São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 2002

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RAZÃO DE VOTO

Democratizando o tracking

MAURO FRANCISCO PAULINO

De uso comum nas campanhas e entre grandes investidores, o chamado "tracking" eleitoral telefônico é uma das técnicas de pesquisas cuja demanda mais cresceu nesta eleição. Tornou-se arma decisiva não só na disputa entre os candidatos, mas principalmente na arena financeira onde informação privilegiada vale ouro. Faltava estender esse privilégio a todos.
O Datafolha sugeriu e a Folha aceitou a empreitada de divulgar números diários de uma pesquisa contínua a ser realizada nos dias seguintes à transmissão do horário eleitoral dos presidenciáveis. O foco do estudo é acompanhar a avaliação do horário eleitoral e o impacto deste na imagem de cada candidato ao longo da campanha. É uma novidade na cobertura das eleições e uma referência a mais para auxiliar a análise do processo eleitoral.
Como vem sendo explicitado nas publicações, e não é demais repetir, há limites na pesquisa que devem ser considerados, todos referentes ao restrito universo representado na amostra: eleitores com linha fixa de telefone na residência, o que corresponde a cerca de 54% do eleitorado. Trata-se de um segmento mais escolarizado, com renda mais alta e mais concentrado no Sudeste. São também eleitores mais inseridos na população economicamente ativa. Os números do rastreamento, portanto, devem ser vistos com reservas e só adquirem sentido quando comparados entre si.
É até curioso ver como se comportam as taxas de intenção de voto nesse universo restrito. Mudanças ocorridas aí podem se refletir no restante do eleitorado. Mas isso não é regra. É comum, nas campanhas, o desenvolvimento de modelos estatísticos de ponderação que aproximam os resultados do tracking aos das pesquisas tradicionais. Mas não é essa a proposta do Datafolha. Nesse caso servem mais como referencial para a análise dos atributos de cada candidato apenas no segmento representado.
A primeira semana de rastreamento já dá alguns indícios de como o eleitor está captando determinados aspectos das campanhas. Na edição de domingo a Folha revelou os índices de imagem positiva de cada candidato e de avaliação de suas propagandas, com foco nos pontos fortes. Vale observar alguns aspectos, revelados pelo rastreamento, e que podem resultar em ajustes a serem acompanhados na comunicação nos próximos dias.
As propagandas de Lula, por exemplo, são apontadas como as mais emocionantes e comoventes, além de propagar a imagem de um candidato corajoso, mas o petista apresenta taxas inferiores à sua intenção de voto em atributos como simpatia e modernidade. Ciro, apesar de mostrar um desempenho mais homogêneo em todos os itens avaliados, tem o percentual mais baixo nos tópicos confiabilidade e equilíbrio emocional. Em relação a Serra, apesar de sua propaganda ser indicada como a mais bem produzida, não tem transmitido a idéia de ser um candidato corajoso. Garotinho, mesmo sendo considerado simpático, não passa a imagem de líder e capacitado para resolver problemas econômicos, sempre segundo os entrevistados.
Possíveis reflexos desses resultados só poderão ser apurados pelas pesquisas de intenção de voto junto ao total do eleitorado. Até porque não é possível inferir, apenas com números do rastreamento, como os eleitores sem telefone vão decodificar essa primeira semana de horário eleitoral. Mas são informações que já não estão restritas aos estrategistas de campanhas e do mercado financeiro.


MAURO FRANCISCO PAULINO, diretor-geral do Datafolha, escreve às terças-feiras nesta coluna



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