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ELIO GASPARI
A coligação PT-PSDB-PFL
É dura a vida da choldra. O
comissariado petista é apanhado comendo com a mão,
guardando dólares na cueca e o
presidente da República resolve
ensinar aos cretinos que "o PT
fez, do ponto de vista eleitoral, o
que é feito no Brasil sistematicamente". Ou seja, fizemos o que
os outros fizeram. Mama quem
pode e obedece quem tem juízo.
Passam uns dias e a patuléia
fica sabendo que o deputado
Roberto Brant, ex-ministro do
tucanato aninhado no PFL, foi
beneficiário de uma valeriana
de R$ 150 mil. O doutor recebeu
a pronta e irrestrita solidariedade de seu partido.
Nada de novo, em 1999 o pefelê levou seis meses para expulsar
o deputado Hildebrando Paschoal, aquele cujos sequazes esquartejavam as vítimas com
serras elétricas. Brant foi para o
ataque: "Quem não tiver recebido dinheiro não contabilizado
que atire a primeira pedra".
A patuléia aprendeu duas lições: O PT fez o que todo mundo
faz. O PFL faz o que todo mundo faz e ninguém tem autoridade para criticar o doutor Brant.
O terceiro ensinamento veio
com a revelação de que, em
1998, a coligação que batalhava
pela reeleição do governador
mineiro Eduardo Azeredo foi
bafejada por um empréstimo
valeriano de R$ 11,7 milhões, tomado no Banco Rural, igualzinho ao de 2003 para o PT.
Azeredo é hoje um grão-tucano, presidente do PSDB. Respondeu à denúncia com uma
aula: "Passaram-se três eleições,
não faz sentido discutir uma
campanha de 1998". Ou seja:
malfeitoria de tucano prescreve
em sete anos e "não faz sentido"
nem lembrar o assunto.
Lula, Brant e Azeredo comportam-se como se fossem marqueses numa ilha tropical, fazendo à patuléia o favor de governá-la. A corrupção eleitoral
não os diferencia. Pelo contrário, os associa. Juntam-se na cobiça do andar de cima e no descaso pelo andar de baixo.
Eles não generalizam a prática da malfeitoria com o propósito de combatê-la, mas para impô-la. Lula, Brant e Azeredo tratam as maracutaias contábeis
como se elas fossem um acidente
geográfico: o Pão de Açúcar fica
à esquerda de quem entra na
Barra e minha prestação de
contas é uma fantasia aritmética. Tratam o assunto com a arrogância de coronéis do sertão,
mas falta-lhes a coragem para
dizer essas coisas durante as
campanhas eleitorais.
Se o dinheiro que foi para as
cuecas petistas tivesse saído do
bolso de Brant ou de Azeredo,
tudo bem. Da mesma forma, se
os jabaculês do PSDB e do PFL
viessem da caixa do Delúbio, tudo se resumiria a uma ação entre amigos. O problema é que todo esse dinheiro, até o último
centavo, tem uma só origem: a
bolsa da choldra, e ela paga impostos europeus por serviços
africanos.
Lula, Brant e Azeredo poderiam percorrer o Brasil como
uma trinca caipira, explicando
as virtudes políticas de seus partidos e as semelhanças financeiras de seus costumes.
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