São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/DEPOIMENTO

Mulher de publicitário afirma que ele avalizou empréstimos para o PT para evitar ter "desvantagens" em negócios com o governo

Valério temia perder contratos, diz Renilda

DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento à CPI dos Correios, Renilda de Souza afirmou que seu marido, Marcos Valério de Souza, intermediou empréstimos para o PT porque não queria "ter desvantagens" nos contratos que as empresas das quais é sócio tinham com órgãos públicos.
Negou, porém, que ele tivesse vantagens. "Ele participou de uma licitação na Petrobras e perdeu. Se tivesse alguma vantagem, teria ganho todos os contratos", disse. "Ele aceitou [ajudar o PT] não para obter vantagens, mas para não ter desvantagens nos contratos que já mantinha com o governo." No ano passado, as empresas de Valério administraram R$ 150 milhões em seus principais contratos federais.
Renilda arrolou os sócios das empresas de seu marido como co-responsáveis por eventuais irregularidades que venham a ser descobertas. "Nenhum cheque pode ser assinado só por Marcos Valério; ele não é o único dono."
Ela repetiu a linha geral do depoimento de seu marido. Declarou, em diversas ocasiões, que não tinha conhecimento dos contratos ou das transações financeiras das empresas. E também não soube explicar a movimentação de quase R$ 10 milhões em suas contas, nos períodos de 2003 e 2004. Questionada por diversos parlamentares, afirmou que uma das contas recebia R$ 60 mil mensais, que seriam os salários de Marcos Valério na SMPB e na DNA. Em outra, ela mesma era destinatária de R$ 3.500 por mês. "São muitos os cheques assinados por ela para não lembrar. Ela chegou a movimentar quase R$ 10 milhões. Só se assinava cheques em branco", disse o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR).
  
PERFIL - Renilda começou seu depoimento afirmando que é pedagoga e que largou o emprego no Bemge para cuidar dos filhos. Afirmou que é casada há 18 anos com Valério. Como dona-de-casa que se dedica à família, como frisou várias vezes, disse que não se envolvia com as empresas das quais é sócia. "Não sei nem a cor do tapete da DNA." Ela também disse que deu uma procuração a seu marido para cuidar das empresas "por confiança e amor, como qualquer mulher faria".
MOVIMENTAÇÃO BANCÁRIA -A dona-de-casa e pedagoga não esclareceu a movimentação bancária de cerca de R$ 10 milhões entre 2003 e 2004. "Nunca procurei saber sobre das movimentações bancárias." Ficou de enviar, porém, esclarecimentos por escrito sobre saques que fez pessoalmente na conta do Banco Rural.
PATRIMÔNIO - Questionada pelo relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), sobre a evolução patrimonial dela e de seu marido, Renilda afirmou que as aquisições "foram crescendo devagar". Em 2002, o patrimônio da família era de R$ 3,8 milhões. Em 2003, R$ 11 milhões e, no ano seguinte, R$ 18 milhões. "A senhora não percebeu essa evolução?", perguntou Serraglio. Resposta: "Minha função, como a de muitas mulheres no país, é a de dona-de-casa, do lar".
JOSÉ DIRCEU - Sem que lhe fosse perguntado, Renilda fez questão de afirmar que o ex-ministro da Casa Civil participou da negociação com os bancos Rural e BMG para pagamento dos empréstimos contraídos pelo PT com o aval de Marcos Valério. O publicitário já havia afirmado à Procuradoria Geral da República que Dirceu tinha conhecimento das transações, o que foi negado na CPI pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Ela disse que o encontro com as diretorias do Rural e do BMG ocorreram no ano passado e que seu marido não teria participado. "O Marcos não me falou da data da reunião, mas foi no final do ano passado." Ela também rejeitou a tese de que estaria fazendo uma revelação ensaiada. "Não estou fazendo ameaça nem mandando mensagem cifrada", disse.
EMPRÉSTIMOS - A dona-de-casa afirmou que só tomou conhecimento dos empréstimos ao PT por meio da imprensa. Ela afirmou que Marcos Valério aceitou ser avalista porque "sempre confiou nas pessoas, e eu não". Para ela, seu marido "foi ingênuo". "Eu tive brigas em casa por causa disso porque é contra meus princípios, minha ética, minha vontade, e porque não avalizo nem meu irmão." Em sua avaliação, "Marcos Valério sente que foi usado."
DELÚBIO - Renilda declarou que conheceu Delúbio e sua mulher, Mônica Valente, em setembro do ano passado, durante um campeonato hípico em Santo Amaro, zona sul de São Paulo, no qual sua filha participou. "Eles foram vê-la saltar." Ela disse, ainda, que presenciou contatos telefônicos entre o seu marido e o ex-tesoureiro. Questionada sobre o que achava de Delúbio atualmente, ela riu e disse que preferia "ser mineira agora" para não responder.
FERNANDA KARINA - Por diversas vezes, parlamentares chamaram Renilda de Karina, numa referência à ex-secretária de Marcos Valério que falou sobre as malas de dinheiro. A mulher do publicitário afirmou que não conhecia a secretária. "Não posso avaliá-la porque não a conheci." Ela também afirmou que não tem "nenhum sentimento em relação a Karina", mas achou seu depoimento "fantasioso" sobre "mensalão" e malas de dinheiro.
CAMPANHAS - Mesmo afirmando que seu marido não buscava obter vantagens nas transações que mantinha com o PT ou com outros partidos, como o PSDB e PFL, a mulher do publicitário deixou escapar que ele procurava ganhar alguns negócios com os contatos. "O Marcos Valério, como qualquer publicitário, vive de campanhas privadas, com estatais e de campanhas de deputados. Claro que sim. Ele tinha interesse em que o Delúbio pudesse apresentar alguém para fazer alguma campanha."
VIDA PARTICULAR - Renilda afirmou que sua vida está sendo invadida. "Moro em um condomínio semifechado, porque os jornalistas invadem e tiram fotos do meu filho na porta de casa." Ela disse que o marido vive hoje situação de "cárcere privado".
CONTABILIDADE - Embora tenha repetido que é dona-de-casa e não tem conhecimento do dia-a-dia de suas empresas, Renilda mostrou detalhes das agências algumas vezes. Questionada se sabia da queima de notas fiscais, ela afirmou que não acreditava que sócios das agências tenham mandado incinerar o material. "Isso não faz sentido porque para saber da movimentação é só consultar os livros contábeis." (CHICO DE GOIS, FERNANDA KRAKOVICS E LEILA SUWWAN)

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