São Paulo, segunda-feira, 27 de julho de 2009

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Grampo liga Sarney a dono de empreiteira investigado pela PF

Em gravação, empresário responsável por obra sob suspeita no Amapá diz que está indo à casa do senador; ele nega tê-lo recebido

Em outra conversa, Zuleido Veras, que foi preso durante a Operação Navalha, diz que a ampliação do aeroporto de Macapá "é obra de Sarney"


Erich Macias/Folha Imagem
Obra no aeroporto de Macapá, pela qual Sarney trabalhou

HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em diálogos até agora inéditos, captados pela Polícia Federal com autorização judicial, o empreiteiro Zuleido Veras diz que não faltaria dinheiro para um empreendimento em Macapá porque "é obra de Sarney". Em uma outra conversa, em Brasília, Zuleido diz que já estava chegando à casa do senador.
Dono da construtora Gautama, Zuleido foi o principal alvo da Operação Navalha, deflagrada em abril de 2007 para investigar fraudes em licitações de obras públicas. Ele foi preso ao lado de executivos e lobistas da empreiteira, indiciado por formação de quadrilha, corrupção e tráfico de influência e denunciado pelo Ministério Público. Por meio de sua assessoria, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), negou o conteúdo das gravações e disse que nunca recebeu Zuleido em sua casa.
As interceptações são de julho e agosto de 2006. Na época, a construtora de Zuleido ampliava o aeroporto de Macapá. Trata-se da principal obra pela qual Sarney se empenhou no Amapá, Estado pelo qual foi reeleito em 2006.
Obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) orçada em R$ 112 milhões, a ampliação do aeroporto de Macapá é alvo de outro inquérito, aberto em junho. A PF apura sobrepreço de R$ 17 milhões na obra, que era tocada pela Gautama e pela construtora Beter. Já tinha vindo a público menções ao envolvimento da família Sarney com Zuleido. Já se sabia, por exemplo, de referências à governadora Roseana Sarney (MA) e conversas gravadas entre o empreiteiro e Ernane Sarney, irmão do senador.
No entanto, não havia até agora um elemento que ligasse diretamente Zuleido a Sarney. Em 4 de julho de 2006, o empreiteiro fala com uma pessoa identificada pela PF apenas como Mauro Viegas. Ele afirma a Zuleido que está "uma turma aqui, o José Alcure [sem identificação no relatório], que vai estar em Brasília até amanhã sobre o assunto lá do Macapá, que você é o titular daquela coisa lá que está devagar".
"Tem uma porção de boatos. Aí eu botei lá, mobilizei minha turma mês e pouco atrás, achando que a coisa ia e a coisa está ali naquele marasmo", reclama Viegas. "De concreto hoje mesmo parece que tem dez pratas pra gastar para todo mundo até dezembro", diz.
Zuleido o tranquiliza: "Acho que vai ser resolvido. (...) Com certeza, porque aquele negócio ali é obra de Sarney, não é um negócio que está solto, não". Já no dia 9 de agosto de 2006, Zuleido diz às 17h33 que vai "chegar à casa do Sarney já, já". Naquele dia ele estava em Brasília e três horas antes havia marcado um encontro com uma pessoa que a PF identifica como Ernane -este é o nome do irmão de Sarney.
Há ainda uma terceira conversa envolvendo Sarney. Em julho de 2006, a diretora comercial da Gautama, Maria de Fátima Palmeira, fala com um homem identificado pela PF como "José Ricardo". Ele diz que no momento da conversa estava no "gabinete do presidente Sarney" em Brasília e que viajaria depois "com o presidente". "Vou no avião dele."

Ouça a gravações feitas pela Polícia Federal

www.folha.com.br/092072


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