São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CONEXÕES

Ex-ministro afirma que se reuniu com representantes do BMG e do Banco Rural, mas não cita motivos e datas dos encontros

Dirceu nega conversas sobre empréstimos

Adriano Machado - 22.jun.2005/Folha Imagem
O deputado José Dirceu (PT-SP), que divulgou nota para rebater declarações de Renilda de Souza


FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-ministro José Dirceu negou ontem ter tratado de empréstimos ao PT com diretores dos bancos Rural e BMG. Em nota, ele admitiu ter se encontrado com os representantes das instituições durante o período em que ocupou a Casa Civil, mas não informou onde foram essas conversas nem os motivos do encontro.
"Sobre as declarações da senhora Renilda de Souza no depoimento prestado hoje à CPI dos Correios, informo que estive com diretores dos bancos Rural e BMG em ocasiões diferentes -e por solicitação das entidades- durante o período em que estive na chefia da Casa Civil da Presidência da República. Em nenhum momento tratei sobre empréstimos ao PT", diz a íntegra da nota, assinada por Dirceu.
O deputado federal passou a tarde de ontem revirando papéis para encontrar alguma anotação que comprovasse reunião com diretores do Banco Rural em um hotel em Belo Horizonte, como disse a mulher do publicitário Marcos Valério de Souza à CPI dos Correios. Não encontrou nada em sua agenda. A lacônica nota divulgada no final da tarde omitiu a referência ao local das reuniões.
Informado das revelações feitas por Renilda no final da manhã -de que teria havido uma reunião em um hotel de Belo Horizonte-, Dirceu disse a assessores que não se lembrava do encontro.
O que a assessoria do deputado confirmou foi que realmente ele se encontrou com representantes do Rural e do BMG -uma das vezes no seu gabinete na Casa Civil, no quarto andar do Palácio do Planalto. Teriam sido conversas sobre a conjuntura econômica.
O ex-ministro não esteve na Câmara ontem. Passou o dia em Brasília, em reuniões com assessores e amigos, para avaliar a crise. Apesar de tentar demonstrar publicamente tranqüilidade, o ex-ministro está preocupado. "Piorou, piorou", afirmou ontem um amigo dele.
Nas últimas semanas, Dirceu tem admitido que poderá ser cassado. Diz que, se isso ocorrer, será uma cassação política. Seu argumento é o de que não apareceu nenhuma prova material de seu envolvimento no esquema de Marcos Valério, diferentemente do que sucedeu com outros petistas, como João Paulo (SP) e Paulo Rocha (PA). "Não tem uma retirada, um depósito, um assessor meu envolvido, nada", afirma Dirceu, em conversas reservadas. Por isso, segundo amigos, ele descarta a renúncia do mandato.
Apesar de não desfrutar da mesma proximidade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele está longe de ter perdido a influência. A estratégia de Lula de denunciar um complô das elites e cercar-se do "povo" tem em Dirceu um dos mentores.
As chances perdidas pelo partido de sair da defensiva exasperam o deputado. Na última quinta-feira, em uma conversa com o ex-deputado petista Ricardo Zarattini (SP) no vôo de Brasília para São Paulo, disse que o partido deveria ter explorado mais a descoberta de que o deputado pefelista Roberto Brant (MG) recebeu dinheiro da Usiminas via agência de Valério. "Ele [Brant] é secretário-geral do PFL. E ninguém sobe na tribuna da Câmara para dizer."
Ontem, o ex-ministro comemorou a denúncia do jornal "O Globo" de que o PSDB de Minas Gerais usou em 1998 um esquema de financiamento com Valério semelhante ao atual. Dirceu já sabia das acusações desde a semana passada.


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