São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2004

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CAMPO MINADO

Movimento tem cerca de 20 mil pessoas cadastradas, mas, ao contrário do MST, atua somente no Estado

MLT controla 71 propriedades na Bahia

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMAÇARI (BA)

Sem a mesma infra-estrutura do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), um grupo criado por quatro irmãos no sul da Bahia já controla 71 propriedades em todo o Estado -30 legalizadas (assentamentos) e 41 acampamentos, à espera da desapropriação.
Fundado em março de 1991, o MLT (Movimento de Luta pela Terra) ficou mais conhecido no começo da semana, durante um confronto entre seguranças de uma fazenda e integrantes do movimento, em Camaçari (região metropolitana de Salvador). No total, 60 pessoas ficaram feridas e 72 foram presas (todos funcionários da propriedade). Uma moto e dois carros foram incendiados.
Ao contrário do MST, que tem abrangência nacional, o MLT atua somente na Bahia. "Já temos 5.000 famílias [cerca de 20 mil pessoas] cadastradas", disse Damião Muniz da Silva, 34, um dos fundadores do movimento. No Estado da Bahia, seu rival MST possui 35 mil famílias cadastradas (140 mil pessoas), controla 75 assentamentos e 50 acampamentos.
Até 1990, Silva militava no MST. "Depois de algumas ações, percebi que o MST era um movimento basicamente político, dirigido por petistas. Como não concordava com os métodos empregados pelo grupo, acabei sendo expulso."
A Agência Folha procurou as principais lideranças do MST na Bahia para saber os motivos que levaram o movimento a expulsar Silva. De acordo com funcionários do movimento, todos os líderes estavam participando de um seminário em Goiânia e não poderiam ser interrompidos. Nas reuniões, os telefones celulares dos dirigentes ficam desligados.
Depois que saiu do MST, Damião Silva e seus irmãos Cosme e Etevaldo (já mortos) e Edivaldo fundaram o MDS (Movimento dos Desempregados do Sul da Bahia). Finalmente, em março de 1991, em Itamaraju (BA), surgiu o MLT. A primeira invasão realizada pelo movimento aconteceu dois meses depois, em Ilhéus (429 km ao sul de Salvador).
Casado, com uma filha, Damião Silva estudou até a 3ª série do ensino fundamental. Desempregado desde que passou a coordenar o MLT, Silva diz que sobrevive basicamente do salário de R$ 500 que sua mulher recebe.
Ele já esteve preso por 14 meses, acusado de assalto a banco e formação de quadrilha. No final de 2001, em Aporá (BA), Silva ficou detido por duas horas após um assalto a uma agência bancária.
Sem advogado, Silva, que alega inocência, disse que ficou preso em Inhambupe (BA) e Salvador e libertado por falta de provas.
Antes de invadir uma propriedade, o MLT promove pelo menos cinco reuniões com as famílias cadastradas na região. Nos encontros, a coordenação define o número de famílias que vão ingressar na área e o plano de ação.
Nos acampamentos e assentamentos, as assembléias, que são diárias, são o momento de confraternização entre os sem-terra. Ao som de músicas, os agricultores prestam contas à coordenação e planejam novas invasões. "Já chega de tanto sofrer, de tanto apanhar, a luta vai ser difícil. Na lei ou na marra, vamos ganhar", cantaram os sem-terra durante a invasão da fazenda Monte Cristo, em Camaçari, enquanto planejavam mais três ações no Estado.


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