São Paulo, terça-feira, 27 de julho de 2004

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GIRO PELA ÁFRICA

Líder do MST volta a criticar condução da política econômica

Lula diz estar magoado com aliados que atacam governo

JULIA DUAILIBI
ENVIADA ESPECIAL A SÃO TOMÉ

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a interlocutores estar "magoado" com a forma com que tradicionais aliados seus têm criticado o governo. Não citou nomes.
Durante a viagem à África, a bordo do Boeing presidencial, o Sucatão, Lula afirmou que antigos aliados não têm demonstrado confiança no governo e que o julgamento que eles estão fazendo da sua gestão está ocorrendo "muito cedo".
Ontem, no Rio, João Pedro Stedile, membro da direção nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), voltou a criticar a política econômica do governo Lula. Para ele, a melhoria de alguns indicadores econômicos não significa que o país conseguirá criar empregos e distribuir renda.
"Vamos lutar para que o governo mude essa política econômica porque, caso contrário, cai nessa cantilena do [ministro Antonio] Palocci [Fazenda], que se ilude a si mesmo e diz "me engana que eu gosto". A economia vai crescer, mas o povo vai continuar empobrecendo. E, algum dia, o povo dará o troco nas ruas ou nas urnas", disse Stedile.
A viagem de Lula a São Tomé e Príncipe, um arquipélago no golfo da Guiné, na África Central, durou cerca de oito horas. Viajaram com o presidente os ministros Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), Tarso Genro (Educação) e Celso Amorim (Relações Exteriores), além dos deputados federais Vicentinho (PT-SP) e Paes Landim (PTB-PI).
A Vicentinho, candidato a prefeito de São Bernardo do Campo, cidade onde Lula mora, o presidente disse estar aprendendo muito na Presidência e lhe deu um conselho: "Ter cada vez mais paciência".
Lula participou ontem da abertura da 5ª CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), onde fez um discurso em que defendeu o apoio ao Brasil dos países da entidade para que ocupe um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
A oficialização do apoio deverá constar da "Declaração de São Tomé" a ser elaborada hoje. Estavam na abertura da reunião da CPLP chefes de Estado ou de governo de Portugal, Cabo Verde, Moçambique, Angola, Guiné-Bissau e Timor Leste, além de São Tomé e Príncipe.
"Não há paz sem desenvolvimento e não há desenvolvimento sem a paz", disse o presidente em referência aos esforços da CPLP para manter a estabilidade política nos países africanos integrantes da comunidade.
Lula também fez uma associação entre democracia política e econômica. "A marca da comunidade [a CPLP] tem sido a defesa dos valores democráticos que pregamos. Por essa razão, apoiamos o processo eleitoral em São Tomé e Moçambique. Sabemos que a democracia política é frágil se o povo não a ver associada a democracia econômica e social".
De acordo com o presidente, a CPLP é uma iniciativa de "alto valor estratégico, cujo raio de ação abrange quatro continentes". "Temos especial urgência em ajudar a África na luta contra o dramático ciclo de pobreza, violência e fatalismo", disse Lula no Palácio dos Congressos para cerca de 500 pessoas.
"O meu governo tem dado forte apoio ao diálogo Sul-Sul", continuou o presidente. O presidente fez um convite para que os chefes de Estado presentes participem do encontro de líderes mundiais sobre o combate à fome e à pobreza no dia 20 de setembro, em Nova York.
A entrada em vigor do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, disse o presidente, irá tornar mais "ágil e franco" o diálogo entre os países da comunidade. O acordo é um dos pontos a ser oficializado após o encontro.
No começo da noite, Lula visitou a Bienal de Cultura da cidade e assistiu à uma apresentação de grupos folclóricos. Ele embarca na tarde de hoje para o Gabão. No dia seguinte, vai a Cabo Verde.


Colaborou a Sucursal do Rio

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