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RAZÃO DE VOTO
Democratizando o tracking
MAURO FRANCISCO PAULINO
De uso comum nas campanhas
e entre grandes investidores, o
chamado "tracking" eleitoral telefônico é uma das técnicas de
pesquisas cuja demanda mais
cresceu nesta eleição. Tornou-se
arma decisiva não só na disputa
entre os candidatos, mas principalmente na arena financeira onde informação privilegiada vale
ouro. Faltava estender esse privilégio a todos.
O Datafolha sugeriu e a Folha
aceitou a empreitada de divulgar
números diários de uma pesquisa
contínua a ser realizada nos dias
seguintes à transmissão do horário eleitoral dos presidenciáveis.
O foco do estudo é acompanhar a
avaliação do horário eleitoral e o
impacto deste na imagem de cada
candidato ao longo da campanha. É uma novidade na cobertura das eleições e uma referência a mais para auxiliar a análise do
processo eleitoral.
Como vem sendo explicitado
nas publicações, e não é demais
repetir, há limites na pesquisa
que devem ser considerados, todos referentes ao restrito universo
representado na amostra: eleitores com linha fixa de telefone na
residência, o que corresponde a
cerca de 54% do eleitorado. Trata-se de um segmento mais escolarizado, com renda mais alta e mais concentrado no Sudeste. São
também eleitores mais inseridos
na população economicamente
ativa. Os números do rastreamento, portanto, devem ser vistos
com reservas e só adquirem sentido quando comparados entre si.
É até curioso ver como se comportam as taxas de intenção de
voto nesse universo restrito. Mudanças ocorridas aí podem se refletir no restante do eleitorado.
Mas isso não é regra. É comum,
nas campanhas, o desenvolvimento de modelos estatísticos de
ponderação que aproximam os
resultados do tracking aos das
pesquisas tradicionais. Mas não é
essa a proposta do Datafolha.
Nesse caso servem mais como referencial para a análise dos atributos de cada candidato apenas
no segmento representado.
A primeira semana de rastreamento já dá alguns indícios de como o eleitor está captando determinados aspectos das campanhas. Na edição de domingo a
Folha revelou os índices de imagem positiva de cada candidato e
de avaliação de suas propagandas, com foco nos pontos fortes.
Vale observar alguns aspectos, revelados pelo rastreamento, e que
podem resultar em ajustes a serem acompanhados na comunicação nos próximos dias.
As propagandas de Lula, por
exemplo, são apontadas como as
mais emocionantes e comoventes,
além de propagar a imagem de
um candidato corajoso, mas o petista apresenta taxas inferiores à
sua intenção de voto em atributos
como simpatia e modernidade.
Ciro, apesar de mostrar um desempenho mais homogêneo em
todos os itens avaliados, tem o
percentual mais baixo nos tópicos
confiabilidade e equilíbrio emocional. Em relação a Serra, apesar
de sua propaganda ser indicada
como a mais bem produzida, não
tem transmitido a idéia de ser um
candidato corajoso. Garotinho,
mesmo sendo considerado simpático, não passa a imagem de líder
e capacitado para resolver problemas econômicos, sempre segundo
os entrevistados.
Possíveis reflexos desses resultados só poderão ser apurados pelas
pesquisas de intenção de voto junto ao total do eleitorado. Até porque não é possível inferir, apenas
com números do rastreamento,
como os eleitores sem telefone vão
decodificar essa primeira semana
de horário eleitoral. Mas são informações que já não estão restritas aos estrategistas de campanhas e do mercado financeiro.
MAURO FRANCISCO PAULINO, diretor-geral do Datafolha, escreve às terças-feiras nesta coluna
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