São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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Elio Gaspari

De SérgioMotta@org para Lula@gov


Você precisa congelar essa fusão da Brasil Telecom com a Oi, a tal da BrOi, ela vai acabar mal

CARO LULA ,
Você deve se lembrar do que os petistas disseram quando eu estava no Ministério das Comunicações e modelei a privatização da telefonia brasileira. Era puro onanismo ideológico. Passaram-se mais de dez anos e os resultados estão aí: temos 125 milhões de celulares. A pedido da Ruth Cardoso, que briga com quem torce contra teu governo, quero te contar que cometi alguns erros pontuais.
Vou ao recado: por causa dos aspectos malditos da herança bendita, você deve congelar essa fusão da Brasil Telecom com a Oi, a tal da BrOi.
Nós tínhamos muita pressa e pouca experiência, mas precisávamos passar o trator. Por causa disso, na hora de arrumar o dinheiro para alguns empresários nacionais, tivemos que envolver os fundos de pensão de estatais . Um deles, você sabe, era o Daniel Dantas. Ele se entendeu com a Previ, a Funcef e a Petros. Depois, a Previ liderou a armação do grupo que criou a Telemar. Se eu ainda estivesse aí, esse cambalacho não teria durado 15 minutos.
A bomba do Daniel é de urânio enriquecido pelos fundos. Com exceção do Pitta, todos os presos trabalhavam pela BrOi. Não é estranho? Ressalvo que nem todos os defensores da BrOi são delinqüentes.
A alma da fusão da Brasil Telecom do Daniel com a Oi/Telemar é uma mistura do interesses dos fundos com empréstimos camaradas de bancos oficiais. É um replay de 1998, mas você não precisa ter pressa e tem assessoria experiente.
A idéia da Supertele não é ruim, como não foi ruim a minha privatização. O Tinhoso esteve nos detalhes e a relação incestuosa transformou-se em brigas de acionistas. Eu não teria privatizado as teles se ficasse catando pulgas, mas hoje você tem a oportunidade de limpar o pulgueiro.
Quando a Dilma Rousseff aparece envolvida numa denúncia de lobby porque mandou dizer que não queria conversa com a turma da BrOi, o jogo fica irracional, sujo e imprevisível. Bem-feito para vocês, que se fartaram nas escutas do BNDES. Quem com grampo ouve, com grampo será ouvido.
Nenhum negócio fechado na dependência de uma mudança na lei acaba bem. Essa BrOi começou mal e vai piorar. O Percival Farquhar e o Antônio Gallotti, os dois grandes concessionários privados de serviços públicos da história brasileira, endossam meu pedido. Eles sabem do que falam e me contaram histórias horríveis de outros tempos. Isso fica para depois.
Um abraço republicano do
Sérgio Motta

FIM DA FESTA
O ministro Nelson Jobim, da Defesa, jogou detergente no programa de obras da Infraero. Baseado num parecer do Tribunal de Contas, mandou parar os trabalhos de expansão dos aeroportos de Guarulhos, Porto Alegre, Goiânia, Vitória e Macapá. Coisa de R$ 1,5 bilhão.
A obra do terceiro terminal de Guarulhos, sem a existência de uma terceira pista, pode ser desnecessária.
A Infraero e as empreiteiras estão numa queda de braço. Como as construturas não gostam dos preços oferecidos, ninguém se apresenta nas novas licitações. O terceiro terminal de Brasília está sem interessados.
Na semana passada, o Conselho de Administração da empresa brecou um alegre trenzinho que contrataria 15 "agentes de informação" para fiscalizar os funcionários.

BREJNEV E PRESTES
O legendário dirigente comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes (1898-1990) ficou mal numa anotação que o secretário-geral do PC soviético, Leonid Brejnev, fez depois de um encontro dos dois, ocorrido em 1966, numa rodada de conversas com 12 chefes comunistas estrangeiros.
Brejnev anotou: "Brasil (Prestes). OK, mas um chato".
A revelação está no livro "Os Sete Chefes do Império Soviético", do historiador russo Dmitri Volkogonov, que acaba de ser lançado no Brasil.

NA RUA
Reinhold Stephanes, atual ministro da Agricultura, foi presidente do INSS durante o governo do presidente Ernesto Geisel (1974-1979). Naquele tempo, se o doutor puxasse o tapete do chanceler brasileiro enquanto ele participava de uma negociação internacional, estava na rua.

JABOTIS
De uma pessoa que conhece Daniel Dantas:
"Tudo o que a Polícia Federal conseguiu juntar, do mais inocente rabisco do Daniel ao mais cabeludo diálogo telefônico (com ele na linha), é jaboti de forquilha: não está lá por acaso, mas com propósito".

JOGO ARRISCADO
Surgiu um receio na área que corre atrás de Daniel Dantas. Teme-se uma manobra de sua defesa, capaz de provocar a inclusão de um parlamentar na lista dos investigados. Conseguido isso, o processo sairia das mãos do juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Criminal de São Paulo e subiria para a alçada do Supremo Tribunal Federal. Isso aconteceria forçando-se a entrada, por exemplo, do senador Heráclito Fortes. É uma manobra de risco para a defesa. Primeiro porque jogará sobre o caso uma nova pátina de maracutaia. Ademais, se hoje é possível supor que esse processo se arraste por seis anos, no Supremo ele estaria liquidado em dois ou três, sem apelação.

MILÍCIA DEM
Eremildo é um idiota e convenceu-se de que será convidado para a presidência de honra do DEM. Ele descobriu isso quando soube que a página do partido não tem uma só notícia da prisão do deputado estadual Natalino Guimarães, do Rio de Janeiro. Ou o DEM precisa de uma cabeça como a de Eremildo ou já a tem. Numa terceira hipótese, o presidente do partido, Rodrigo Maia, bem como seu pai, o prefeito Cesar, pensam que a patuléia é composta por cretinos. Natalino foi preso há uma semana. Estava reunido com uma dúzia de milicianos da Liga da Justiça. Um deles, foragido da Justiça, trocou tiros com a polícia.

AS BIBLIOTECAS DOS MORTOS ILUSTRES

Apareceu mais um passatempo na internet. É um catálogo das bibliotecas de 46 personalidades da história.
A rainha Maria Antonieta (736 títulos) tinha dois exemplares dos Lusíadas, três obras sobre revoluções e mais cinco livros de Rétif de la Bretonne, autor de mais de 200 volumes, alguns deles chegados à pornografia. Ele foi um dos primeiros autores a usar a palavra "comunismo".
James Joyce (124 volumes catalogados), tinha um livro sobre "Erros no Uso do Inglês". Ernest Hemingway (7.411 volumes), tinha quatro livros sobre a Amazônia, um exemplar de "Dom Casmurro" e uma antologia da poesia brasileira.
Thomas Jefferson (4.891 livros) tinha uma história da reconquista de Salvador em 1625, quando uma frota espanhola expulsou os holandeses da cidade.
Estão na lista o poeta Ezra Pound (712 livros), Charles Darwin (79) e Adam Smith (58, por enquanto).
A biblioteca dos mortos está no sítio LibraryThing, que mantém um serviço de catalogação automática de livros, com quase 500 mil clientes e 3,5 milhões de volumes fichados. Infelizmente, nenhuma biblioteca brasileira associou seu catálogo ao projeto.
Chega-se ao acervo passando-se "I see dead people's books" no Google. (Às vezes, a página de Thomas Jefferson encrenca.)


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