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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/DEPOIMENTO
Mulher de publicitário afirma que ele avalizou empréstimos para o PT para evitar ter "desvantagens" em negócios com o governo
Valério temia perder contratos, diz Renilda
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em depoimento à CPI dos Correios, Renilda de Souza afirmou
que seu marido, Marcos Valério
de Souza, intermediou empréstimos para o PT porque não queria
"ter desvantagens" nos contratos
que as empresas das quais é sócio
tinham com órgãos públicos.
Negou, porém, que ele tivesse
vantagens. "Ele participou de
uma licitação na Petrobras e perdeu. Se tivesse alguma vantagem,
teria ganho todos os contratos",
disse. "Ele aceitou [ajudar o PT]
não para obter vantagens, mas
para não ter desvantagens nos
contratos que já mantinha com o
governo." No ano passado, as empresas de Valério administraram
R$ 150 milhões em seus principais
contratos federais.
Renilda arrolou os sócios das
empresas de seu marido como co-responsáveis por eventuais irregularidades que venham a ser
descobertas. "Nenhum cheque
pode ser assinado só por Marcos
Valério; ele não é o único dono."
Ela repetiu a linha geral do depoimento de seu marido. Declarou, em diversas ocasiões, que
não tinha conhecimento dos contratos ou das transações financeiras das empresas. E também não
soube explicar a movimentação
de quase R$ 10 milhões em suas
contas, nos períodos de 2003 e
2004. Questionada por diversos
parlamentares, afirmou que uma
das contas recebia R$ 60 mil mensais, que seriam os salários de
Marcos Valério na SMPB e na
DNA. Em outra, ela mesma era
destinatária de R$ 3.500 por mês.
"São muitos os cheques assinados
por ela para não lembrar. Ela chegou a movimentar quase R$ 10
milhões. Só se assinava cheques
em branco", disse o relator Osmar
Serraglio (PMDB-PR).
PERFIL - Renilda começou seu
depoimento afirmando que é pedagoga e que largou o emprego
no Bemge para cuidar dos filhos.
Afirmou que é casada há 18 anos
com Valério. Como dona-de-casa
que se dedica à família, como frisou várias vezes, disse que não se
envolvia com as empresas das
quais é sócia. "Não sei nem a cor
do tapete da DNA." Ela também
disse que deu uma procuração a
seu marido para cuidar das empresas "por confiança e amor, como qualquer mulher faria".
MOVIMENTAÇÃO BANCÁRIA -A
dona-de-casa e pedagoga não esclareceu a movimentação bancária de cerca de R$ 10 milhões entre
2003 e 2004. "Nunca procurei saber sobre das movimentações
bancárias." Ficou de enviar, porém, esclarecimentos por escrito
sobre saques que fez pessoalmente na conta do Banco Rural.
PATRIMÔNIO - Questionada pelo
relator da CPI, deputado Osmar
Serraglio (PMDB-PR), sobre a
evolução patrimonial dela e de
seu marido, Renilda afirmou que
as aquisições "foram crescendo
devagar". Em 2002, o patrimônio
da família era de R$ 3,8 milhões.
Em 2003, R$ 11 milhões e, no ano
seguinte, R$ 18 milhões. "A senhora não percebeu essa evolução?", perguntou Serraglio. Resposta: "Minha função, como a de
muitas mulheres no país, é a de
dona-de-casa, do lar".
JOSÉ DIRCEU - Sem que lhe fosse
perguntado, Renilda fez questão
de afirmar que o ex-ministro da
Casa Civil participou da negociação com os bancos Rural e BMG
para pagamento dos empréstimos contraídos pelo PT com o
aval de Marcos Valério. O publicitário já havia afirmado à Procuradoria Geral da República que Dirceu tinha conhecimento das transações, o que foi negado na CPI
pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio
Soares. Ela disse que o encontro
com as diretorias do Rural e do
BMG ocorreram no ano passado e
que seu marido não teria participado. "O Marcos não me falou da
data da reunião, mas foi no final
do ano passado." Ela também rejeitou a tese de que estaria fazendo uma revelação ensaiada. "Não
estou fazendo ameaça nem mandando mensagem cifrada", disse.
EMPRÉSTIMOS - A dona-de-casa
afirmou que só tomou conhecimento dos empréstimos ao PT
por meio da imprensa. Ela afirmou que Marcos Valério aceitou
ser avalista porque "sempre confiou nas pessoas, e eu não". Para
ela, seu marido "foi ingênuo". "Eu
tive brigas em casa por causa disso porque é contra meus princípios, minha ética, minha vontade,
e porque não avalizo nem meu irmão." Em sua avaliação, "Marcos
Valério sente que foi usado."
DELÚBIO - Renilda declarou que
conheceu Delúbio e sua mulher,
Mônica Valente, em setembro do
ano passado, durante um campeonato hípico em Santo Amaro,
zona sul de São Paulo, no qual sua
filha participou. "Eles foram vê-la
saltar." Ela disse, ainda, que presenciou contatos telefônicos entre
o seu marido e o ex-tesoureiro.
Questionada sobre o que achava
de Delúbio atualmente, ela riu e
disse que preferia "ser mineira
agora" para não responder.
FERNANDA KARINA - Por diversas
vezes, parlamentares chamaram
Renilda de Karina, numa referência à ex-secretária de Marcos Valério que falou sobre as malas de
dinheiro. A mulher do publicitário afirmou que não conhecia a
secretária. "Não posso avaliá-la
porque não a conheci." Ela também afirmou que não tem "nenhum sentimento em relação a
Karina", mas achou seu depoimento "fantasioso" sobre "mensalão" e malas de dinheiro.
CAMPANHAS - Mesmo afirmando que seu marido não buscava
obter vantagens nas transações
que mantinha com o PT ou com
outros partidos, como o PSDB e
PFL, a mulher do publicitário deixou escapar que ele procurava ganhar alguns negócios com os contatos. "O Marcos Valério, como
qualquer publicitário, vive de
campanhas privadas, com estatais e de campanhas de deputados. Claro que sim. Ele tinha interesse em que o Delúbio pudesse
apresentar alguém para fazer alguma campanha."
VIDA PARTICULAR - Renilda afirmou que sua vida está sendo invadida. "Moro em um condomínio
semifechado, porque os jornalistas invadem e tiram fotos do meu
filho na porta de casa." Ela disse
que o marido vive hoje situação
de "cárcere privado".
CONTABILIDADE - Embora tenha
repetido que é dona-de-casa e não
tem conhecimento do dia-a-dia
de suas empresas, Renilda mostrou detalhes das agências algumas vezes. Questionada se sabia
da queima de notas fiscais, ela
afirmou que não acreditava que
sócios das agências tenham mandado incinerar o material. "Isso
não faz sentido porque para saber
da movimentação é só consultar
os livros contábeis."
(CHICO DE GOIS, FERNANDA KRAKOVICS E LEILA
SUWWAN)
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