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Grampo liga Sarney a dono de empreiteira investigado pela PF
Em gravação, empresário responsável por obra sob suspeita no Amapá diz que está indo à casa do senador; ele nega tê-lo recebido
Em outra conversa, Zuleido Veras, que foi preso durante a Operação Navalha, diz que a ampliação do aeroporto de Macapá "é obra de Sarney"
Erich Macias/Folha Imagem
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Obra no aeroporto de Macapá, pela qual Sarney trabalhou
HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em diálogos até agora inéditos, captados pela Polícia Federal com autorização judicial, o
empreiteiro Zuleido Veras diz
que não faltaria dinheiro para
um empreendimento em Macapá porque "é obra de Sarney".
Em uma outra conversa, em
Brasília, Zuleido diz que já estava chegando à casa do senador.
Dono da construtora Gautama, Zuleido foi o principal alvo
da Operação Navalha, deflagrada em abril de 2007 para investigar fraudes em licitações de
obras públicas. Ele foi preso ao
lado de executivos e lobistas da
empreiteira, indiciado por formação de quadrilha, corrupção
e tráfico de influência e denunciado pelo Ministério Público.
Por meio de sua assessoria, o
presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), negou o
conteúdo das gravações e disse
que nunca recebeu Zuleido em
sua casa.
As interceptações são de julho e agosto de 2006. Na época,
a construtora de Zuleido ampliava o aeroporto de Macapá.
Trata-se da principal obra pela
qual Sarney se empenhou no
Amapá, Estado pelo qual foi
reeleito em 2006.
Obra do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento)
orçada em R$ 112 milhões, a
ampliação do aeroporto de Macapá é alvo de outro inquérito,
aberto em junho. A PF apura
sobrepreço de R$ 17 milhões na
obra, que era tocada pela Gautama e pela construtora Beter.
Já tinha vindo a público
menções ao envolvimento da
família Sarney com Zuleido. Já
se sabia, por exemplo, de referências à governadora Roseana
Sarney (MA) e conversas gravadas entre o empreiteiro e Ernane Sarney, irmão do senador.
No entanto, não havia até
agora um elemento que ligasse
diretamente Zuleido a Sarney.
Em 4 de julho de 2006, o empreiteiro fala com uma pessoa
identificada pela PF apenas como Mauro Viegas. Ele afirma a
Zuleido que está "uma turma
aqui, o José Alcure [sem identificação no relatório], que vai estar em Brasília até amanhã sobre o assunto lá do Macapá, que
você é o titular daquela coisa lá
que está devagar".
"Tem uma porção de boatos.
Aí eu botei lá, mobilizei minha
turma mês e pouco atrás,
achando que a coisa ia e a coisa
está ali naquele marasmo", reclama Viegas. "De concreto hoje mesmo parece que tem dez
pratas pra gastar para todo
mundo até dezembro", diz.
Zuleido o tranquiliza: "Acho
que vai ser resolvido. (...) Com
certeza, porque aquele negócio
ali é obra de Sarney, não é um
negócio que está solto, não".
Já no dia 9 de agosto de 2006,
Zuleido diz às 17h33 que vai
"chegar à casa do Sarney já, já".
Naquele dia ele estava em Brasília e três horas antes havia
marcado um encontro com
uma pessoa que a PF identifica
como Ernane -este é o nome
do irmão de Sarney.
Há ainda uma terceira conversa envolvendo Sarney. Em
julho de 2006, a diretora comercial da Gautama, Maria de
Fátima Palmeira, fala com um
homem identificado pela PF
como "José Ricardo". Ele diz
que no momento da conversa
estava no "gabinete do presidente Sarney" em Brasília e que
viajaria depois "com o presidente". "Vou no avião dele."
Ouça a gravações feitas
pela Polícia Federal
www.folha.com.br/092072
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