregou 4.000 pessoas no país, atendeu a orientação da norte-americana Qualcomm, sua controladora, que colocou a Vésper à venda.
O comércio também sofre com a queda na renda do trabalhador. Pelo sexto mês consecutivo, os rendimentos caíram, segundo o IBGE. A queda foi de 13,4% em comparação com junho de 2002. Nos seis meses do governo Lula (comparando janeiro e junho deste ano), o recuo chega a 3,8%.
"Menos dinheiro no bolso significa comprar menos. Com isso, o comércio demite mais e mais", diz Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Empregados do Comércio de São Paulo. De janeiro até o dia 17 de julho, foram feitas 26.343 rescisões de contrato na entidade contra 20.106 em igual período de 2002.


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